Os cristãos estão cada vez mais sendo alvo no Oriente Médio
Roma, 29 de Abril de 2013
O conflito continua na Síria e em outros países, que
experimentaram uma mudança de regime, como o Egipto, o destino dos
cristãos continua a ser motivo de grande preocupação.
Semana passada, dois arcebispos, o sírio-ortodoxo Yohanna Ibrahim e o
greco-ortodoxo Paul Yazigi, foram sequestrados no vilarejo de Kfar
Dael, por aqueles que a Reuters, no dia 22 de Abril, chamou de "grupo
terrorista".
Em Setembro do ano passado, o Arcebispo Ibrahim disse à Reuters que
"os cristãos foram atacados e sequestrados de forma monstruosa e as suas
famílias pagaram grandes somas para a sua libertação".
Inicialmente as agências afirmaram que os dois arcebispos tinham sido
liberados. Mais tarde, porém, Jean-Clement Jeanbart, o arcebispo
greco-melquita de Aleppo, negou esta notícia (ver Asia News, 24 de Abril).
No dia do sequestro, 22 de Abril, a Comissão dos EUA sobre Liberdade
Religiosa Internacional (USCIRF) publicou um dossier especial intitulado
Proteger e promover a liberdade religiosa na Síria.
Tradicionalmente, no campo religioso, a Síria é um país heterogéneo,
com cerca de 22 milhões de pessoas. Os muçulmanos sunitas são cerca de
75% da população, mas subsiste uma minoria substancial de Alauítas,
cristãos e Drusos.
O conflito em curso "ameaça a diversidade religiosa da Síria, porque
os membros das menores comunidades minoritárias fogem do país, também em
face de um futuro incerto no pós-Assad”, está escrito no dossier.
O dossier da comissão exorta tanto os Estados Unidos como os outros
países a implementarem políticas de apoio aos direitos das minorias e à
liberdade religiosa.
A agência norte-americana admitiu que as condições não eram
certamente idílicas nem mesmo antes do levante actual, observando que "a
Síria oferecia um mínimo de liberdade religiosa, incluindo a liberdade
de culto, especialmente para as minorias religiosas no país, incluindo
os cristãos".
"No entanto, o governo controlava a selecção dos imãs sunitas e limitava a sua liberdade religiosa", diz o dossier.
Além disso, o documento atribui ao regime a responsabilidade por uma
política de repressão da maioria sunita, que durou décadas, e a
intensificação das hostilidades entre as minorias religiosas.
Ao mesmo tempo, as comunidades religiosas que se mantiveram neutras
durante as revoltas violentas, foram vistas pelas forças de oposição,
como cúmplices do governo.
"Na medida em que essas fracturas sectárias se aprofundam, torna-se
cada vez mais provável que as comunidades religiosas estejam na mira,
não por suas alianças políticas, mas apenas por sua filiação religiosa",
adverte o USCIRF.
É claro, diz o dossier USCIRF, que "este sectarismo está em ascensão e
as agressões com motivo religiosos têm sido perpetradas pelo regime de
Assad e pelos seus delegados, bem como, às vezes, pelas forças de
oposição que apontam para sua queda, causando graves violações da
liberdade religiosa".
"Essas violações também ameaçam a diversidade religiosa da Síria com a
crescente probabilidade de violência com motivo religioso e constantes
retaliações numa Síria pós-Assad, onde as minorias religiosas são
particularmente vulneráveis", diz o dossier.
O Egipto é outro país onde os cristãos são ameaçados. Há um temor de
que a Constituição apenas aprovada não seja capaz de proteger os
direitos dos cristãos, como destaca um serviço da BBC do dia 3 de Janeiro.
Uma mãe egípcia e seus sete filhos foram condenados a penas de prisão
pesadas por terem alterado ilegalmente os seus documentos oficiais
(cfr. Russia Today, 16 de Janeiro de 2013). A família queria restaurar
seus nomes cristãos, após a morte de seu pai, um muçulmano.
Nadia Ali Mohamed nasceu cristã, mas tinha se convertido ao
islamismo, depois de se casar com Mustafa Abdel-Wahab. Com a morte de
seu marido em 1991, ela queria voltar para o cristianismo.
Em 2004, depois de ter voltado a ser cristã, a família substituiu os
nomes muçulmanos na própria carteira de identidade por nomes cristãos.
Toda a família foi condenada a 15 anos de prisão por ter violado as leis
de mudança de nome.
Enquanto isso, os grupos islâmicos continuam a atacar edifícios
cristãos, sem que a polícia ou as forças de ordem se comprometam demais
para prevenir estes atentados. No passado 16 de caneiro a Assyrian
International News Agency disse que centenas de muçulmanos destruíram a
sede dos serviços sociais, que pertencem à Igreja Copta, entoando
slogans islâmicos. O edifício estava localizado na aldeia de Fanous, no
distrito de Tamia, na província de Fayoum, 130 km a sudoeste do Cairo.
No início deste mês, um grupo atacou a Catedral Copta de São Marcos,
atirando pedras e bombas incendiárias (cfr. New York Times, 8 de Abril
de 2013).
"A polícia não está fazendo nada para nos proteger ou parar a
violência", disse Wael Eskandar, activista cristão-copto. "Pelo
contrário, estão ajudando activamente os civis", a atacarem os cristãos,
disse Eskandar, de acordo com o citado artigo do New York Times.
O ataque continua com vários dias de conflito, culminados em um tiroteio que matou quatro muçulmanos e um cristão.
O Papa dos coptos Tawadros II acusou o presidente Mohammed Mursi, um
membro da Irmandade Muçulmana, de não protegido a catedral: o Washington
Post, em um artigo do 18 de Abril, o chamou de "uma crítica directa sem
precedentes".
As tensões continuam, com dez pessoas mortas nas últimas semanas
durante os confrontos entre Muçulmanos e Cristãos Cóptas no Egito (cfr.
Al-Jazeera, 22 de Abril).
Nos países do Oriente Médio as perspectivas para os cristãos
continuam a ser muito problemáticas, no entanto, nem os governos
ocidentais nem instituições internacionais parecem dar muita atenção
para o assunto.
in
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