E agora o fim está próximo
Então eu encaro a cortina final
Meu amigo, eu vou falar claro
Eu irei expor meu caso do qual tenho certeza
Estes
versos são uma tradução livre do início da letra da canção “My Way”, imortalizada na voz de Frank
Sinatra. Trata-se de um balanço de vida, de alguém que se aproxima do fim. A
música é de fato muito bonita e a maioria das pessoas no Brasil a entoa como
algo romântico, sem ter ideia do contexto. Conheci uma pessoa que casou ao som
desta música, cuja letra está mais para reclame de pau d´água em fim de feira do
que para o sacramento sublime do casamento.
Dias
atrás, lendo a obra “Poder global e
religião universal”, passei a suspeitar que esta relação enganadora de
letra e música pode estar se repetindo num casamento muito particular: o da
humanidade com seu futuro. E ela, a humanidade, pode estar cantando, enlevada
pela sedução da música, uma letra que sequer suspeita. Casualmente, naquela
mesma semana, conversei sobre Natal com uma pessoa que se revelou nada crente
na divindade de Cristo. Semicerrando um dos olhos, franzindo o nariz,
comprimindo os lábios e balançando a cabeça, teve o dom de colocar tudo sob
suspeição. Depois me disse que não acreditava nos milagres, na concepção
virginal e muito menos na Ressurreição, atribuindo tudo à arte da mistificação.
Devo
confessar que sempre me surpreende a apostasia, ainda que dissimulada e lenta,
de nosso tempo. Apostasia que encontra nos incautos a convicção de que tudo que
é antigo deve ser atualizado, deitando por terra o que foi professado pelos
homens da história antiga. Negando tudo que aos homens da Idade Média serviu,
reprovando a pregação imanente da história moderna. Como se a modernidade e
seus avanços tecnológicos fossem um antídoto para os valores transcendentes e
imutáveis que nos foram transmitidos pela Revelação. Como se a fé e a
inteligência fossem coisas inconciliáveis. Como se ela, a fé, fosse o produto
número um da ignorância e das trevas do conhecimento, à espera da degola pelo
alfanje da razão.
Como Ulisses, é preciso que
os homens de hoje se amarrem no mastro da nau cristã para não se deixarem
seduzir pelas sereias do indiferentismo religioso, do panteísmo redivivo, da
religião sem dogmas, do relativismo, do sincretismo religioso, do
igualitarismo, do paganismo, do moralismo político e da ditadura do
politicamente correto, que nos leva à covardia de “nas decisões de consciência preferir a boa fama, ou a segurança do
trabalho estável, ou o ganho político”, como escreveu Spaemann em “La perversa teoria del fin bueno”.
Chegamos
a tal ponto que a espécie humana já foi até mesmo denominada parasita da Terra,
afirmação esta que tenta subverter a ordem da Criação. Como pode ser parasita a
criatura feita à imagem e semelhança de Deus? Há quem suspeite que nada disto
acontece gratuitamente. Haveria uma orquestração mundial que - com o objetivo
de legalizar o aborto, a eutanásia, a perspectiva de género e outros tópicos
contrários à verdade cristã,- estimularia a construção de outra igreja, uma caricatura
a serviço da Nova Ordem Mundial. Uma religião a serviço do poder, tremulando a
bandeira de uma nova ética global que será o alicerce de um projeto político de
dominação mundial, sob o mantra de que devem ser combatidos o fanatismo e a
intolerância.
A
essência deste drama, que já estamos vivendo, é a condução da humanidade ao patamar
raso em que viverá, como se Deus não existisse. O pragmatismo do controle
populacional terá a motivação de gerar adultos saudáveis e produtivos, mascarando
uma eugenia digna do nazismo.
Doentes crónicos ou portadores de síndromes terão consultas, medicamentos e cuidados
diminuídos. Como disse Hiroshi Nakajima, então diretor geral da Organização
Mundial da Saúde, “a ética judaico-cristã
não poderá ser aplicada no futuro”. O plano da Nova Ordem Mundial está em
curso e representa o maior perigo para a Igreja desde o século IV, quando,
segundo São Jerónimo, “o mundo dormiu
cristão e, com um gemido, acordou ariano”.
O
Natal é um belo momento para lembrar aos homens seu tesouro maior, o Menino
Jesus, adorado na manjedoura, símbolo de humildade que aos soberbos intriga. É
hora de deixar os símbolos pagãos de
lado e de prestar mais atenção na letra que cantamos e não apenas na música que
inebria.
J. B. Teixeira |
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