Livro recém-publicado destaca influência do cardeal argentino Pironio na vida de Bergoglio
Roma, 20 de Janeiro de 2015 (Zenit.org)
Desde a sua eleição como bispo de Roma, apareceram várias 
biografias de Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco. No entanto, mesmo
 as que se apresentaram como documentadas e fundamentadas historicamente
 deixaram de fazer menção ao cardeal argentino Eduardo Pironio. Foi 
lançado agora, porém, o livro "Tempo de misericórdia - Vida de Jorge 
Mario Bergoglio", de Austen Ivereigh (Milão, 2014), que reconhece o 
papel relevante daquele cardeal que, durante muitos anos, foi 
colaborador directo de São João Paulo II.
Confira a seguir um trecho do livro.
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A Evangelii Nuntiandi se tornaria o documento religioso preferido de 
Bergoglio, que a citou durante todo o período em que foi superior 
provincial, reitor e, depois, bispo. Não muito tempo após ser eleito 
papa, ele a definiu como “o documento pastoral mais belo já escrito”. 
Sua grande finalidade era conciliar o magistério eterno da Igreja com a 
diversidade das culturas.
Considerando algumas das assinaturas escondidas em sua redacção, é 
fácil entender por que Bergoglio se identificou tanto com essa exortação
 apostólica, seja em 1975, seja posteriormente. As secções sobre a fé que
 se materializa em um povo (Paulo VI preferia usar o termo cultura) e as
 que atribuíam valor à piedade popular eram, de fato, uma contribuição 
argentina, escrita pelo padre Gera. Tais considerações chegaram ao 
documento através, porém, de outro argentino, o antigo bispo de Mar del 
Plata, Eduardo Pironio, que, como secretário geral do CELAM em 1967 e 
1968, foi o espírito animador de Medellín. Colaborador e confessor de 
Paulo VI, ele tinha recentemente presidido em Roma o Sínodo dos Bispos 
em que nasceu a Evangelii Nuntiandi.
O sínodo representou mais um momento de amadurecimento para a Igreja 
latino-americana. Segundo o professor Guzmán Carriquiry, futuro 
colaborador de Bergoglio, ele marcou o final da fase pós-conciliar 
“iconoclasta”, que tinha sido dominada pela “crise da autoridade 
norte-atlântica, pelo fracasso da revolução guevarista e pela crescente 
desorientação dos intelectuais”. A essas alturas, o terreno estava 
pronto para a segunda assembleia do CELAM, a realizar-se em Puebla, no 
México, no ano de 1979, e cujo protagonista seria Gera. Tal como 
considerado por Bergoglio com a sua teologia do povo e pelos seus 
colegas da USAL, bem como da guarda de ferro, o fracasso da ideologia e 
dos intelectuais deixava a porta aberta para a chegada do povo fiel.
Pironio pode ser considerado, em certos aspectos, o precursor de 
Bergoglio. Sua missão era aplicar os princípios do Concílio Vaticano II à
 América Latina; ele tinha uma clara “opção preferencial” pelos pobres, 
mas desconfiava também das ideologias e estava convencido de que o 
Evangelho representava a base de um novo modelo de sociedade que ia além
 da dicotomia capitalismo-comunismo. Como faria depois Bergoglio, ele se
 afastou dos conservadores comprometendo-se com a justiça social e se 
afastou da esquerda negando o apoio às versões extremistas da teologia 
da libertação.
Como Bergoglio, Pironio não era um revolucionário, mas tinha uma 
grande densidade espiritual: era um defensor radical do Evangelho, com 
uma estratégia pastoral que dava a prioridade aos pobres. Como reitor do
 Máximo depois de 1980 e, mais tarde, como bispo e arcebispo, Bergoglio 
teria dado a essa estratégia – a visão de Pironio e da Evangelii 
Nuntiandi – mais espaço para respirar.
Ao recordá-lo em 2008, dez anos depois da sua morte, Bergoglio 
definiu Pironio como “um homem de portas abertas com quem se desejava 
estar”. Quando alguém o visitava, “onde quer que estivesse e ocupado o 
quanto estivesse, ele o fazia sentir-se a única pessoa que importava”. 
Esta é a mesma descrição que muitos fazem de Bergoglio.
E eles tinham mais coisas em comum. Em 1978, quando Paulo VI morreu, 
falou-se de Pironio como possível papa, um argentino de origem italiana e
 de espiritualidade franciscana. Já que era praticamente italiano, 
alguns pensaram: por que os cardeais, se queriam olhar para o mundo em 
vias de desenvolvimento, não elegiam esse argentino?
  (20 de Janeiro de 2015) © Innovative Media Inc. 
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