48ª Jornada Mundial da Paz: pontífice denuncia que milhões de pessoas ainda são privadas da liberdade e da dignidade
Cidade do Vaticano, 02 de Janeiro de 2015 (Zenit.org)
A mensagem do papa Francisco para a 48ª Jornada Mundial da
Paz, celebrada todo dia 1º de Janeiro, tem o título "Não mais escravos,
mas irmãos". No começo de um novo ano, o Santo Padre dirige, a cada
homem e mulher, aos povos e nações do mundo, aos chefes de Estado e de
governo e aos líderes das várias religiões, os seus melhores desejos de
paz e as suas orações pelo fim das guerras, dos conflitos e dos muitos
sofrimentos causados pelo homem ou por antigas e novas epidemias, assim
como pelos devastadores efeitos dos desastres naturais.
No texto, divulgado em 8 de Dezembro, o pontífice também promove a
abolição do "flagelo cada vez mais generalizado da exploração do homem
pelo homem", que "pisoteia os direitos fundamentais dos outros e
aniquila a sua liberdade e dignidade". Embora o direito de toda pessoa a
não ser submetida à escravidão nem à servidão seja reconhecido pelo
direito internacional como norma inderrogável, "ainda há milhões de
pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – privadas da
sua liberdade".
O papa se refere a "muitos trabalhadores e trabalhadoras, inclusive
menores, oprimidos de maneira formal ou informal em todos os sectores,
desde o trabalho doméstico até o sector da agricultura, desde a indústria
manufactureira até a mineração, tanto nos países em que a legislação
trabalhista não cumpre as mínimas normas e padrões internacionais
quanto, ainda que de maneira ilegal, nos países cuja legislação protege
os trabalhadores".
Francisco pensa também "nas condições de vida de muitos emigrantes
que, em sua dramática viagem, sofrem a fome, se vêem privados da
liberdade, despojados dos seus bens ou vitimados por abusos físicos e
sexuais"; "naqueles que são detidos em condições às vezes desumanas";
"nos que se vêem obrigados à clandestinidade por diferentes motivos
sociais, políticos e económicos"; "naqueles que aceitam viver e
trabalhar em condições inadmissíveis"; "nas pessoas obrigadas a exercer a
prostituição, entre as quais muitos menores, e nos escravos e escravas
sexuais"; "nas mulheres obrigadas a se casar, naquelas que são vendidas
para fins de matrimónio forçado e nas que são entregues como herança";
"nas crianças e adultos que são vítimas do tráfico e da comercialização
para extracção de órgãos, para ser recrutados como soldados, para a mendicidade, para actividades ilegais como a produção ou venda de drogas
ou para formas encobertas de adopção internacional"; "em todos os
sequestrados e mantidos em cativeiro por grupos terroristas, forçados a
servir como combatentes e, no caso principalmente das meninas e das
mulheres, como escravas sexuais".
Entre as causas que ajudam a explicar as formas contemporâneas de
escravidão, o Santo Padre se refere, em primeiro lugar, a "uma concepção
da pessoa humana que admite que ela seja tratada como objecto". A
seguir, ele cita "a pobreza, o subdesenvolvimento e a exclusão,
especialmente quando combinadas com a falta de acesso à educação ou com
uma realidade caracterizada pelas escassas, para não dizer inexistentes,
oportunidades de trabalho". Ele denuncia ainda "a corrupção de quem
está disposto a fazer qualquer coisa para enriquecer. A escravidão e o
tráfico de pessoas humanas requerem uma cumplicidade que, com muita
frequência, passa pela corrupção de intermediários, de membros das
forças de segurança e de outros agentes estatais ou de diversas
instituições civis e militares". O papa não se esquece, tampouco, dos
conflitos armados, da violência, do crime e do terrorismo.
Francisco pede um compromisso comum para acabar com o "fenómeno
abominável" da escravidão: “Temos que reconhecer”, declara, “que estamos
diante de um fenómeno mundial, que ultrapassa as competências de uma só
comunidade ou nação. Para derrotá-lo, é necessária uma mobilização de
dimensões comparáveis à do próprio fenómeno”.
O papa faz "um apelo urgente a todos os homens e mulheres de boa
vontade e a todos aqueles que, de longe ou de perto, inclusive nos mais
altos escalões das instituições, são testemunhas do flagelo da
escravidão contemporânea, para que não sejam cúmplices deste mal, para
que não fechem os olhos ao sofrimento dos seus irmãos e irmãs em
humanidade, privados de liberdade e de dignidade".
(02 de Janeiro de 2015) © Innovative Media Inc.
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