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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Suprimindo a dimensão transcendente, uma cultura se empobrece

Discurso do Papa Francisco por ocasião da Visita Ad Limina Apostolorum dos bispos dos Países Baixos


Roma, 03 de Dezembro de 2013


Apresentamos o discurso pronunciado pelo Papa Francisco aos bispos dos Países Baixos, por ocasião da Visita “Ad Limina Apostolorum” realizada nesta segunda-feira, 2 de Dezembro, no Palácio Apostólico Vaticano.

Queridos irmãos no Episcopado,

Nestes dias nos quais vocês realizam a vossa visita ad limina Apostolorum, saúdo cada um de vocês com afecto no Senhor e vos asseguro a minha oração para que esta peregrinação seja roca de graça e fecunda para a Igreja nos Países Baixos. Obrigado. Obrigado, querido Cardeal Willem Jacobus Eijk, pelas palavras que me dirigiu em nome de todos!

Permitam-me, antes de tudo, exprimir o meu reconhecimento pelo serviço de Cristo e do Evangelho que vocês realizam para o povo que vos foi confiado, em circunstâncias muitas vezes árduas. Não é fácil conservar a esperança nas dificuldades que vocês devem enfrentar! O exercício colegial do vosso ministério episcopal, em comunhão com o Bispo de Roma, é uma necessidade para fazer crescer esta esperança, em um diálogo verdadeiro e uma colaboração efectiva. Fará bem a vocês olhar com confiança aos sinais de vitalidade que se manifestam nas comunidades cristãs das vossas dioceses. São sinais da presença activa do Senhor em meio aos homens e mulheres do vosso país que esperam autênticos testemunhos da esperança que nos faz viver, aquela que vem de Cristo.

A Igreja, com paciência materna, prossegue os seus esforços para responder às inquietações de tantos homens e mulheres que experimentam a angústia e o desencorajamento diante do futuro. Com os vossos sacerdotes, os vossos colaboradores directos, vocês querem se fazer próximos às pessoas que sofrem do vazio espiritual e que estão em busca de sentido para suas vidas, mesmo se nem sempre o saibam exprimir. Como acompanhá-los fraternalmente nesta busca, se não se colocando em escuta para partilhar com eles a esperança, a alegria, a capacidade de seguir adiante que Jesus Cristo nos dá?

Por isso, a Igreja procura propor a fé de maneira autêntica, compreensível e pastoral. O Ano da Fé foi uma feliz oportunidade para manifestar como o conteúdo da fé pode alcançar cada homem. A antropologia cristã e a doutrina social da Igreja fazem parte do património de experiência e de humanidade sobre o qual se funda a civilização europeia e essas podem ajudar a reafirmar concretamente o primado do homem sobre técnicas e sobre estruturas. E este primado do homem pressupõe a abertura à transcendência. Ao contrário, suprimindo a dimensão transcendente, uma cultura se empobrece, enquanto essa deveria mostrar a possibilidade de conectar em constante harmonia fé e razão, verdade e liberdade. Assim, a Igreja não propõe somente as verdades morais imutáveis e atitudes contracorrente no que diz respeito ao mundo, mas propõe as como a chave do bem humano e do desenvolvimento social. Os cristãos têm uma missão própria para concentrar-se neste desafio. A educação das consciências torna-se então prioritária, especialmente mediante a formação do juízo crítico, embora tendo uma abordagem positiva sobre realidades sociais; se evitará, assim, a superficialidade dos juízos e a resignação à indiferença. Depois, isso requer que os católicos, sacerdotes, pessoas consagradas, leigos adquiram uma formação sólida e de qualidade. Encorajo-vos vivamente a unir os vossos esforços para responder a esta necessidade e permitir um melhor anúncio do Evangelho. Neste contexto, o testemunho e o compromisso dos leigos na Igreja e na sociedade têm um papel importante e devem ser fortemente apoiadas. Todos nós baptizados somos convidados a ser discípulos-missionários, lá onde estamos!

