No Presépio nunca podem faltar o Menino, a Virgem Maria e S. José. Os Pastores e os Reis Magos são também figuras tradicionais, por virem mencionadas nos Evangelhos. Neste Natal de 2019, tenho a alegria de vos anunciar uma boa notícia. Os Pastores do dia 25 de Dezembro, aqueles que adoram o Menino, ainda existem no séc. XXI.
Há
cerca de quinze anos, chegou aos Açores um jovem casal de origem asiática.
Montaram a sua “Loja do Chinês” e foram sobrevivendo. Viviam bastante isolados,
pois o idioma parecia uma barreira intransponível que tinha a agravante de não
poder ser apoiada pela escrita, pois os caracteres chineses são muito
diferentes dos latinos. Felizmente, os vizinhos eram amigáveis nos gestos de
saudação.
Na casa ao lado vivia Camila com seu
marido e filhos. Possuíam uma pequena lavoura com vacas e, nas traseiras da
vivenda, tinham uma horta e pomar onde criavam coelhos, cabras, galinhas,
porcos e pombos. De vez em quando, partilharam com os recém-chegados hortaliças
e carnes, e eles retribuíam a amabilidade com algo da loja. Esta família foi de
grande apoio quando nasceu o primeiro filho. A novidade encantou todos e Camila
esforçava-se por não os deixar passar fome, cozinhando para eles enquanto a mãe
esteve impossibilitada de trabalhar. A tarefa foi difícil, pois não estavam
acostumados aos sabores da ilha. A sopa foi o prato que mais lhes agradou.
Logo
que a jovem mãe se recompôs, voltou ao trabalho, deixando o bebé ao cuidado de
Camila. Ao chegar o Natal, Camila percebeu que a “Loja do Chinês” não fechava.
Para aquela família não havia festa. De acordo com o marido e filhos, convidou
o casal para o jantar de Natal, dando-lhes oportunidade de ouvirem as canções
que todos cantavam diante do Presépio e de provarem uma ementa diferente. Os
estrangeiros ficaram encantados com a hospitalidade e com a novidade daquela
tradição. Entretanto, o bebé crescia e começava a falar; enquanto estava com
Camila aprendia palavras em português. Assim, tornou-se no intérprete de todos,
e os pais progrediram na sua capacidade de diálogo o que lhes facilitou o
atendimento a clientes.
A
família Chang tornou-se presença habitual nos jantares de Natal em casa de
Camila, mostrando interesse em conhecer que festa era aquela, e começando até a
assistir à Missa do galo. Com a passagem dos anos, nasceu-lhes outro filho e o
mais velho começou a frequentar a escola e a catequese. Foi assim que aprendeu
a rezar e pediu para ser batizado. Este facto levou os pais a indagarem junto
do casal açoriano o que era o Batismo e aquela religião.
Carlos,
o marido de Camila, também teve um lugar importante nesta história de Natal.
Gostava de crianças e costumava levar com ele o filho mais novo para os pastos.
Com quatro anos, o miúdo já era capaz de mudar uma vaca de local, enquanto o
pai se encarregava de espetar a estaca mais adiante. Bem cedo, os chinesitos
começaram a acompanhá-los ao pasto. Quando o pai deles os levava, demorava-se à
conversa com Carlos e a amizade parece ter surgido para ficar.
Foi
assim que esta família soube que Jesus nasceu e veio para nos salvar. Há já dois
anos que o casal foi batizado, se casou e fez a sua primeira comunhão. Li, o
filho mais velho foi batizado com seis anos, no mesmo dia que o irmão mais
novo. Os pais demoraram mais tempo, pois necessitavam de maior preparação e o
horário da loja era apertado. O deslumbramento face ao Presépio e a amizade com
Carlos e Camila preparou-os, e a ajuda dos filhos adolescentes, na loja,
permitiu-lhes serem mais assíduos às aulas de catequese.
Se os pastores de Belém foram os primeiros anunciadores da chegada do Messias, e os pastores açorianos continuam a dar exemplo de verdadeiros cristãos. Como não ter esperança no século XXI?
Isabel Vasco Costa
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