Catequese do Papa Francisco na segunda Audiência Geral do pontificado
Roma,
Na sua segunda Audiência geral, com uma Praça de São Pedro
amarrotada de fieis, o santo padre Francisco retomou as catequeses do
Ano da Fé, começadas pelo seu predecessor Bento XVI. A ocasião foi
propícia para explicar a força da mensagem que contém o artigo de fé
sobre a ressurreição de Cristo. Oferecemos aos nossos leitores a
tradução de ZENIT do original italiano do Papa.
***
Queridos irmãos e irmãs,
Bom dia,
hoje voltamos às catequeses sobre o Ano da fé. No Credo repetimos
esta expressão: “ressuscitou no terceiro dia segundo as Escrituras”. E é
este o evento que estamos celebrando: a Ressurreição de Jesus, centro
da mensagem cristã, ecoado desde o princípio e transmitido para que
chegasse até nós. São Paulo escreve aos cristãos de Corinto:
“Transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo recebi; Cristo
morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado,
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas e
depois aos Doze” (1 Cor 15, 3-5). Esta breve confissão de fé anuncia
justamente o Mistério Pascal, com as primeiras aparições do Ressuscitado
a Pedro e aos Doze: a Morte e a Ressurreição de Jesus são o coração da
nossa esperança. Sem esta fé na morte e na ressurreição de Jesus a nossa
esperança será fraca, mas não será nem sequer esperança, e o coração da
nossa esperança é a morte e a ressurreição de Jesus. O Apóstolo afirma:
“Se Cristo não ressuscitou, vã é vossa fé; ainda estais nos vossos
pecados” (v. 17). Infelizmente, muitas vezes procurou-se obscurecer a fé
na Ressurreição de Jesus, e também entre os mesmos crentes
insinuaram-se dúvidas. Um pouco aquela fé “água com açucar”, como
dizemos; não é a fé forte. E isso por superficialidade, às vezes por
indiferença, ocupados por várias coisas que são consideradas mais
importantes do que a fé, ou também por uma visão só horizontal da vida.
Mas, é justamente a Ressurreição que nos abre à esperança maior, porque
abre a nossa vida e a vida do mundo ao futuro eterno de Deus, à
felicidade plena, à certeza de que o mal, o pecado, a morte podem ser
vencidos. E isto leva a viver com mais confiança as realidades quotidianas, enfrentá-las com coragem e com compromisso. A Ressurreição
de Cristo ilumina com uma nova luz estas realidades quotidianas. A
Ressurreição de Cristo é a nossa força!
Mas como é que nos foi transmitida a verdade de fé da Ressurreição de
Cristo? Há dois tipos de testemunhos no Novo Testamento: alguns estão
na forma de profissão de fé, ou seja, de fórmulas sintéticas que mostram
o núcleo da fé; outros, pelo contrário, estão na forma de narração do
evento da Ressurreição e dos fatos ligados a ela. A primeira: a forma da
profissão de fé, por exemplo, é aquela que acabamos de escutar, como
também aquela da Carta aos Romanos na qual São Paulo escreve: “Porque,
se confessares com tua boca que Jesus é Senhor e creres em teu coração
que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (10, 9). Desde os
primeiros passos da Igreja é bem sólida e clara a fé no Mistério da
Morte e Ressurreição de Jesus. Hoje, porém, gostaria de deter-me na
segunda, nos testemunhos como forma de narração, que encontramos nos
Evangelhos. Em primeiro lugar notemos que as primeiros testemunhas deste
evento foram as mulheres. Na aurora, elas vão até o sepulcro para ungir
o corpo de Jesus, e encontram o primeiro sinal: o túmulo vazio (Mc
16,1). Depois continua o encontro com um Mensageiro de Deus que anuncia:
Jesus de Nazaré, o Crucificado, não está aqui, ressuscitou (cf. vv
5-6.). As mulheres são movidas pelo amor e sabem acolher este anúncio
com fé: crêem, e rapidamente o transmitem, não o guardam para si,
transmitem-no. A alegria de saber que Jesus está vivo, a esperança que
enche o coração, não pode ser contida. Isto também deveria acontecer na
nossa vida. Sentimos a alegria de ser cristãos! Nós cremos num
Ressuscitado que venceu o mal e a morte! Temos a coragem de “sair” para
levar essa alegria e essa luz a todos os lugares da nossa vida”. A
Ressurreição de Cristo é a nossa maior certeza; é o tesouro mais
precioso! Como não compartilhar com os outros esse tesouro, essa
certeza? Não é só para nós, é para transmití-la, para dar aos outros,
compartilhar com os outros. É é o nosso testemunho.