Em vossa sociedade, fortemente marcada pela secularização, encorajo-vos também a estar presente no debate público, em todas as áreas em que está em causa o  homem, para tornar visível a misericórdia de Deus, e sua ternura por todas as criaturas. No mundo de hoje, a Igreja tem o dever de repetir incansavelmente as palavras de Jesus: “Vinde a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28). Mas nos perguntemos: quem nos encontra,  que encontra  um cristão,  percebe algo da bondade de Deus, a alegria de ter encontrado Cristo? Como afirmei frequentemente, a partir da experiência autêntica do ministério episcopal , a Igreja não se expande por proselitismo, mas por atracção. Ela  é enviado por todo o mundo para acordar, despertar, manter a esperança! Daí a importância de incentivar aos seus fiéis a acolherem as ocasiões de diálogo, tornando-se presentes nos lugares onde se decide o futuro, levando assim uma contribuição aos debates sobre as grandes questões sociais relativas, por exemplo, a família, o matrimónio, o fim da vida.

Hoje, mais do que nunca,  se sente a necessidade de avançar no caminho do ecumenismo, convidando a um verdadeiro diálogo que procure  os elementos da verdade e da bondade,  e ofereça respostas inspiradas no Evangelho. O Espírito Santo nos impulsiona a sair de  nós mesmos e ir em direcção  aos outros! Em um país rico, sob diversos aspectos, a pobreza afecta um número cada vez maior de pessoas. Valorizem a generosidade dos fiéis para trazer luz e compaixão de Cristo nos  lugares em que se espera, em particular, para as pessoas mais marginalizadas! Além disso, a escola católica, proporcionando aos jovens uma sólida educação, continuará a favorecer a formação humana e espiritual, num espírito de diálogo e de fraternidade com aqueles que não compartilham  sua fé. Portanto, é importante que os jovens cristãos recebam uma  catequese de qualidade, que sustente a fé que possuem, e o leve a encontrar Cristo. Formação sólida e espírito de abertura ! Eis como a Boa Notícia continua a difundir-se.

Vós sabeis bem que o futuro e a vitalidade da Igreja nos Países Baixos depende também das vocações sacerdotais e religiosas! É urgente suscitar uma pastoral vocacional vigoroso e atraente, e também a busca comum de como  acompanhar o amadurecimento humano e espiritual dos seminaristas. Que eles vivam uma relação pessoal com o Senhor, isso será a base de  toda a vida sacerdotal deles! Sentimos também a urgência de rezar pelo Dono da messe!

A redescoberta da oração sob diversas formas e,  particularmente, a adoração eucarística, é uma motivo  de esperança que faz a Igreja a crescer.  Como é importante e imprescindível estar perto de vossos presbíteros, disponíveis a cada um de vossos sacerdotes, para apoiá-los e orientá-los,  se eles precisarem! Como pais, encontrem  tempo para recebê-los e ouvi-los, sempre que eles pedirem. E não se esqueçam também de ir ao encontro daqueles que não se aproximam, pois alguns deles, infelizmente, não cumprem bem os seus compromissos. De um modo muito particular, desejo exprimir  a minha compaixão e garantir-vos a minha oração por cada vítima de abusos sexuais e às suas famílias. Peço-vos para continuar a apoiá-los no doloroso caminho de cura, realizado com coragem. Estejam atentos para responder ao desejo de Cristo, o Bom Pastor, tenham um coração para defender e fazer crescer  toda a unidade em todos e entre todos.

Para concluir, gostaria dar graças, convosco, pelos sinais de vitalidade com que o Senhor abençoou a Igreja que está nos Países Baixos, neste contexto, que nem sempre é fácil. Ele vos encoraje e vos confirme na delicada missão de guiar as vossas comunidades no caminho da fé e da unidade, da verdade e da caridade. Eu confio a vós,   os  sacerdotes, as pessoas consagradas e fiéis leigos das vossas Dioceses à protecção da Virgem Maria, Mãe da Igreja, de coração dou a minha Bênção Apostólica, penhor de paz e alegria espiritual e fraternalmente, peço que não se esqueçam de rezar para mim!


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