No
livro de memórias de Rafael Llano Cifuentes, publicado pela editora brasileira
“Quadrante” com o título “Mar Adentro”, o autor recorda o momento em que
recebeu uma carta do núncio apostólico no Brasil. Aproximava-se o carnaval de
1990 e, há já algum tempo, corriam rumores de que seria nomeado bispo. Temendo
essa possibilidade, e passo a citá-lo: “pareceu-me
conveniente comunicá-lo ao Prelado da Obra (o Opus Dei), D. Álvaro del
Portillo, para que me desse uma orientação adequada. Numa carta, eu dizia a D.
Álvaro que diante daqueles rumores sentia-me preocupado e perplexo: se essa
possibilidade se concretizasse, a minha primeira opção seria a de recusar...”
Na resposta, D. Álvaro “agradeceu a minha
disponibilidade para aceitar qualquer opção e concluiu dizendo-me textualmente:
Tens toda a liberdade para dizer sim.”
A questão seguinte, aquela que todos
nós nos colocamos perante situações semelhantes, veio logo à mente de D.
Rafael: “...mas será que tenho a
liberdade para dizer não?”
A noção mais generalizada de
liberdade costuma residir apenas nisto: poder responder sim ou não. Mas a
realidade é bem mais profunda tal como este facto nos leva a compreender. Na
vida de todas as pessoas surgem sempre momentos de uma transcendência tal que sobrevém
o receio a comprometer-se. A liberdade traz consigo esta componente: a da
responsabilidade. Cada sim significa aceitar o compromisso
de grandes empresas, por vezes heroicas, embora pareçam normais e escondidas,
como é o caso do casamento, a generosidade no tempo de estudo para poder servir
melhor na profissão, a coragem no atendimento a familiares doentes ou idosos...
No caso de D. Rafael Llano
Cifuentes, quer D. Álvaro, quer o Papa S. João Paulo II, aquele que o nomeou
bispo, conheciam a sua preparação e a sua capacidade de levar a bom termo as
tarefas a que se comprometia realizar. Depois de rezar muito, e confiando na
intercessão da Virgem Maria, a Senhora do sim, decidiu entregar-se à vontade de
Deus e aceitou a nomeação de Bispo Auxiliar da Arquidiocese de S. Sebastião do
Rio de Janeiro.
As figuras do Menino Jesus, de Nossa
Senhora e de S. José, no Presépio, são inspiradoras de novos compromissos, de
novos sins, de corajosas manifestações do exercício da liberdade.
Termino este artigo com uma citação
que D. Rafael recorda do livro “Viaje al Centro del Hombre” : “Vale mais propor-se a meta da excelência e
não atingi-la, do que a da mediocridade e alcançá-la”.
Isabel
Vasco Costa
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