1. Vida sem esperança
Ouve-se muitas vezes dizer, sobretudo a médicos e amigos no caso de doença grave, que enquanto há vida há esperança, pois esta é a última coisa a morrer. Mas também constato que há muita gente a viver sem esperança. São mortos vivos. Por isso não apenas se diz que a esperança é a última coisa a morrer, mas também a primeira a nascer. Ainda há pouco, numa terra da nossa diocese, aconteceu que, não aparecendo o coveiro no momento de enterrar um defunto, foram encontrá-lo enforcado. No contexto da actual crise económica há muita gente a perder a esperança e alguns não aguentam a pressão, pondo termo à vida. O padre António Moreira, falecido há poucos dias de um cancro no pâncreas, durante os dois anos de doença dizia-me sempre que estava curado e podia retomar o trabalho, ao que eu respondia para se confiar a Deus e aos médicos, deixando as preocupações pelo trabalho ao bispo. Foi um exemplo de esperança para todos.
Ouve-se muitas vezes dizer, sobretudo a médicos e amigos no caso de doença grave, que enquanto há vida há esperança, pois esta é a última coisa a morrer. Mas também constato que há muita gente a viver sem esperança. São mortos vivos. Por isso não apenas se diz que a esperança é a última coisa a morrer, mas também a primeira a nascer. Ainda há pouco, numa terra da nossa diocese, aconteceu que, não aparecendo o coveiro no momento de enterrar um defunto, foram encontrá-lo enforcado. No contexto da actual crise económica há muita gente a perder a esperança e alguns não aguentam a pressão, pondo termo à vida. O padre António Moreira, falecido há poucos dias de um cancro no pâncreas, durante os dois anos de doença dizia-me sempre que estava curado e podia retomar o trabalho, ao que eu respondia para se confiar a Deus e aos médicos, deixando as preocupações pelo trabalho ao bispo. Foi um exemplo de esperança para todos.
Como fortalecer a esperança nas situações de doença, de crises afectivas, familiares, sociais e económicas. Esta é a principal missão da Igreja e dos discípulos de Jesus Cristo, enviados a curar os enfermos, consolar os tristes e anunciar a boa nova. Por isso o Papa Francisco repete muitas vezes: não vos deixeis roubar a esperança. E espero que não estejamos sós nesta tarefa de incutir esperança ao nosso povo. Mas espero também que os cristãos não deixem sós os profissionais do acompanhamento psicológico, pois há causas que transcendem o nível psicológico. Sem fé em Deus será difícil manter e animar a esperança em muitas situações graves da vida.
Estes pensamentos surgiram-me ao ler os textos que a liturgia da Igreja propõe para o quinto domingo da Quaresma. No evangelho fala-se da morte e reanimação de um amigo de Jesus, Lázaro. No diálogo de consolação de Jesus com as duas irmãs do morto, Marta e Maria, lemos: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?» Disse-Lhe Marta: «Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo». O que significa isto neste contexto de alguém perseguido, Jesus, a quem procuram para fazer desaparecer e que perde um amigo, cuja perda o comove e faz chorar, mas que deseja consolar quem também sofre muito com isso, as suas irmãs Marta e Maria?
2. Refazer as fontes da esperança
Perante este e outros casos semelhantes, que amiúde nos afectam e fazem parte da vida e missão da Igreja, clero e fiéis, temos que, em primeiro lugar, fazer o problema e a tristeza dos outros a nossa. Comover-nos e até chorar perante a dor de quem sofre, como Jesus. Sem esta empatia serão fúteis todas as outras palavras e gestos que possamos pronunciar ou ter. Até mesmo as frases piedosas soam a oco e revoltam quem sofre. O ministério da consolação passa pelo silêncio, emoção e lágrimas de solidariedade.
Mas quem tem fé, quem acredita, não pode permanecer numa tristeza sem esperança. A interrogação de Jesus às suas amigas Marta e Maria é o início do reacender da chama da esperança. No fundo de elas mesmas são desafiadas a responder, a reagir entre acreditar no sentido da existência ou no absurdo perante a morte absoluta, biológica e pessoal, sem possibilidade de qualquer relação no futuro. Quem acredita em Deus, mesmo que tenha morrido, vive. E quem vive e acredita em Deus, nunca morrerá. Como será isso possível? Parece um contra-senso, algo contraditório e impossível. Mas a pergunta faz ecoar e vibrar as fibras profundas da fé ou até mesmo despertar a fé e uma nova maneira de ver e reagir perante o sofrimento e a morte. Mais palavras e razões são inúteis nessa situação ou até serão ofensivas de quem sofre.
A terceira atitude de quem quer consolar é acompanhar as pessoas ao local da dor, ao sepulcro. Em silêncio, quando muito num gemido orante, encarar com as pessoas as causas do sofrimento, como fez Jesus, indo com as pessoas até ao túmulo de Lázaro. No evangelho diz-se que houve o milagre da ressurreição de Lázaro. Eu diria que se tratou de uma reanimação, dum voltar ao convívio dos amigos. Mas não sabemos por quanto tempo. Penso que aí aconteceu também a ressurreição das pessoas enlutadas. A reanimação da sua fé em Deus e no sentido da vida.
Esta é a ressurreição que o evangelho quer operar em nós, que por vezes parecemos mortos vivos, corpos que se movem, mas sem fé, sem alma, sem a crença de Marta, que, perante a pergunta de Jesus, afirma: Eu creio, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.
Sem pretender tirar todas as ilações da liturgia deste quinto domingo da Quaresma, penso que a oração da Igreja nos quer ajudar a reanimar a nossa fé e abrir à confissão da fé aqueles que se preparam para ser admitidos ao baptismo na noite de Páscoa. As comunidades crentes devem ajudar as pessoas que procuram Deus na sua vida e se confrontam com muitas situações de sofrimento e de dor, a abrir-se à pessoa de Jesus, suas palavras, gestos e atitudes, a fim de descobrir aí uma nova possibilidade de relação para além do sofrimento e da morte. A morte do Justo e dos crentes abre-nos um caminho de esperança, que desejamos reanimar e fortalecer na nossa caminhada quaresmal, para que ninguém no-la roube. É esta esperança que nos leva para o campo de missão, para a semear no coração e na vida dos Alentejanos, dispersos e isolados, que clamam pela nossa proximidade. Sem este percurso de proximidade não poderemos cantar o cântico novo do aleluia pascal.
† António Vitalino, Bispo de Beja
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