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terça-feira, 18 de agosto de 2020

Santa Helena e o Pedido de Uma Amiga

Há alguns dias uma amiga sugeriu-me que escrevesse um artigo sobre Santa Helena, a santo do meu nome, talvez por isso mesmo, por ser portadora do seu nome. Recuei à minha infância. Recordei a minha avó Isabel, que sugeria o nome que os seus netos deveriam ter, sempre antecedido de Maria. Eu era a mais velha das quatro raparigas, pelo que acredito que deveria ser a santa da sua devoção. Muitas vezes referia que era “a santa da cruz”. Na verdade, a avó Isabel, teria uma grande influência na minha vida. Creio que gostava muito de mim. Um dos episódios que mais me marcaram, foi um dia ter-me oferecido um vestido muito bonito, referindo para eu ter cuidado em não o sujar. Mas não resisti: entrei num carro de brincar e sujei o vestido com óleo. Recordo o ar desolado da avó Isabel e a minha tristeza quando me repreendeu. Não queria de todo que tivesse acontecido (desculpa avó, era uma má aprendiz, não era como a Santa Helena). Outro episódio que recordo era o missal da avó, que hoje conservo em meu poder. Dizia-me que era da sua mãe, de origem francesa. Ficava admirada por ter tantas pagelas de santos. Talvez por sua influência, vivíamos então em Espanha na cidade de Huelva, tinha 11 anos, preocupava-me por a minha irmã mais nova com cerca de um ano não ser batizada. Um dia resolvi ir à Igreja, perto da casa onde residíamos, falar com o sacerdote, manifestar a minha preocupação pelo facto de a minha irmã Isabel não ser batizada e pedir para o fazer, acrescentando ainda que queria ser a madrinha. O sacerdote admirado anuiu. Pediu para levar os pais para combinar a data da cerimónia. Foi com surpresa que a família recebeu a notícia. Pouco depois, a minha irmã Isabel seria batizada. Da cerimónia recordo o sacerdote a consolar-me por não ser possível, eu ser a madrinha, face à minha pouca idade. Seria substituída pela avó Isabel nas assinaturas. Contudo seria eu sempre a sua madrinha de coração. Muitos anos mais tarde, seria eu a também a levar-lhe o sacerdote para receber a Unção dos Doentes, estando ela com enfermidade muito grave. Mas voltemos à avó Isabel, que se preocupava com a minha educação. Não devia ser fácil, reconheço hoje, já que me corrigia constantemente: “Senta-te corretamente, Maria Helena. Não podes cruzar as pernas”. Um dia confidenciei-lhe que queria ser princesa, também santa, ou freira ou ainda arqueóloga. Bem depressa mudei de ideias, tendo começado a referir que queria tirar o “brevet”. Gostaria de pilotar aviões. Anos mais tarde dirigi-me à Escola de Pilotagem de Tires, para saber o que seria necessário para tornar este meu sonho uma realidade. Cheguei mesmo a fazer um voo experimental. Mas a vida levar-me-ia por outros caminhos. Na verdade, o ideal mesmo seria dar testemunho de Jesus através da Sua Palavra e da minha atividade profissional. Mas como S. Paulo referiu sabiamente: “Vejo o bem que quero fazer, mas esse, nem sempre o faço”. Já o Papa Francisco escreveu: “A fé é um dom que mantém viva uma certeza profunda e bela: somos filhos amados de Deus”. Interiormente, pensei que Deus, um Pai misericordioso, tem um plano para a nossa vida, que nos ama, independentemente daquilo que sejamos, dos erros que cometemos. Basta olharmos para a história da humanidade. Tantas coisas boas feitas, mas infelizmente, o homem também faz o mal. Logo, precisamos de pessoas com fé, de oração, com um espírito de entrega aos outros. Os santos são a prova viva disso mesmo. Pessoas normais que também erraram, mas souberam pedir perdão, corrigiram os seus erros e hoje são santos de altar contribuindo através do seu exemplo para se promover o bem.

