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sábado, 18 de abril de 2015

Objectivos do milénio precisam ser repensados depois de 2015

Organizações católicas da Espanha pedem retomada de políticas para os menos privilegiados


Madrid, 17 de Abril de 2015 (Zenit.org)


Em uma vigília de oração celebrada nesta quinta-feira à noite na igreja de Nossa Senhora de Guadalupe de Madrid, a Conferência Espanhola de Religiosos (CONFER), a Cáritas e as organizações Justicia y Paz, Manos Unidas e Redes pediram que os responsáveis políticos e os agentes sociais nacionais e internacionais adoptem medidas “em prol de um desenvolvimento social realmente humano que acabe com a desigualdade e com a injustiça sofrida pelos mais vulneráveis”.

As entidades alertaram sobre o risco real de que as vítimas da “cultura do descarte”, denunciada pelo papa Francisco, permaneçam à margem da agenda internacional de desenvolvimento, depois de já terem ficado de fora dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.

É o terceiro ano consecutivo que acontece a iniciativa “Enlázate por la Justicia”, criada por essas organizações. Durante o ato litúrgico, elas fizeram “um apelo urgente à responsabilidade de todos, para que acompanhemos os mais vulneráveis, os últimos, os excluídos do actual sistema”.

A vigília destacou cinco caminhos trilhados hoje por milhares de pessoas que sofrem: “a exclusão do acesso à terra, a migração, a perseguição, o tráfico humano e a fome. Com o trabalho conjunto e o compromisso compartilhado pela transformação do mundo, podemos encher estes caminhos de esperança”.

Antes da entrada na igreja para a vigília, leu-se no átrio a seguinte declaração:

Mensagem das Organizações Católicas de Cooperação para o Desenvolvimento
As Organizações Católicas de Cooperação para o Desenvolvimento (Caritas, Manos Unidas, Justicia y Paz, REDES e CONFER) querem compartilhar com as comunidades cristãs e com toda a sociedade o desejo de “anunciar a boa nova aos que sofrem, proclamar a libertação aos cativos e a liberdade aos prisioneiros e proclamar o ano da graça do Senhor”.

Nós, organizações que desde 2013 unem esforços na iniciativa Enlázate por la Justicia a fim de dar razão da nossa visão fraterna da Cooperação para o Desenvolvimento a partir de um Cristo comprometido com os pobres e mobilizar a todos na defesa da justiça global, dos direitos humanos e da dignidade das pessoas mais vulneráveis, dirigimos o nosso olhar para a escandalosa realidade de desigualdade e pobreza que ainda afecta numerosos países e regiões de todo o mundo, nas quais estamos presentes.

Chamamos a atenção, portanto, para o significado decisivo que tem para todos nós este ano de 2015, cheio de acontecimentos importantes que afectam as pessoas mais vulneráveis da Espanha e do mundo.

Em primeiro lugar, completam-se duas décadas desde que a sociedade espanhola passou a exigir o investimento de 0,70% do Produto Interno Bruto (PIB) em programas de ajuda ao desenvolvimento; hoje é dedicado apenas 0,16%, com a queda orçamental que afecta a cooperação internacional do nosso país, sem igual em nenhum outro país doador.

Em segundo lugar, expira em 2015 o prazo que os países membros da ONU estabeleceram no ano 2000 para atingir os oito Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM): erradicar a pobreza extrema e a fome; universalizar o ensino primário; promover a igualdade entre os sexos e a emancipação da mulher; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV/aids, a malária e outras enfermidades; garantir a sustentabilidade do meio ambiente; fomentar uma aliança mundial para o desenvolvimento.

Nossas entidades e comunidades de Igreja contribuíram com toda a sua rica experiência, recursos e capacidades para progredir nesse compromisso. E, mesmo com alguns avanços, ainda são muitos os nossos irmãos à margem desses objectivos. Mais ainda: nos últimos anos, consolidou-se um modelo global de desenvolvimento que gera o que o papa Francisco define como “cultura do descarte”, que expulsa milhares de milhões de seres humanos para condições de desigualdade crescente e de negação de direitos sociais básicos. Enquanto isso, quem mais tem continua acumulando cada vez mais riqueza, e exibindo-a.

A partir da nossa identidade cristã e como membros de uma Igreja que, “guiada pelo Evangelho da misericórdia e pelo amor ao homem, escuta o clamor por justiça e quer responder a ele com todas as suas forças” (Evangelii Gaudium, 188), queremos compartilhar com os nossos irmãos, membros de uma só família humana, a nossa resposta renovada à pergunta que Deus Pai nos lança: “Onde está o teu irmão?” (Gen, 3,9).

Propomos, para tanto, prosseguir compartilhando a tarefa inadiável de acompanhar os mais vulneráveis, todos esses irmãos descartados na corrida do desenvolvimento que vão ficar de novo à margem dos objectivos de crescimento identificados na agenda com que a comunidade internacional prepara o pós-2015.

Convocamos a todos, também, a participarem de uma tarefa colectiva de responsabilidade para denunciar as condições de desigualdade e de injustiça que afectam as pessoas que acompanhamos e a combater um modelo desumanizado de economia baseada na exclusão e no máximo lucro, onde crianças, idosos, mulheres, migrantes, enfermos e minorias étnicas e religiosas são abandonados à própria sorte.

Encorajamos a todos a agirem nos seus espaços pessoais e comunitários para transformar esta realidade dominada pelo consumo, pelo acumular de bens e pelo individualismo mediante uma mudança de estilo de vida que os torne mais austeros e abertos à solidariedade e à fraternidade perante os direitos e a dignidade dos empobrecidos.

E propomos continuar trabalhando de maneira activa durante 2015 em todos os âmbitos públicos de participação para reclamar dos responsáveis políticos e agentes sociais, nacionais e internacionais, uma gestão austera, transparente, eficaz e valente em favor das autênticas prioridades de um projecto de desenvolvimento social realmente humano: a luta contra a desigualdade e a injustiça e a promoção e protecção dos direitos humanos dos mais vulneráveis.

É nosso dever exigir das Administrações Públicas o compromisso com o Pacto de Estado assinado por todos os partidos políticos em Dezembro de 2007, recuperando a Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (AOD) que foi desmantelada como política pública e que apresenta níveis de solidariedade inferiores aos que havia vinte anos atrás.

Renovamos a nossa aposta em uma nova narrativa de desenvolvimento, escrita na reciprocidade e na corresponsabilidade e na qual os empobrecidos sejam os protagonistas. Recordamos que todos somos uma só família humana: os nossos rostos reflectem a diversidade do mundo, mas também uma idêntica esperança no futuro e uma sólida firmeza na defesa da nossa dignidade e da dignidade das nossas famílias.

A Cáritas, a CONFER, a Justicia y Paz, a Manos Unidas e a Redes contam com uma base social de mais 80.000 voluntários e 5.000 trabalhadores remunerados, junto com 47.000 religiosos e religiosas pertencentes a 400 congregações espanholas, além de um volume de recursos económicos superior a 130 milhões de euros anuais, investidos nos vários projectos de desenvolvimento que se realizam em mais de uma centena de países.

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