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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

A propagação da escravidão moderna

Uma chaga que afecta dezenas de milhões de pessoas


Roma, 02 de Dezembro de 2013


Rodou o mundo a notícia das três mulheres mantidas em cativeiro em um quarto de Londres. O facto chamou a atenção sobre o problema da escravidão e do tráfico de pessoas.

Em 2012 o Human Trafficking Center britânico, órgão da National Crime Agency, declarou ter identificado 2.225 potenciais vítimas do tráfico humano, com um aumento de 178 unidades ( +9%) com relação ao 2011 (BBC, 22 de Novembro).

O relatório sublinha que os dois tipos de exploração mais comuns são a exploração sexual (35% das vítimas potenciais), seguido pela exploração laboral (23%).

Entre as notícias mais recentes sobre o tema, na semana passada, o Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU anunciou que o Relator Especial das Nações Unidas, Gulnara Shahinian, teria visitado o Gana do 22 ao 29 de Novembro, para monitorizar a situação no que diz respeito às práticas de escravidão no país.

Em outubro, a enorme extensão da escravidão foi revelada em um dossier publicado pela Walk Free Foundation, com sede em Perth (Western Austrália).

A fundação, que tem 20 membros na equipe, foi instituída no mês de maio do ano passado por Andrew Forrest – presidente do Fortescue Metals Group – e por sua mulher Nicola. Fortescue Metals é uma das vinte mais importantes companhias australianas e o quarto maior fornecedor de ferro no mundo.

A relação inaugural do “Índice Global da Escravidão” afirmou que 29,8 milhões de pessoas em todo o mundo são escravizadas.

A Índia tem o maior número em absoluto de pessoas na escravidão, com aproximadamente 14 milhões de pessoas, que, como observou o relatório, são quase a metade da totalidade mundial. Não é tanto uma questão de estrangeiros explorados, observa o relatório, mas de muitos indianos vítimas da servidão por dívidas e pelo trabalho forçado.

Em termos globais a China é o segundo, com 2,9 milhões de escravizados. Os outros países do top 10 são o Paquistão, Nigéria, Etiópia, Rússia, Tailândia, República Democrática do Congo, Mianmar e Bangladesh. O top 10 inclui mais de 22 milhões de escravizados.

Se olhamos em termos de proporção com a população, a escravidão está no mais alto nível na Mauritânia, onde se estima cerca de 150 mil escravos em uma população de apenas 3,8 milhões de habitantes. Haiti e Paquistão estão respectivamente no segundo e terceiro lugar neste ranking.

A escravidão moderna, explica o relatório, não é bem compreendida e é também escondida, com criminosos que usam uma grande variedade de meios para permiti-la e racionalizá-la.

Embora a maioria das formas de escravidão sejam ilegais, o relatório assinala que as leis raramente são reforçadas. O relatório dos EUA sobre tráfico de pessoas do 2013 afirma que 46.570 vítimas do tráfico de seres humanos foram oficialmente identificadas em 2012. Houve, no entanto, somente 7.705 processos penais e 4.750 condenações registadas globalmente.

A prevalência da escravidão está ligada a outros factores, de acordo com o relatório. Por exemplo, há uma alta correlação entre a escravidão e a corrupção. Níveis mais baixos de desenvolvimento humano e bem-estar económico são outros tópicos relacionados.

Há algum tempo o Vaticano está comprometido com a questão da escravidão e do tráfico humano. O exemplo mais recente foi quando, no início de Novembro, a Pontifícia Academia das Ciências Sociais, em colaboração com a Federação Mundial das Associações Médicas Católicas, realizou aquilo que foi chamado de "worskshop preparatório" sobre o assunto.

"Toda relação que omite respeitar a fundamental convicção que cada pessoa – homem, mulher, menino, menina – é igual às outras e tem a mesma liberdade e dignidade, constitui um grave crime contra a humanidade”, afirma a declaração final do encontro do passado 2 e 3 de Novembro.

Há uma "necessidade urgente" de que se continue, para que se coloque fim ao tráfico de seres humanos.

"É nossa obrigação moral fazer de nós mesmos a última geração que deverá combater o tráfico de seres humanos”, acrescenta a declaração final.

O documento conclui com uma série de recomendações do Vaticano, das organizações internacionais, das empresas e dos governos, com relação à prática que deve ser feita.

O Papa abordou a questão da escravidão na recentíssima Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. “Sempre causou-me dor a situação daqueles que são objecto das diferentes formas de tráfico de pessoas. Gostaria que se escutasse o grito de Deus que pede a todos vós: “Onde está o seu irmão?” (Gn 4, 9) (EG 211).

O Papa, então, se pergunta: "Onde está o teu irmão escravo? Onde está o irmão que estás matando cada dia na pequena fábrica clandestina, na rede da prostituição, nas crianças usadas para a mendicidade, naquele que tem de trabalhar às escondidas porque não foi regularizado?" 

" Não nos façamos de distraídos!”, exorta o Papa Francisco, destacando que “há muita cumplicidade".

" Nas nossas cidades, está instalado este crime mafioso e aberrante, e muitos têm as mãos cheias de sangue devido a uma cómoda e muda cumplicidade", acrescentou o Papa.


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