Organizações católicas da Espanha pedem retomada de políticas para os menos privilegiados
Madrid, 17 de Abril de 2015 (Zenit.org)
Em uma vigília de oração celebrada nesta quinta-feira à
noite na igreja de Nossa Senhora de Guadalupe de Madrid, a Conferência
Espanhola de Religiosos (CONFER), a Cáritas e as organizações Justicia y
Paz, Manos Unidas e Redes pediram que os responsáveis políticos e os
agentes sociais nacionais e internacionais adoptem medidas “em prol de um
desenvolvimento social realmente humano que acabe com a desigualdade e
com a injustiça sofrida pelos mais vulneráveis”.
As entidades alertaram sobre o risco real de que as vítimas da
“cultura do descarte”, denunciada pelo papa Francisco, permaneçam à
margem da agenda internacional de desenvolvimento, depois de já terem
ficado de fora dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.
É o terceiro ano consecutivo que acontece a iniciativa “Enlázate por
la Justicia”, criada por essas organizações. Durante o ato litúrgico,
elas fizeram “um apelo urgente à responsabilidade de todos, para que
acompanhemos os mais vulneráveis, os últimos, os excluídos do actual
sistema”.
A vigília destacou cinco caminhos trilhados hoje por milhares de
pessoas que sofrem: “a exclusão do acesso à terra, a migração, a
perseguição, o tráfico humano e a fome. Com o trabalho conjunto e o
compromisso compartilhado pela transformação do mundo, podemos encher
estes caminhos de esperança”.
Antes da entrada na igreja para a vigília, leu-se no átrio a seguinte declaração:
Mensagem das Organizações Católicas de Cooperação para o Desenvolvimento
As Organizações Católicas de Cooperação para o Desenvolvimento
(Caritas, Manos Unidas, Justicia y Paz, REDES e CONFER) querem
compartilhar com as comunidades cristãs e com toda a sociedade o desejo
de “anunciar a boa nova aos que sofrem, proclamar a libertação aos
cativos e a liberdade aos prisioneiros e proclamar o ano da graça do
Senhor”.
Nós, organizações que desde 2013 unem esforços na iniciativa Enlázate
por la Justicia a fim de dar razão da nossa visão fraterna da
Cooperação para o Desenvolvimento a partir de um Cristo comprometido com
os pobres e mobilizar a todos na defesa da justiça global, dos direitos
humanos e da dignidade das pessoas mais vulneráveis, dirigimos o nosso
olhar para a escandalosa realidade de desigualdade e pobreza que ainda
afecta numerosos países e regiões de todo o mundo, nas quais estamos
presentes.
Chamamos a atenção, portanto, para o significado decisivo que tem
para todos nós este ano de 2015, cheio de acontecimentos importantes que
afectam as pessoas mais vulneráveis da Espanha e do mundo.
Em primeiro lugar, completam-se duas décadas desde que a sociedade
espanhola passou a exigir o investimento de 0,70% do Produto Interno
Bruto (PIB) em programas de ajuda ao desenvolvimento; hoje é dedicado
apenas 0,16%, com a queda orçamental que afecta a cooperação
internacional do nosso país, sem igual em nenhum outro país doador.
Em segundo lugar, expira em 2015 o prazo que os países membros da ONU
estabeleceram no ano 2000 para atingir os oito Objectivos de
Desenvolvimento do Milénio (ODM): erradicar a pobreza extrema e a fome;
universalizar o ensino primário; promover a igualdade entre os sexos e a
emancipação da mulher; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde
materna; combater o HIV/aids, a malária e outras enfermidades; garantir
a sustentabilidade do meio ambiente; fomentar uma aliança mundial para o
desenvolvimento.
Nossas entidades e comunidades de Igreja contribuíram com toda a sua
rica experiência, recursos e capacidades para progredir nesse
compromisso. E, mesmo com alguns avanços, ainda são muitos os nossos
irmãos à margem desses objectivos. Mais ainda: nos últimos anos,
consolidou-se um modelo global de desenvolvimento que gera o que o papa
Francisco define como “cultura do descarte”, que expulsa milhares de
milhões de seres humanos para condições de desigualdade crescente e de
negação de direitos sociais básicos. Enquanto isso, quem mais tem
continua acumulando cada vez mais riqueza, e exibindo-a.
A partir da nossa identidade cristã e como membros de uma Igreja que,
“guiada pelo Evangelho da misericórdia e pelo amor ao homem, escuta o
clamor por justiça e quer responder a ele com todas as suas forças”
(Evangelii Gaudium, 188), queremos compartilhar com os nossos irmãos,
membros de uma só família humana, a nossa resposta renovada à pergunta
que Deus Pai nos lança: “Onde está o teu irmão?” (Gen, 3,9).
Propomos, para tanto, prosseguir compartilhando a tarefa inadiável de
acompanhar os mais vulneráveis, todos esses irmãos descartados na
corrida do desenvolvimento que vão ficar de novo à margem dos objectivos
de crescimento identificados na agenda com que a comunidade
internacional prepara o pós-2015.
Convocamos a todos, também, a participarem de uma tarefa colectiva de
responsabilidade para denunciar as condições de desigualdade e de
injustiça que afectam as pessoas que acompanhamos e a combater um modelo
desumanizado de economia baseada na exclusão e no máximo lucro, onde
crianças, idosos, mulheres, migrantes, enfermos e minorias étnicas e
religiosas são abandonados à própria sorte.
Encorajamos a todos a agirem nos seus espaços pessoais e comunitários
para transformar esta realidade dominada pelo consumo, pelo acumular de
bens e pelo individualismo mediante uma mudança de estilo de vida que os
torne mais austeros e abertos à solidariedade e à fraternidade perante
os direitos e a dignidade dos empobrecidos.
E propomos continuar trabalhando de maneira activa durante 2015 em
todos os âmbitos públicos de participação para reclamar dos responsáveis
políticos e agentes sociais, nacionais e internacionais, uma gestão
austera, transparente, eficaz e valente em favor das autênticas
prioridades de um projecto de desenvolvimento social realmente humano: a
luta contra a desigualdade e a injustiça e a promoção e protecção dos
direitos humanos dos mais vulneráveis.
É nosso dever exigir das Administrações Públicas o compromisso com o
Pacto de Estado assinado por todos os partidos políticos em Dezembro de
2007, recuperando a Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (AOD) que foi
desmantelada como política pública e que apresenta níveis de
solidariedade inferiores aos que havia vinte anos atrás.
Renovamos a nossa aposta em uma nova narrativa de desenvolvimento,
escrita na reciprocidade e na corresponsabilidade e na qual os
empobrecidos sejam os protagonistas. Recordamos que todos somos uma só
família humana: os nossos rostos reflectem a diversidade do mundo, mas
também uma idêntica esperança no futuro e uma sólida firmeza na defesa
da nossa dignidade e da dignidade das nossas famílias.
A Cáritas, a CONFER, a Justicia y Paz, a Manos Unidas e a Redes
contam com uma base social de mais 80.000 voluntários e 5.000
trabalhadores remunerados, junto com 47.000 religiosos e religiosas
pertencentes a 400 congregações espanholas, além de um volume de
recursos económicos superior a 130 milhões de euros anuais, investidos
nos vários projectos de desenvolvimento que se realizam em mais de uma
centena de países.
(17 de Abril de 2015) © Innovative Media Inc.
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