O príncipe Harry e a esposa; Meghan Markle, declararam que não pretendem ter mais do que dois filhos, para dessa forma darem um exemplo de preservação do futuro ambiental do planeta. Atitudes como essa vão-se generalizando. Há mesmo quem, com essa motivação, recuse ter filhos. Há tempos, foram muitos os que, por isso, criticaram o irmão de Harry, o príncipe William, e a esposa, Kate Middleton, quando lhes nasceu o terceiro filho.
Logo
a seguir a tais declarações, foram muitas as vozes que criticaram o príncipe
Harry por usar tão frequentemente um jato privado nas suas deslocações (numa
ocasião, foram quatro vezes em onze dias). É evidente que essas deslocações
muito mais afetam o ambiente do que o fazem pessoas com hábitos mais modestos.
É claro que o crescimento demográfico poderá prejudicar o ambiente se não forem
alterados os hábitos de produção e consumo. Mas o que se tem verificado nos
países ricos é que a queda da natalidade coincide com a manutenção (e até o
incremento) desses hábitos Decisivo na perspetiva da preservação do ambiente,
não são o maior, ou menor, crescimento demográfico, mas, antes, esses hábitos
de produção e consumo. A redução da natalidade (que muitas vezes se propugna
para os países pobres) pode, até, servir de fácil pretexto para não alterar
esses hábitos (que são, sobretudo, os dos países ricos).
A
esta questão alude o Papa Francisco na encíclica Laudato Sì. Aí afirma (n. 50).
«Em
vez de resolver os problemas dos pobres e pensar num mundo diferente, alguns
limitam-se a propor uma redução da natalidade. Não faltam pressões
internacionais sobre os países em vias de desenvolvimento, que condicionam as
ajudas económicas a determinadas políticas de “saúde reprodutiva”. Mas, “se é
verdade que a desigual distribuição da população e dos recursos disponíveis
cria obstáculos ao desenvolvimento e ao uso sustentável do ambiente, deve-se
reconhecer que o crescimento demográfico é plenamente compatível com um desenvolvimento
integral e solidário”. Culpar o incremento demográfico em vez do consumismo
exacerbado e seletivo de alguns é uma forma de não enfrentar os problemas.
Pretende-se, assim, legitimar o modelo distributivo atual, no qual uma minoria
se julga com o direito de consumir numa proporção que seria impossível
generalizar, porque o planeta não poderia sequer conter os resíduos de tal
consumo.»
A queda da natalidade que impede a
renovação das gerações (renovação que não é assegurado quando os casais têm
menos do que dois filhos) origina graves problemas de sustentabilidade dos
sistemas de proteção social e de saúde.
Mas há que acentuar, sobretudo, que a
proteção da ambiente não deve ser encarada numa perspectiva anti-humanista,
como se a presença e atividades humanas fossem necessariamente nefastas nessa
pesrpetiva. A natureza deve ser vista como um dom de Deus à humanidade. O ser
humano é, na visão bíblica e cristã a coroa da criação, «criado à imagem e semelhança de Deus» (Gn 1, 26-27), «a única
criatura que Deus quis por si mesma» (Gaudium
et Spes, 24). Cada pessoa humana vale mais do que as árvores, os oceanos e
as estrelas. A sua especificidade reside na sua liberdade, Uma liberdade que
lhe permite destruir esse dom que recebeu, mas também que lhe permite
preservá-lo, dar-lhe sentido e valor, e, através da inteligência e
criatividade, aperfeiçoá-lo e completá-lo.
É por isso que não faz sentido contrapor a
natalidade e a proteção do ambiente.
Pedro Vaz Patto
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