quinta-feira, 29 de novembro de 2018
Começou por brincar com a farda do guarda suíço que se encontrava perto do Papa. Depois, rodeou Francisco, que procurou brincar com ele. Sempre esquivo, e perante a sua dificuldade em colaborar com os seguranças, a mãe da criança dirigiu-se ao Papa, explicando que o seu filho, Wenzel Eluney, é autista e mudo, como que em jeito de desculpa pelo seu comportamento.
Foi na audiência geral do Papa desta quarta-feira, 28, quando a criança saiu de junto da mãe e subiu os degraus do auditório Paulo VI, provocando pequenos constrangimentos, primeiro, gargalhadas e aplausos, depois. Wenzel é argentino, o que levou o Papa a dizer, para o seu secretário: “É argentino, é indisciplinado.”
Perante o sucedido, Francisco disse à mãe que deixasse o filho estar por ali a brincar, aproveitando para transformar o sucedido numa lição: “Este menino não fala, é mudo. Mas sabe expressar-se e, mais do que isso, é livre. Indisciplinadamente livre”, provocando novos risos na plateia. E recordando, a propósito, que Jesus afirmava que “devemos ser livres como as crianças”.
Esta não é a primeira vez que o Papa argentino tem visitas inesperadas de crianças, a interrompê-lo nos seus discursos ou homilias. Em 2013, um colombiano de seis anos chamou a atenção durante uma vigília, sentando-se no lugar de Francisco e chegando mesmo a abraçá-lo:
Falta informação sobre a deficiência
Alice Caldeira Cabral, responsável do Movimento Fé e Luz, que trabalha com crianças, jovens e adultos com deficiência, foi, ela própria, mãe de um rapaz que morreu há dez anos, e que tinha “uma deficiência profunda, apesar de na altura não se falar de autismo – o diagnóstico era só epilepsia”.
Depois de ter visto as imagens, Alice Cabral diz que é urgente levar em conta as palavras do Papa. E louva a sua reação espontânea de alegria perante a situação – algo que, diz, continua a ser muito pouco comum na sociedade portuguesa e também no interior da Igreja.
“O meu filho também tinha uma liberdade muito indisciplinada. Era exatamente isso que acontecia e a aflição da mãe é algo que conheço bem. Os nossos filhos não são disciplináveis. E, de facto, uma das coisas mais pesadas para nós é o olhar de comiseração ou de crítica daqueles que não entendem a diferença.”
Alice Cabral destaca que, em Portugal, é “impressionante” que não haja estudos que relacionem a teologia e a experiência cristã com a deficiência. O Serviço Pastoral para Pessoas com Deficiência, que também integra, participa em alguns iniciativas internacionais mas não consegue criar grande interesse das comunidades cristãs pela questão. “Não tenho dúvidas de que o Papa está muito bem informado acerca das questões da deficiência e de como as acolher socialmente. Porque, se não houver informação, é muito difícil que os olhares mudem.”
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