Como o padre e blogueiro Daniel Pajuelo passa os dias entre o altar e as redes sociais
Roma, 08 de Novembro de 2013
Poucos sabem que você é engenheiro informático. Você aplicou isso na vida de religioso marianista?
-Padre Daniel Pajuelo: Nos meus primeiros anos como marianista, eu
desenvolvi um software de gestão de bibliotecas para a nossa
administração provincial. Agora ele pode ser baixado gratuitamente no
meu site. É o “Biblioteca 2000”. Também dediquei muita energia para
criar a comunidade virtual Ágora Marianista, que virou o Portal da
Família Marianista da Espanha. Também trabalhei como técnico informático
em nosso colégio de Valência e, mais tarde, como professor de
tecnologia e de informática para jovens de 12 a 16 anos. Sempre gostei
da Segurança de Redes e algumas vezes me pediram para auditar servidores
ou resgatá-los de algum ataque cibernético, desmascarar identidades
virtuais falsas, recompilar dados para tramitar denúncias por abusos na
internet, etc.
E você ainda tem tempo para esses trabalhos?
-Padre Daniel Pajuelo: Eu continuo fazendo algumas dessas coisas,
além de pequenos programas e instalação e actualização de alguns blogs.
Mas reorientei o meu perfil informático para as redes sociais. Os meus
conhecimentos técnicos são de grande ajuda para entender o potencial e
os limites da comunicação na internet, além dos perigos. Mas continuo
precisando de formação constante, para melhorar a minha presença e
assessorar outras pessoas e entidades da Igreja na hora de aterrar
nesse meio. Comecei a estudar no ESIC, uma escola de negócios dos Padres
Reparadores. E estou cursando um Programa Superior de Marketing e
Gestão de Comunidades em Redes Sociais.
Você fundou o site iMision, junto com outros religiosos. Qual é o propósito e quais são os frutos desse trabalho?
-Padre Daniel Pajuelo: O iMision nasceu de um encontro no Twitter entre
a religiosa Xiskya Valladares e eu. Nós dois mantemos uma presença
activa nessa rede social. Depois de sofrer alguns ataques pessoais fortes
nessa mesma rede, nós percebemos o quanto é necessário apoiar os
católicos presentes nela para que eles não tenham medo, para que a
presença deles seja como o sal que dá sabor. O nosso objectivo ao fundar o
iMision era triplo: primeiro, possibilitar o encontro digital e físico
dos católicos já presentes na rede; segundo, oferecer formação, e,
terceiro, realizar um congresso.
Fale um pouco mais sobre esta iniciativa!
-Padre Daniel Pajuelo: O fruto do iMision é uma comunidade formada
por oito pessoas de diversos movimentos e grupos da Igreja. Trabalhamos
unidos com o mesmo horizonte. Também estão ligadas ao núcleo outras
vinte e duas pessoas que colaboram directamente com o projecto: gestores
de grupos do Facebook e do Twitter, designers
gráficos, programadores… Em terceiro lugar, temos a comunidade de
voluntários, formada por mais de quatrocentas pessoas que recebem e
apoiam as iniciativas que nós vamos propondo, e, por último, a nossa
comunidade de seguidores, 8.400 no Twitter e 6.900no Facebook.
Os frutos do iMision são as conexões entre todas essas pessoas. Estas
conexões sozinhas não geram comunhão, mas a facilitam e potencializam. E
a comunhão é o que torna visível hoje o Corpo de Cristo no mundo.
Como os nossos leitores podem participar?
-Padre Daniel Pajuelo: Vamos ter um congresso, que já está sendo
organizado. Vai ser em Madrid, nos dias 4, 5 e 6 de Abril de 2014, e a
conferência de abertura será do padre Antonio Spadaro, jesuíta, director
da revista La Civiltà Cattolica e uma das referências
nesta nova cultura eclesial da evangelização na internet. Esperamos
contar com um excelente grupo de palestrantes. Vamos ter também oficinas
práticas e encontros entre os participantes. Achamos que esse evento
vai definir um antes e um depois na presença da Igreja espanhola na
internet.
Como você vê o desenvolvimento da presença da Igreja nos novos meios digitais nos últimos dez anos?
-Padre Daniel Pajuelo: O pontificado de Bento XVI deu um impulso
enorme à presença da Igreja na media social. O Pontifício Conselho para a
Cultura e o Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais
compreenderam de forma admirável que a internet não é só um instrumento,
mas um “lugar habitado”, e que a Igreja também está chamada a
compartilhar e acompanhar as esperanças, alegrias, sofrimentos e desejos
das pessoas na rede.
