A maior parte de nós viveu a sua adolescência e juventude
numa época em que a participação na vida política estava na ordem do dia. Havia
interesse, debatiam-se ideias, confrontavam-se argumentos. A verdade é que, na
primeira pessoa, ou através de figuras de familiares, crescemos em presença de uma
cultura de participação política ativa.
Com a maturação do regime democrático em Portugal, esta
incandescência arrefeceu e fomo-nos deixando tomar pelo rótulo do ‘povo de
brandos costumes’. Todavia, cada um de nós - arrisco a dizer - pela sua
história pessoal, de um modo ou de outro, também já percepcionou o quão
importante foi para aquele filho, aquele amigo, aquela escola, instituição, a
intervenção certeira, verdadeira e cristã que conseguiu separar as águas,
distinguir o preto do branco e mostrar um caminho que parecia ofuscado pelo
ambiente e pela cultura dominante.
Ser cristão é identificarmo-nos com Jesus Cristo e
conformarmos a nossa vida ao Evangelho. Ser Cristão é uma opção pessoalmente
exigente que impele a uma cidadania responsável. Esta ideia não é de agora. Ao
lermos as Epístolas encontramos inúmeras referências de que assim foi desde o
início, nas diversas exortações a uma existência virtuosa, ao respeito e
atendimento dos mais desfavorecidos, ao cumprimento das obrigações cívicas,
como pagamento pontual dos impostos, o respeito pela autoridade, entre outras -
“dai a cada um o que lhe é devido: o imposto, a quem se deve o imposto; a taxa
a quem se deve a taxa; o respeito a quem se deve o respeito; a honra a quem se
deve a honra (Rm 13,7)”. Ainda podemos
ler na Carta a Diogneto, de um autor eclesiástico dos primeiros tempos -“Os
cristãos residem na sua própria pátria, mas vivem todos como de passagem; em
tudo participam como os outros cidadãos, mas tudo suportam como se não tivessem
pátria (…). Obedecem às leis estabelecidas, mas pelo modo de vida superam as
leis (…). Tão nobre é o posto que Deus lhes assinalou, que não lhes é lícito
desertar”.
Cada tempo histórico desafia os cristãos a diferentes formas
de participação na vida política. Conquistados os direitos e liberdades
fundamentais, através dos quais podemos eleger os nossos representantes no
governo central e local, é interessante pensar de que forma poderemos
concretizar modos de intervenção cívica e política que cristianizem a sociedade
defendendo os valores e verdades fundamentais. São João Paulo II, na exortação
apostólica Christifidelis laici nº 42, refere - “Num sistema político democrático,
a vida não poderia processar-se de maneira profícua sem o envolvimento ativo,
responsável e generoso de todos, ‘mesmo na diversidade e complementaridade de
formas, níveis, funções e responsabilidades’.” Numa nota doutrinal da
Congregação da Doutrina da Fé sobre a participação dos Católicos na vida
pública (2002) pode ler-se -“ (…) os fiéis leigos desempenham também a função
que lhes é própria de animar cristãmente a ordem temporal”. Chegadas a este
ponto creio ser interessante que pensemos, em conjunto e também cada uma de per
si, como poderemos fazê-lo?
Isabel Alexandre |
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