Um outro elemento. Nas profissões de fé do Novo Testamento, como
testemunhas da Ressurreição são lembrados somente homens, os Apóstolos,
mas não as mulheres. Isto porque, de acordo com a lei judaica da época,
as mulheres e as crianças não podiam dar um testemunho confiável,
credível. Nos Evangelhos, no entanto, as mulheres têm um papel
primordial, fundamental. Aqui podemos captar um elemento a favor da
historicidade da Ressurreição: se fosse um fato inventado, no contexto
daquela época não teria sido ligado ao testemunho das mulheres. Os
evangelistas pelo contrário narram simplesmente o que aconteceu: as
mulheres são as primeiras testemunhas. Isso diz que Deus não escolhe de
acordo com os critério humanos: as primeiras testemunhas do nascimento
de Jesus são os pastores, gente simples e humilde; as primeiras
testemunhas da Ressurreição são as mulheres. E isso é bonito. E essa é
um pouco a missão das mulheres: das mães, das mulheres! Dar testemunho
aos filhos, aos netos, que Jesus está vivo, é o vivente, ressuscitou.
Mães e mulheres, adiante com este testemunho! Para Deus o que conta é
o coração, o quanto estamos abertos à Ele, se somos como as crianças
que confiam. Mas isso nos faz reflectir também sobre como as mulheres, na
Igreja e no caminho de fé, tenham tido e também hoje o tenham, um papel
especial no abrir as portas para o Senhor, no seguí-lo e no comunicar o
seu Rosto, porque o olhar de fé tem sempre necessidade do olhar simples
e profundo do amor. Os Apóstolos e os discípulos têm mais dificuldades
para crer. As mulheres não. Pedro corre ao sepulcuro, mas fica parado
diante do túmulo vazio; Tomé tem que tocar com as suas mãos as feridas
do corpo de Jesus. Também no nosso caminho de fé é importante saber e
sentir que Deus nos ama, não ter medo de amá-lo: a fé se professa com a
boca e com o coração, com a palavra e com o amor.
Depois das aparições às mulheres, acontecem outras: Jesus se faz
presente de um modo novo: é o Crucificado, mas o seu corpo é glorioso;
não voltou à vida terrena, mas numa nova condição. No começo não o
reconhecem, e somente por meio das suas palavras e dos seus gestos que
os olhos se abrem: o encontro com o Ressuscitado transforma, dá uma nova
força à fé, um fundamento inabalável. Também para nós há tantos sinais
em que o Ressuscitado se deixa reconhecer: a Sagrada Escritura, a
Eucaristia, os outros sacramentos, a caridade, aqueles gestos de amor
que trazem um raio do Ressuscitado. Deixemo-nos iluminar pela
Ressurreição de Cristo, deixemo-nos transformar pela sua força, para que
também através de nós os sinais de morte no mundo cedam o lugar aos
sinais de vida. Vi que a praça está cheia de jovens. Eis aí! Digo a
vocês: Levem adiante esta certeza: o Senhor está vivo e caminha ao nosso
lado na vida. Esta é a missão de vocês! Levar adiante esta esperança.
Estejam ancorados nessa esperança: esta âncora que está no céu; segurem
forte a corda, estejam ancorados e levem adiante a esperança. Vocês,
testemunhas de Jesus, levem adiante o testemunho de que Jesus está vivo e
isto lhes dará esperança, dará esperança a este mundo um pouco
envelhecido pelas guerras, pelo mal, pelo pecado. Adiante jovens!
in
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