Com alguma frequência, encontramo-nos tão absorvidos com a internet, a ler notícias, a pesquisar informação, a colocá-la online, a responder aos emails, a ler as newletters que subscrevemos, que nos confrontamos, com imensa dificuldade, em conseguir ler tudo o que recebemos no nosso correio eletrónico. Perante este nosso constrangimento somos forçados a selecionar o que mais nos interessa nas redes sociais, ainda que lamentemos a nossa indisponibilidade forçada, e a ter de eliminar. O tempo é finito. Como narrar o que nos vai no interior, as nossas ideias, se nos encontramos tão absorvidos com as diferentes solicitações e todo o “ruído” existente à nossa volta que não nos permite a concentração. As novas tecnologias absorvem-nos. Não posso permitir que seja por completo, que me roubem o meu espaço interior, a minha criatividade, onde tudo o que me é útil e válido tem lugar e onde tudo começa. Tenho de saber optar e selecionar. Tudo tem, como se costuma dizer: “conta, peso e medida”. Mas às vezes torna-se difícil prosseguir os nossos objetivos. Ao mesmo tempo as redes sociais constituem de algum modo uma companhia, ajudam a quebrar a solidão. Habituamo-nos aos “likes” dos amigos e familiares. Como não dispersar-se então? Qual o processo mais eficaz? Como procurar manter sempre a nossa autoestima a um nível positivo, para que não nos deixemos desmotivar com os nossos pequenos insucessos, ao procurar alcançar os objetivos propostos, interrompidos face à dispersão em que mergulhamos sem nos apercebermos? Talvez começar por pequenos passos, metas tangíveis e exequíveis.
Há alguns dias fui visitar uma
familiar ainda jovem que sofreu um AVC muito grave. Tornou-se necessário
aceitar que a sua recuperação seria lenta, que as pequenas conquistas a
alcançar, não seriam fáceis de todo, apesar de todo o amor que lhe temos e da
nossa ansiedade por a ver bem, recuperada. Constituiu uma alegria enorme,
quando pela primeira vez conseguiu pegar numa caneta e escrever o seu nome.
Quando se sentou. Quando tentou balbuciar as primeiras palavras…E assim, fomos
e vamos conseguindo gerir as expetativas a curto e médio prazo, sem fazer
grandes projetos para o futuro, vivendo o tempo presente, com alegria, face às
conquistas que se vão alcançando no tempo presente, conseguindo gerir as
emoções, sem perder a esperança no futuro.
Mas também existem estímulos
positivos das redes sociais se soubermos gerir os tempos e o modo de
utilização, ou seja, se nos soubermos defender, com algum cuidado, não expondo
em demasia a nossa vida pessoal e familiar, usufruindo com cuidado, do tempo
que tínhamos delineado. Constitui também um modo de partilhar conhecimentos,
gostos, quebrar alguma solidão sentida, que hoje em dia prolifera devido à
baixa taxa de natalidade, ao aumento da esperança média de vida em que os
idosos frequentemente se encontram sós. Mas todo o cuidado é pouco já que constituímos
sempre um alvo de pessoas com intenções menos boas. Falo por mim, já que um dia
recebi um telefonema de uma ‘amiga’ questionando onde me encontrava. Respondi
que me encontrava a almoçar em companhia dos meus filhos. A pessoa em questão,
muito admirada, referiu que tinha recebido uma mensagem minha dizendo que me
encontrava na Ucrânia, que tinha sido assaltada, precisava de dinheiro para
pagar o hotel e regressar. Foi muito desagradável. Tive de participar à Polícia
Judiciária que me alertou para que todo o cuidado é pouco com a utilização das
novas tecnologias. Sobretudo quando não as dominamos completamente. Nunca soube
qual a origem desta mensagem. Unicamente que foi enviada para a minha rede de
contactos do email. Durante algum
tempo fiquei traumatizada e receosa. Mas, “por morrer uma andorinha não acaba a
primavera”! Lentamente, retomei a atividade nas redes sociais, mais consciente
do perigo da sua utilização indevida, com toda a cautela, sabendo que, ainda
assim, não se evita o risco. Temos de fazer opções! Há quem, prudentemente, se
recuse a utilizar algumas das novas tecnologias. Por outro lado, se nos
encontramos envolvidos no ruído que circula à nossa volta, torna-se quase
impossível, a não ser que balizemos a sua utilização, ligarmo-nos com o mundo
interior onde tudo começa… Em última análise, é o modo como traduzimos as ideias
em resultados. E também para ouvir o que Deus nos quer transmitir. S. Josemaria in Sulco, escreveu: “Ganha
intimidade com Ele, para chegares a todos”. E ainda: “Agitam-se-me na cabeça os
assuntos nos momentos mais inoportunos…”, dizes. Por isso te recomendei que
procures conseguir uns tempos de silêncio interior… e a guarda dos sentidos
externos e internos”. O Papa Francisco referiu: “A paz de Jesus é um dom. Não
podemos tê-la com os meios humanos. A paz de Jesus ensina-nos a suportar,
suportar é carregar sobre os ombros a vida, as dificuldades, o trabalho, tudo.
É ter a coragem de ir avante”. Talvez ajustando o tempo que dedicamos às novas
tecnologias e a outros afazeres, em detrimento do que verdadeiramente importa:
algum tempo de silêncio interior. Sem a visão de Deus na nossa vida, no nosso
horizonte, acabamos por nos perder, sofrendo a civilização com o aumento da
violência, da indiferença pelo outro, ou seja, da defesa dos valores do bem
comum. Santa Maria, rainha da esperança, intercede para que o homem continue a
encontrar Jesus na sua vida, ajudando-o a lutar por causas nobres, em prol da
paz, da justiça, da defesa da humanidade e da promoção do seu bem-estar.
Maria Helena Paes |
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