Fuente Latina quer dar visibilidade ao Oriente cristão
| Os quatro oradores da primeira conferência da Fuente Latina em Espanha, junto com a moderadora |
Actualizado 20 de Dezembro de 2013
F. Delgado-Iribarren / ReL
“O colectivo cristão é o mais perseguido e o que menos direitos humanos têm, incluindo a liberdade religiosa”.
Assim claramente expressou-se Justo Lacunza, sacerdote da Sociedade de Missionários de África, conhecidos como Padres Brancos, e reitor emérito do Instituto Pontifício de Estudos Árabes e Islâmicos (PISAI).
O padre Lacunza denunciou a situação “precária, perigosa e desastrosa” que padecem os seguidores de Cristo em 194 países do mundo. Nesta cifra coincidem dois relatórios autorizados: o de Liberdade Religiosa dos EUA de 2012 e o da Ajuda à Igreja Necessitada (AIN).
O padre Lacunza foi um dos conferencistas na mesa redonda “A perseguição dos cristãos no Médio Oriente”, a primeira celebrada em Espanha por Fuente Latina. Esta organização sem ânimo de lucro tem como objectivo principal “oferecer informação em espanhol sobre Israel e o Médio Oriente a jornalistas e destacados funcionários políticos na América Latina e o mundo de fala hispânica”.
A sua directora, Leah Soibel, explicou que Fuente Latina no Médio Oriente dedica-se a “organizar conferências e eventos, facilitar entrevistas com especialistas, levar a cabo voltas nos meios de comunicação e cobrir histórias menos conhecidas”.
"Apatia e indiferença dos grandes"
O missionário denunciou, num discurso claro e aceso, a “situação particularmente precária” dos cristãos “no Médio Oriente e na África Ocidental”. E também denunciou a "apatia e indiferença dos grandes das nações", com uma referência especial à ONU, alegando que "não se dá a importância suficiente à precaridade das minorias cristãs e das comunidades judaicas no Médio Oriente".
Mesmo assim assinalou a perseguição sobreposta de cristãos e judeus noutros países não orientais, e pôs como exemplo a Suécia, onde “em 2013 se registaram 65 ataques violentos contra comunidades judaicas”.
F. Delgado-Iribarren / ReL
“O colectivo cristão é o mais perseguido e o que menos direitos humanos têm, incluindo a liberdade religiosa”.
Assim claramente expressou-se Justo Lacunza, sacerdote da Sociedade de Missionários de África, conhecidos como Padres Brancos, e reitor emérito do Instituto Pontifício de Estudos Árabes e Islâmicos (PISAI).
O padre Lacunza denunciou a situação “precária, perigosa e desastrosa” que padecem os seguidores de Cristo em 194 países do mundo. Nesta cifra coincidem dois relatórios autorizados: o de Liberdade Religiosa dos EUA de 2012 e o da Ajuda à Igreja Necessitada (AIN).
O padre Lacunza foi um dos conferencistas na mesa redonda “A perseguição dos cristãos no Médio Oriente”, a primeira celebrada em Espanha por Fuente Latina. Esta organização sem ânimo de lucro tem como objectivo principal “oferecer informação em espanhol sobre Israel e o Médio Oriente a jornalistas e destacados funcionários políticos na América Latina e o mundo de fala hispânica”.
A sua directora, Leah Soibel, explicou que Fuente Latina no Médio Oriente dedica-se a “organizar conferências e eventos, facilitar entrevistas com especialistas, levar a cabo voltas nos meios de comunicação e cobrir histórias menos conhecidas”.
"Apatia e indiferença dos grandes"
O missionário denunciou, num discurso claro e aceso, a “situação particularmente precária” dos cristãos “no Médio Oriente e na África Ocidental”. E também denunciou a "apatia e indiferença dos grandes das nações", com uma referência especial à ONU, alegando que "não se dá a importância suficiente à precaridade das minorias cristãs e das comunidades judaicas no Médio Oriente".
Mesmo assim assinalou a perseguição sobreposta de cristãos e judeus noutros países não orientais, e pôs como exemplo a Suécia, onde “em 2013 se registaram 65 ataques violentos contra comunidades judaicas”.
