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sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Em dois mil e quinze, não quero viver engomada

Desculpem se parece disparate, mas, em dois mil e quinze, não quero viver engomada.

Engomamo-nos para aparecermos direitinhos e sem vincos ao pé dos outros. Que bonito! Pensamos: tenho esta idade por isso vou fazer isto, depois vou fazer aquilo, porque é assim, porque tem que ser. Isto assim é porque se usa, isto é desta forma porque eu vi no outro dia, na televisão, naquela revista, naquela pessoa. Deixo-me andar. Um ano e depois outro. E quando fizer não sei quantos anos, vai ser isto e depois aquilo. E ter aquela forma de ser, de estar, de pensar, e ter 2 filhos. Um casalinho. Para que pareça bem. Ai, o Natal, a Páscoa, as férias do verão. A reforma. Isto, isto e mais isto.

Oh que triste fadário, o da estranha normalidade a que, inconscientes, nos submetemos na sucessão dos dias, no embrutecimento da alma, no desprezo do nosso fim…!

Confuso? Desculpem, a mensagem é simples: engomamo-nos nos nossos vícios. Sem nos apercebemos. Estamos submersos na goma da sociedade em que vivemos. Cheia de superficialidade, de vazio; sem decoro, sem moralidade, sem perspectiva. Sem Deus.  

Sem Deus, o que é que fazemos aos anseios mais profundos da nossa alma? Condenamo-nos a ser gente vincada pela angústia do tempo que corre, que passa, que voa, desde o momento que a Eva trincou a maçã. 

Hoje quase toda a gente, mesmo que não tenha por hábito reflectir, perde um ou dois minutos a pensar uma ou duas coisas sobre o passado, o presente e o futuro. Hoje, deve haver muita gente a falar com Deus… Hoje, deve haver mais gente a pensar que não sabemos o dia nem a hora… Hoje, Ele deve ter andar mais ocupado. 

E por isso, a minha mensagem para Ele esta manhã foi simples, concisa, repetitiva e informal (e também foi bruta, mas Ele já sabe o que a casa gasta) para não Lhe roubar muito tempo: 

Meu Deus, não quero ir engomada para a cova.
 








Frederica Vian Costa
Médica
Lisboa, 31 de Dezembro de 2014



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