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segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Razões da participação dos cristãos na Vida Política - I

Os resultados das últimas eleições europeias impelem-nos a reflectir sobre as razões, a necessidade e a urgência da participação dos cristãos na vida política.

A maior parte de nós viveu a sua adolescência e juventude numa época em que a participação na vida política estava na ordem do dia. Havia interesse, debatiam-se ideias, confrontavam-se argumentos. A verdade é que, na primeira pessoa, ou através de figuras de familiares, crescemos em presença de uma cultura de participação política ativa.

Com a maturação do regime democrático em Portugal, esta incandescência arrefeceu e fomo-nos deixando tomar pelo rótulo do ‘povo de brandos costumes’. Todavia, cada um de nós - arrisco a dizer - pela sua história pessoal, de um modo ou de outro, também já percepcionou o quão importante foi para aquele filho, aquele amigo, aquela escola, instituição, a intervenção certeira, verdadeira e cristã que conseguiu separar as águas, distinguir o preto do branco e mostrar um caminho que parecia ofuscado pelo ambiente e pela cultura dominante.

Ser cristão é identificarmo-nos com Jesus Cristo e conformarmos a nossa vida ao Evangelho. Ser Cristão é uma opção pessoalmente exigente que impele a uma cidadania responsável. Esta ideia não é de agora. Ao lermos as Epístolas encontramos inúmeras referências de que assim foi desde o início, nas diversas exortações a uma existência virtuosa, ao respeito e atendimento dos mais desfavorecidos, ao cumprimento das obrigações cívicas, como pagamento pontual dos impostos, o respeito pela autoridade, entre outras - “dai a cada um o que lhe é devido: o imposto, a quem se deve o imposto; a taxa a quem se deve a taxa; o respeito a quem se deve o respeito; a honra a quem se deve a honra (Rm 13,7)”.  Ainda podemos ler na Carta a Diogneto, de um autor eclesiástico dos primeiros tempos -“Os cristãos residem na sua própria pátria, mas vivem todos como de passagem; em tudo participam como os outros cidadãos, mas tudo suportam como se não tivessem pátria (…). Obedecem às leis estabelecidas, mas pelo modo de vida superam as leis (…). Tão nobre é o posto que Deus lhes assinalou, que não lhes é lícito desertar”.

Cada tempo histórico desafia os cristãos a diferentes formas de participação na vida política. Conquistados os direitos e liberdades fundamentais, através dos quais podemos eleger os nossos representantes no governo central e local, é interessante pensar de que forma poderemos concretizar modos de intervenção cívica e política que cristianizem a sociedade defendendo os valores e verdades fundamentais. São João Paulo II, na exortação apostólica  Christifidelis laici nº 42, refere - “Num sistema político democrático, a vida não poderia processar-se de maneira profícua sem o envolvimento ativo, responsável e generoso de todos, ‘mesmo na diversidade e complementaridade de formas, níveis, funções e responsabilidades’.” Numa nota doutrinal da Congregação da Doutrina da Fé sobre a participação dos Católicos na vida pública (2002) pode ler-se -“ (…) os fiéis leigos desempenham também a função que lhes é própria de animar cristãmente a ordem temporal”. Chegadas a este ponto creio ser interessante que pensemos, em conjunto e também cada uma de per si, como poderemos fazê-lo?

Isabel Alexandre



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