A propósito da festa e dos
jovens, recordei que há muitos anos atrás tinha sido forçada a fazer uma opção
na minha vida rumo ao desconhecido. A diferença é que então era mais jovem e
tinha todo um futuro pela frente. Recordo que, quando referi que me ia embora,
me disseram: “Porque se vai embora? Tem tudo o que nós queríamos que uma
colaboradora tivesse!” Mas a família, os sonhos, as ideias, as causas, foram
determinantes para esta minha tomada de decisão. E assim prossegui o meu
caminho. São opções que se fazem a certa altura da nossa vida. E o caminho
torna-se irreversível, rumo ao melhor ou ao pior, sendo contudo uma viagem sem
retorno. Várias vezes durante o nosso percurso de vida somos confrontados com
decisões que mudam a nossa vida. Passos que damos rumo ao futuro com decisões
que julgamos serem definitivas, mas fatores externos ou que têm a ver com o
nosso crescimento, com situações que vivenciamos alheias à nossa vontade, que nos
impelem a procurar alternativas, outros percursos de vida. O que era já não é,
já não faz mais sentido. Encontramo-nos então numa encruzilhada. Trocar o certo
pelo incerto, ou continuar a vivenciar uma situação que, com algum grau de
frequência, nos parece tornar prisioneiros de uma decisão tomada, quando o
contexto envolvente se modificou, e já não acrescenta valor à nossa vida
quotidiana. Começamos a pesar os prós e os contras, a colocar na balança os
nossos sonhos e projetos, a estabilidade versus a instabilidade, e aceitamos ou
não a situação que vivenciamos no presente. Recordo-me que há uns anos atrás,
conheci um médico excelente, muito boa pessoa, por quem os doentes tinham um
enorme apreço. Parecia e acredito que o era, muito feliz com o trabalho que
desenvolvia em prol da sociedade. Um dia fui surpreendida ao saber que se ia
embora. Sentia necessidade de aprofundar os seus conhecimentos para melhor
prestar o serviço à sociedade. E partiu para fazer um doutoramento noutro país.
Calculo que terá tido de colocar na balança a sua decisão, de ter ponderado
bastante e de ter feito uma opção que se adequava mais ao seu projeto de vida.
Nunca mais tive notícias suas. Suponho que não terá regressado ao nosso país! E
assim vamo-nos cruzando com pessoas que a certa altura da vida, alteraram
completamente o seu rumo. Por ironia do destino hoje sou confrontada com uma
frase do Papa Francisco: “Os Pastores não vivem para si mesmos, mas para as
suas ovelhas… um amor sem medida”. Na verdade, tenho uma grande admiração não
só pelos sacerdotes, mas também pelas pessoas que consagram a sua vida a Deus,
em serviço ao próximo. Temos os exemplos recentes da Madre Teresa de Calcutá, do
Papa João Paulo II, de S. Josemaria,
de tantos que foram mártires (sem o serem), que lutaram no seu dia-a-dia, que
foram pessoas correntes e que hoje são santos de altar que, com o exemplo da
sua vida, nos fazem acreditar na bondade do ser humano e ver Jesus no próximo.
Passo a citar S. Josemaria que
escreveu sobre o chamamento universal à santidade in Forja: “Repara bem: há muitos homens e mulheres no mundo e nem
um só deles deixa o Mestre de chamar. Chama-os a uma vida cristã, a uma vida de
santidade, a uma vida de eleição, a uma vida eterna”. Já o Papa Francisco,
referindo-se aos Santos Pedro e Paulo, que comemorámos há dias, comentou num tweet “foram transparentes diante de
Deus. Na vida, mantiveram essa humildade, até ao fim: eles compreenderam que a
santidade não está no elevar-se, mas no abaixar-se”.
E várias vezes ao longo da vida me deparei com diferentes encruzilhadas, em que fui impelida a tomar decisões, acreditando piamente que os desígnios de Deus são insondáveis, que se uma porta se fecha outra se abre, que se torna sempre necessário manter a esperança no futuro, que Deus escreve direito por linhas tortas, que se não compreendo, de momento, um dia, mais tarde, tornar-se-á claro, o que Deus pedia numa situação concreta. E hoje, ainda sinto alguma inquietação e vontade de partir rumo ao desconhecido. Vários fatores me prendem: a família, a idade, as responsabilidades… Talvez não me dissessem: “Tem tudo o que nós queríamos que tivesse!” O melhor mesmo é continuar, sempre que possível, as minhas caminhadas à beira-rio. Santa Maria, rainha da Família, abençoa e protege todas as famílias.
Maria Helena Paes |
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