O papa Francisco, por exemplo, tem uma actividade constante nas redes sociais…
-Padre Daniel Pajuelo: A pessoa do papa Francisco e o estilo
comunicativo dele estão sendo uma revolução para uma Igreja milenar, que
se sentia segura ao se expressar numa linguagem que hoje não é mais
entendida. A encarnação é um processo contínuo, que não termina em uma
época. Sacralizar formas do passado, que foram muito válidas e deram
resultado na sua época, mas que não têm mais significado para o homem de
hoje, é uma coisa que pode ir contra o verdadeiro espírito do
evangelho. No evangelho nós descobrimos com admiração que Cristo, sendo
de condição divina, não se apegou à sua condição e se despojou, tomando a
forma de um no meio de tantos, tornando-se um homem como nós. E aquele,
que foi o caminho escolhido por Deus para nos salvar, é o caminho que a
Igreja está chamada a percorrer em todo o seu peregrinar pela história.
Mas nem todos pensam assim…
-Padre Daniel Pajuelo: Eu acho que esse grande impulso está sendo
liderado de cima e ainda não chegou completamente às bases. Poucas
dioceses, congregações e movimentos escutam esse chamado à evangelização
pela internet. Neste sentido, há muita estrada pela frente ainda.
Qual é o aspecto que mereceria mais atenção e mais recursos?
-Padre Daniel Pajuelo: A formação. Antes de entrar nessa arena,
precisamos nos livrar de preconceitos. Toda mudança nos assusta, parece
sempre que o tempo passado foi melhor, mas, se mantivermos essa atitude
ou demonizarmos os jovens e as novas formas de interconexão, só vamos
nos isolar, virar objetos de museu e morrer sozinhos e incompreendidos.
Eu acho que as dioceses, as conferências episcopais, têm que apostar
forte em formar primeiro os seus delegados de comunicação. Hoje a
comunicação é algo muito delicado, que nós temos que cuidar bem, colocar
nas mãos de gente muito santa e bem formada. Depois, criar escolas que dêem formação de qualidade para todo tipo de agentes pastorais.
Então temos que entrar nas redes sociais com decisão, é isso mesmo?
-Padre Daniel Pajuelo: Eu acredito que nós temos que dar um abraço
institucional e dar apoio e recursos para iniciativas que já estão
acontecendo nos nossos países. Também acho que não vai passar muito
tempo antes que algumas dioceses e conferências episcopais comecem a ter
as medias sociais integradas no seu planeamento de comunicação.
Você também é compositor musical e tem algumas músicas bem recebidas pelos jovens. O que inspira você a compor?
-Padre Daniel Pajuelo: A relação com Deus! É dela que surge tudo, ela
é o motor dos motores de toda a minha vida, é dali que nasce a
inspiração para escrever e gravar as músicas. Enquanto eu componho, eu
rezo e medito o que estou escrevendo. Quando você comunica, você tem que
cuidar da forma, mas principalmente do conteúdo, e esse conteúdo, para
mim, sempre é Cristo.
E agora, quais são as suas tarefas como padre e os planos para o futuro?
-Padre Daniel Pajuelo: Eu estou me dedicando à educação em nosso
colégio marianista de Carabanchel [em Madri]. Sou muito feliz com os
jovens. Eles não param de me ensinar coisas novas, me tornam mais
humilde, tiram o melhor de mim e me obrigam a me renovar o tempo todo.
Pelo voto de obediência, eu sirvo na minha província e trabalho em nosso
projecto missionário. Não sei o que o futuro está guardando, mas sei que
tudo o que eu fizer vai ser feito em discernimento com os meus
superiores e irmãos de comunidade. Eu faço parte de uma grande família, a
família de Maria, que trabalha para transmitir a luz a Cristo ao mundo.
Essa tem sido e vai ser a minha missão até o final dos meus dias, se
Deus quiser.
Que mensagem você dá aos religiosos em formação que gostariam de ter uma presença evangelizadora nas redes sociais?
-Padre Daniel Pajuelo: Não é qualquer forma de presença que vale a
pena. Por isso, tem que se formar bem, para usar a linguagem adequada em
cada momento e aprender a viver bem no tempo da internet. Nós temos que
ser honestos e transparentes, e, ao mesmo tempo, mostrar o rosto mais
materno e acolhedor da Igreja. Temos que viver o perdão e a humildade
também na internet, e por isso não podemos devolver insulto por insulto,
temos que deixar o sarcasmo de lado e estar dispostos a reconhecer os
erros. As métricas são importantes, como o número de seguidores no Twitter e os “curtir” no Facebook, mas eles não podem ser o nosso objectivo prioritário.
Manter a comunidade no espaço digital, enfim...
-Padre Daniel Pajuelo: Não podemos esquecer que não somos
franco-atiradores, nem superstars. Somos uma grande comunidade, que é a
Igreja. Temos que criar laços entre católicos, mesmo pensando diferente
em alguns temas. Seguir pessoas que pensam diferente ajuda a cultivar a
escuta e a nos colocar na pele do outro. Se nos cercamos só de quem
pensa igual, ficamos encerrados, não evangelizamos nem somos
evangelizados. Não precisamos ter medo. Deus nos chama a jogar as redes e
Ele está connosco!
Para conhecer o iMision: http://imision.org
Para seguir o padre Daniel Pajuelo no Twitter: https://twitter.com/smdani
Blog do padre Daniel Pajuelo: http://smdani.marianistas.org
in
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