As minorias cristãs no Oriente
Tanto judeus como cristãos, recordou, "pertencem à acção histórica e civilizadora" no Médio Oriente. Nesta região os cristãos conformam um amplo "abanão de ritos, liturgias e línguas": os arménios (“muito perseguidos sobretudo em Aleppo, mais de 10.000 saíram da Síria para evitar um genocídio como o de 1915”), os assírios, os coptas (ortodoxos, católicos e evangélicos), os gregos (ortodoxos e católicos), os maronitas e os sírios. Todos eles, indicou, "utilizam línguas como o árabe, o latim, o hebreu ou outras antiquíssimas para expressar a sua fé cristã. Hoje estas minorias cristãs estão sendo maltratadas e perseguidas".
O padre Lacunza terminou a sua intervenção recordando a Declaração da Al Qaeda de 23 de Fevereiro de 1996, chamada "Declaração de guerra contra os americanos, os judeus e os cruzados" (os cristãos).
Depois de revelar que teve que fazer "de tripas coração" para ler detalhadamente este documento, partilhou a conclusão mais importante que tirou do texto: que era "fruto de um grande grupo de especialistas" em muito diversas matérias. A partir desta declaração, assinada por Osama Bin Laden, assinalou, "sobe a febre contra judeus, cristãos e, em política, contra os americanos".
Um jornalista de El País
Outro interveniente na conferência foi Jorge Marirrodriga, jornalista e editor-chefe da edição América de El País, que reflectiu sobre as perseguições religiosas e o tratamento que estas recebem nos meios de comunicação.
Começou valorizando que “o século XX não é para estar orgulhoso, e o que levamos de XXI, tampouco. O século XX é o século da perseguição religiosa em todo o mundo”, afirmou. “Calcula-se que morreram mais cristãos perseguidos no século XX que nos 19 anteriores”.
Marirrodriga considera que se dá uma escassa cobertura a esta realidade nos meios, “salvo factos muito pontuais”.
Isto, no seu entender, é porque a informação religiosa é “incómoda” por dois tipos de razões. As primeiras são práticas: “Vivemos numa sociedade na qual o que conta é o estímulo imediato e cansamo-nos aos dez minutos do demais. A informação constante no tempo tende a perder interesse”.
As segundas são ideológicas: “Desde há 200 anos há um conflito no Ocidente entre um sector que considera que a religião deve ficar relegada ao âmbito privado (e quanto mais privado melhor) e outro que pensa que deve sair à esfera pública”. E esta divisão, indica, não é alheia aos meios de comunicação.
Tanto judeus como cristãos, recordou, "pertencem à acção histórica e civilizadora" no Médio Oriente. Nesta região os cristãos conformam um amplo "abanão de ritos, liturgias e línguas": os arménios (“muito perseguidos sobretudo em Aleppo, mais de 10.000 saíram da Síria para evitar um genocídio como o de 1915”), os assírios, os coptas (ortodoxos, católicos e evangélicos), os gregos (ortodoxos e católicos), os maronitas e os sírios. Todos eles, indicou, "utilizam línguas como o árabe, o latim, o hebreu ou outras antiquíssimas para expressar a sua fé cristã. Hoje estas minorias cristãs estão sendo maltratadas e perseguidas".
O padre Lacunza terminou a sua intervenção recordando a Declaração da Al Qaeda de 23 de Fevereiro de 1996, chamada "Declaração de guerra contra os americanos, os judeus e os cruzados" (os cristãos).
Depois de revelar que teve que fazer "de tripas coração" para ler detalhadamente este documento, partilhou a conclusão mais importante que tirou do texto: que era "fruto de um grande grupo de especialistas" em muito diversas matérias. A partir desta declaração, assinada por Osama Bin Laden, assinalou, "sobe a febre contra judeus, cristãos e, em política, contra os americanos".
Um jornalista de El País
Outro interveniente na conferência foi Jorge Marirrodriga, jornalista e editor-chefe da edição América de El País, que reflectiu sobre as perseguições religiosas e o tratamento que estas recebem nos meios de comunicação.
