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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Francisco pede um compromisso comum para derrotar a escravidão moderna

48ª Jornada Mundial da Paz: pontífice denuncia que milhões de pessoas ainda são privadas da liberdade e da dignidade


Cidade do Vaticano, 02 de Janeiro de 2015 (Zenit.org)


A mensagem do papa Francisco para a 48ª Jornada Mundial da Paz, celebrada todo dia 1º de Janeiro, tem o título "Não mais escravos, mas irmãos". No começo de um novo ano, o Santo Padre dirige, a cada homem e mulher, aos povos e nações do mundo, aos chefes de Estado e de governo e aos líderes das várias religiões, os seus melhores desejos de paz e as suas orações pelo fim das guerras, dos conflitos e dos muitos sofrimentos causados pelo homem ou por antigas e novas epidemias, assim como pelos devastadores efeitos dos desastres naturais.

No texto, divulgado em 8 de Dezembro, o pontífice também promove a abolição do "flagelo cada vez mais generalizado da exploração do homem pelo homem", que "pisoteia os direitos fundamentais dos outros e aniquila a sua liberdade e dignidade". Embora o direito de toda pessoa a não ser submetida à escravidão nem à servidão seja reconhecido pelo direito internacional como norma inderrogável, "ainda há milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – privadas da sua liberdade".

O papa se refere a "muitos trabalhadores e trabalhadoras, inclusive menores, oprimidos de maneira formal ou informal em todos os sectores, desde o trabalho doméstico até o sector da agricultura, desde a indústria manufactureira até a mineração, tanto nos países em que a legislação trabalhista não cumpre as mínimas normas e padrões internacionais quanto, ainda que de maneira ilegal, nos países cuja legislação protege os trabalhadores".

Francisco pensa também "nas condições de vida de muitos emigrantes que, em sua dramática viagem, sofrem a fome, se vêem privados da liberdade, despojados dos seus bens ou vitimados por abusos físicos e sexuais"; "naqueles que são detidos em condições às vezes desumanas"; "nos que se vêem obrigados à clandestinidade por diferentes motivos sociais, políticos e económicos"; "naqueles que aceitam viver e trabalhar em condições inadmissíveis"; "nas pessoas obrigadas a exercer a prostituição, entre as quais muitos menores, e nos escravos e escravas sexuais"; "nas mulheres obrigadas a se casar, naquelas que são vendidas para fins de matrimónio forçado e nas que são entregues como herança"; "nas crianças e adultos que são vítimas do tráfico e da comercialização para extracção de órgãos, para ser recrutados como soldados, para a mendicidade, para actividades ilegais como a produção ou venda de drogas ou para formas encobertas de adopção internacional"; "em todos os sequestrados e mantidos em cativeiro por grupos terroristas, forçados a servir como combatentes e, no caso principalmente das meninas e das mulheres, como escravas sexuais".

Entre as causas que ajudam a explicar as formas contemporâneas de escravidão, o Santo Padre se refere, em primeiro lugar, a "uma concepção da pessoa humana que admite que ela seja tratada como objecto". A seguir, ele cita "a pobreza, o subdesenvolvimento e a exclusão, especialmente quando combinadas com a falta de acesso à educação ou com uma realidade caracterizada pelas escassas, para não dizer inexistentes, oportunidades de trabalho". Ele denuncia ainda "a corrupção de quem está disposto a fazer qualquer coisa para enriquecer. A escravidão e o tráfico de pessoas humanas requerem uma cumplicidade que, com muita frequência, passa pela corrupção de intermediários, de membros das forças de segurança e de outros agentes estatais ou de diversas instituições civis e militares". O papa não se esquece, tampouco, dos conflitos armados, da violência, do crime e do terrorismo.

Francisco pede um compromisso comum para acabar com o "fenómeno abominável" da escravidão: “Temos que reconhecer”, declara, “que estamos diante de um fenómeno mundial, que ultrapassa as competências de uma só comunidade ou nação. Para derrotá-lo, é necessária uma mobilização de dimensões comparáveis à do próprio fenómeno”.

O papa faz "um apelo urgente a todos os homens e mulheres de boa vontade e a todos aqueles que, de longe ou de perto, inclusive nos mais altos escalões das instituições, são testemunhas do flagelo da escravidão contemporânea, para que não sejam cúmplices deste mal, para que não fechem os olhos ao sofrimento dos seus irmãos e irmãs em humanidade, privados de liberdade e de dignidade".

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