Mas voltemos a Santa Helena. Possuo uma pagela antiga, da minha avó Isabel, desta Santa com a Cruz, com que mandei fazer um registo muito bonito há largos anos para perpetuar não só a memória da minha avó mas também para recordar a Santa que me deu o nome, Santa Helena de Constantinopla, que foi mãe do imperador Constantino. Nasceu no seio de uma família modesta em Depranon, na Bitínia, Ásia Menor, no ano 250. Inteligente e bonita, acabaria por se casar com um oficial romano Constâncio Cloro, de quem teria um filho, Constantino. O marido viria a repudiá-la 20 anos após o casamento quando recebeu o título de “augusto” e se tornou imperador. Este casamento não seria reconhecido pela lei romana por se tratar de um patrício e de uma plebeia. Constantino, depois da morte do pai, gostando muito da mãe, corrigiu esta situação concedendo-lhe o título de “augusta” ou seja, “rainha-mãe”. Santa Helena tinha-se convertido ao cristianismo, (acredita-se que terá acontecido durante os seus primeiros anos de casamento), tendo conduzido igualmente o seu filho ao cristianismo. Já com outra disponibilidade, ajudava os pobres, as obras de beneficência, e a construção de igrejas e mosteiros na Terra Santa e em Roma. Embora de idade avançada, acompanhou pessoalmente as escavações iniciadas pelo bispo São Macário que conduziram à descoberta emocionante no ano 326, do túmulo de Cristo escavado na rocha, da Cruz de Cristo e das dois ladrões. A Cruz de Cristo Santa Helena dividiu em 3 partes. Uma para o Bispo São Macário, para que a entronizasse na Igreja de Jerusalém. Uma segunda parte para a Igreja de Constantinopla. A terceira parte para Roma, para a Basília da santa Cruz de Jerusalém. No local da Crucificação de Jesus, seria posteriormente construída a Basílica do Santo Sepulcro. Ainda segundo uma tradição, foi Santa Helena que explorou e encontrou a gruta onde Jesus nasceu em Belém, o local onde Jesus esteve com os discípulos no Monte das Oliveiras, antes da Ascensão, tendo sido aqui construída a Basílica de Santa Helena. Faleceria por volta do ano 330, nos braços do seu filho. A sua festa litúrgica tem lugar no dia 18 de Agosto

Muito mais se poderia contar sobre Santa Helena, padroeira, entre outros, dos arqueólogos. Algumas das suas relíquias encontram-se em Roma na Capela que lhe foi dedicada. No Museu Pio-Clementino, no Vaticano, encontra-se o sarcófago de Santa Helena. Pela minha mente surgiu uma visita feita a Roma há alguns anos atrás ao Santuário da Scala Santa, (Escada Santa), com 28 degraus, mandada transferir por Santa Helena, no ano 326. Estas escadas, que muitas vezes são subidas de joelhos, com muita emoção pelos crentes, levavam até ao alto do pretório de Pôncio Pilatos em Jerusalém. Foram subidas por Jesus antes da Sua condenação à morte. Situado como ponto final, encontra-se o Sancta Sanctorum onde se conserva uma antiquíssima imagem “arquetípica” de Jesus Redentor.

Possuo uma enorme admiração por Santa Helena, a Santa representada com uma Cruz. Novamente veio ao pensamento uma situação vivenciada há alguns anos. Fui visitar o Pelourinho em S. Salvador da Baía, no Brasil. Estava na companhia dos meus filhos. Tirámos uma fotografia no centro da Praça. Mais tarde ao mostrá-la a um sacerdote amigo, ele referiu gracejando, que atrás de mim se encontrava uma Cruz, tal como Santa Helena. Achei imensa graça porque não tinha reparado no pormenor. Obrigada, amiga, pelo pedido que me trouxe boas recordações. Santa Maria, Esperança Nossa, Rainha da Família, intercede por todas as Famílias, em particular pelas que sofrem por algum motivo.


Maria Helena Paes



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