Começou valorizando que “o século XX não é para estar orgulhoso, e o que levamos de XXI, tampouco. O século XX é o século da perseguição religiosa em todo o mundo”, afirmou. “Calcula-se que morreram mais cristãos perseguidos no século XX que nos 19 anteriores”.
Marirrodriga considera que se dá uma escassa cobertura a esta realidade nos meios, “salvo factos muito pontuais”.
Isto, no seu entender, é porque a informação religiosa é “incómoda” por dois tipos de razões. As primeiras são práticas: “Vivemos numa sociedade na qual o que conta é o estímulo imediato e cansamo-nos aos dez minutos do demais. A informação constante no tempo tende a perder interesse”.
As segundas são ideológicas: “Desde há 200 anos há um conflito no Ocidente entre um sector que considera que a religião deve ficar relegada ao âmbito privado (e quanto mais privado melhor) e outro que pensa que deve sair à esfera pública”. E esta divisão, indica, não é alheia aos meios de comunicação.
A "borbulha" do Ocidente
Quanto à situação da liberdade religiosa no mundo, Marirrodriga, que trabalhou como jornalista no Médio Oriente, considera que “Ocidente vive numa espécie de borbulha”.
Põe como exemplo a diferença entre ir a um templo em Espanha, onde não supõe um risco, e fazê-lo em outras cidades do mundo, onde “nem todos os que vão ao templo sabem se vão voltar com vida”.
Da sua passagem pela Síria e Iraque destaca a “imensa riqueza cultural”, entendendo por tal a “humana”, que existe nestes dois países. “Não nos damos conta do abanão do cristianismo até que vamos ao Médio Oriente, e o cristianismo do Médio Oriente está desaparecendo a marchas forçadas”, lamenta-se.
O asilo político
Por último participou o advogado e professor da Universidade São Paulo CEU Ricardo Ruiz de la Serna, que dissertou sobre a figura jurídica do asilo político. Este indicou que esta forma de protecção está concebida “para pessoas singulares”, e não para “colectivos”. Pelo que, considerou, é uma figura que “se presta mal a campanhas de comunicação”.
O asilo político está originariamente pensado para a “perseguição política”, e não para a religiosa. Por isso podemos saber “quantos opositores cubanos solicitaram asilo, mas não quantos cristãos perseguidos”. Que um cristão viva num país que sofre perseguição religiosa não constitui uma “prova suficiente juridicamente falando”. Por isso, conclui, “às vezes o asilo político não é a melhor opção”.
Quanto à situação da liberdade religiosa no mundo, Marirrodriga, que trabalhou como jornalista no Médio Oriente, considera que “Ocidente vive numa espécie de borbulha”.
Põe como exemplo a diferença entre ir a um templo em Espanha, onde não supõe um risco, e fazê-lo em outras cidades do mundo, onde “nem todos os que vão ao templo sabem se vão voltar com vida”.
Da sua passagem pela Síria e Iraque destaca a “imensa riqueza cultural”, entendendo por tal a “humana”, que existe nestes dois países. “Não nos damos conta do abanão do cristianismo até que vamos ao Médio Oriente, e o cristianismo do Médio Oriente está desaparecendo a marchas forçadas”, lamenta-se.
O asilo político
Por último participou o advogado e professor da Universidade São Paulo CEU Ricardo Ruiz de la Serna, que dissertou sobre a figura jurídica do asilo político. Este indicou que esta forma de protecção está concebida “para pessoas singulares”, e não para “colectivos”. Pelo que, considerou, é uma figura que “se presta mal a campanhas de comunicação”.
O asilo político está originariamente pensado para a “perseguição política”, e não para a religiosa. Por isso podemos saber “quantos opositores cubanos solicitaram asilo, mas não quantos cristãos perseguidos”. Que um cristão viva num país que sofre perseguição religiosa não constitui uma “prova suficiente juridicamente falando”. Por isso, conclui, “às vezes o asilo político não é a melhor opção”.
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