Caminhava pelo jardim num dia
frio e chuvoso de outono imbuída de pensamentos sobre as injustiças que se cometem
hoje em dia, sobre as diferentes guerras existentes, sobre os refugiados, sobre
os grupos mais vulneráveis que não têm voz nem podem exercer os seus direitos.
O mundo às vezes parece que não observa convenientemente o que se passa ao seu
redor. Uns exercem greve para reivindicar os seus direitos, os aumentos
salariais, progressão na carreira, melhores condições de trabalho e de vida.
Não questiono de modo algum as suas razões. É justo querer evoluir, poder
melhorar o poder de compra, fazer face aos compromissos adquiridos.
Mas, sim, questiono a condição dos
que não têm voz, dos que, por se encontrarem desempregados, com condições de
vida precária, excluídos, marginalizados, com problemas de saúde, talvez em
piores condições, não terem um sindicato que vele pela defesa da melhoria das
suas condições de vida, por um melhor acesso ao sistema nacional de saúde, pela
educação, por uma habitação condigna, pelo direito ao trabalho, enfim pela
defesa dos direitos humanos. Sinto-me, de algum modo, tão impotente como a
folha seca abandonada ao seu destino talvez aguardando uma rajada de vento que
a possa levar ou um jardineiro que a coloque no lixo. Disse lixo? Onde se
encontra a dignidade do ser humano? Hum… O que será que diz a Declaração Universal
dos Direitos do Homem pela qual nos regemos todos, ou não, quem sabe? Afinal,
quem é responsável pela sua implementação? Em abono da verdade diga-se de
passagem que não sei. Julgava que era o governo e que por uma questão de
solidariedade, eramos todos nós, que nos encontramos tão submersos com tanta
agitação ao nosso redor que nos distraímos um pouco dos problemas reais. Lá diz
o ditado: “Muita parra, pouca uva”. Ou será uma fuga às reais necessidades de
quem carece de apoio? Ou ainda será o deus dinheiro que comanda a vida? Chove
agora recordando um pouco as lágrimas de quem sofre. Ao meu pensamento veio o
artigo 25º da referida Declaração: “Toda a pessoa tem direito a um nível de
vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar,
principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência
médica e ainda aos serviços sociais necessários…à segurança, no desemprego, na
doença, na invalidez, na viuvez, noutros casos de perda de meios de
subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade”. Afinal, não
tenho com que me preocupar, os direitos encontram-se todos consagrados! Andei
mais um pouco. Um senhor veio ter comigo. Não tinha ar de pedinte, mas no
entanto veio-me confidenciar que tinha a mulher muito doente, que se encontrava
desempregado, que já não tinha direito ao subsídio de desemprego. O que agora
auferia dos serviços sociais era manifestamente insuficiente para fazer face
aos problemas com os quais se confrontava. Também face à sua idade não
conseguia um trabalho decente, acrescentando que também tinha de apoiar a sua
mulher doente em fase terminal. Meu Deus, há pessoas com vidas muito
complicadas. Bem, seja como for, teve o condão de me fazer aperceber da
necessidade de continuarmos a lutar em prol da defesa das pessoas com
diferentes necessidades, com origem nas múltiplas situações já mencionadas. S. Josemaria
no ponto 826 Caminho referiu: “Tudo aquilo em que intervimos é um tecido de
pequenas coisas, que conforme a intenção com que se fazem podem formar uma
tapeçaria esplêndida de heroísmo ou de baixeza”.
O sol, entretanto, surgiu um
pouco envergonhado. Resolvi regressar ao banco do jardim para ver se a folha
seca que parecia uma estrela ainda se encontrava aí. Ainda estava, agora linda,
brilhante, dourada, graças aos raios de sol que surgiam entre as nuvens. Tinha
ganho vida. Parecia recordar a estrela de Natal, indicando o local onde se
encontrava o Menino Jesus no regaço de sua Mãe. Recordo as palavras de S.
Paulo: “Que o Deus da esperança vos encha plenamente de alegria e de paz para
que transbordeis de esperança”.
Termino este artigo com a
esperança de que sejamos semeadores de paz e de alegria em prol da defesa dos
direitos humanos de quem mais carece, nas inúmeras situações com as quais nos
confrontamos hoje em dia. Se todos dermos o nosso contributo solidário, um dia
existirão menos excluídos na sociedade.
Maria Helena Paes |
Sem comentários:
Enviar um comentário