Que pastores para a Igreja no mundo de hoje?
O clero das Dioceses de Évora, Beja e Algarve, reunido no Hotel Alísios, Albufeira, Algarve, nas oitavas Jornadas de Actualização do Clero, promovidas pelo Instituto Superior de Teologia de Évora, nos dias 26 a 29 de Janeiro de 2015, subordinadas ao Tema - Que pastores para a Igreja no mundo actual? - em ambiente de recolhimento, estudo e convívio, com a colaboração de vários especialistas, partilham as seguintes conclusões:
1. Os dados apresentados revelam que o número de candidatos ao sacerdócio e de ordenações sacerdotais se mantém estável nos últimos anos, embora esteja aquém do que seria desejável. É necessário continuar a investir na Pastoral Vocacional como uma tarefa de toda a Igreja e não apenas de alguns que, no exercício do seu ministério, estão mais ligados a este sector da Pastoral. A vocação é um chamamento pessoal dirigido aos que estão inseridos na comunidade de fé e para o serviço do povo de Deus.
2. Nas Dioceses do Sul, a situação é idêntica à do resto do País, agravada ainda pela diminuição da população e da proveniência das vocações de consagração e dos que aqui exercem o ministério sacerdotal que, em muitos casos, são de fora das Dioceses. Quanto à formação dos futuros sacerdotes, sente-se a necessidade de rever alguns modelos prévios à sua entrada no Seminário bem como o acompanhamento dos jovens sacerdotes. Em todo o itinerário formativo, é urgente integrar as várias dimensões da formação: humana, académica, espiritual e pastoral.
3. Os problemas que os candidatos ao sacerdócio enfrentam são, em boa parte, reflexo da conjuntura familiar. Faltam vínculos, relações estáveis e alargadas no seio da família; o mundo familiar é muito reduzido; o papel educativo é minimizado; não há um estilo de vida que oriente para a comunidade; os casais e as famílias estão cada vez mais sós. Como interpretar uma vocação de serviço à comunidade neste contexto?
4. Nos primeiros séculos da Igreja, eram as comunidades (paróquias) que se preocupavam pela formação e escolha dos seus responsáveis. Progressivamente, o papel das paróquias foi-se reduzindo ao mesmo tempo que se acentuou o carácter subjectivo da vocação. Aumentaram, é certo, as vocações; mas, as comunidades locais ficaram à margem dos processos de escolha e formação dos seus pastores. O Vaticano II veio repor o sentido primitivo quando recorda que “o dever de incrementar as vocações corresponde a toda a comunidade cristã”.
5. Uma boa Pastoral das vocações deve ser transversal a todas as áreas mas inscreve-se, principalmente, nos diversos âmbitos da Pastoral Juvenil, prestando atenção às diferentes faixas etárias da pré-adolescência, da adolescência e da juventude. Nesta última fase é preciso ajudar os jovens a passar de uma disponibilidade genérica para as decisões concretas. Alguns, sentem-se interpelados no meio universitário, sobretudo quando são devidamente orientados através de um acompanhamento personalizado que os ajuda a discernir e a purificar as motivações. Para um autêntico discernimento, torna-se necessário mudar e sentir que há um compromisso novo e diferente.
6. Na redescoberta da identidade e missão do Presbítero é essencial que haja um equilíbrio entre a intimidade pessoal e a relação com o Povo de Deus. Os cristãos são filhos de Deus e, o Presbítero há-de perceber que a primeira experiência que faz é a da filiação. Depois, faz a experiência da fraternidade com todos e na relação com os outros Presbíteros; e da paternidade na condução do Povo de Deus. Antes de mais, ele faz parte do Povo de Deus, e só depois é que é pastor e guia. Na vida dos Presbíteros, esta certeza de ser filho, irmão e pai, deve ser fonte de alegria: a sua missão não é simplesmente um dever, mas motivo para desfrutar.
7. A docilidade e a disponibilidade para aprender continuamente fazem parte do exercício do ministério presbiteral. A formação inicial recebida nos Seminários e nas escolas teológicas é importante mas, torna-se cada vez mais necessária a formação permanente, que inclui a dimensão humana, doutrinal, espiritual, pastoral e social. Sempre se há-de considerar que o testemunho de vida simples e de serviço é a melhor escola tanto para os padres mais novos como para os mais avançados em idade.
8. Os leigos que participaram nestas jornadas, representantes de algumas comunidades, esperam que o sacerdote seja autêntico, no sentido da fidelidade ao ministério; cultive a excelência no serviço aos outros; seja criativo à maneira dos profetas; e líder como o pastor que conhece e cuida das ovelhas. As famílias e os jovens querem que os padres estejam mais próximos, que compreendam e interpretem os seus problemas, que formem as pessoas e as comunidades, e que sejam vozes de esperança na complexidade do mundo em que estão inseridos.
Sem comentários:
Enviar um comentário