”No tempo em que a mentira parece prevalecer, procurar viver pela verdade é, em si mesmo, o mais glorioso acto de liberdade”
“O insuspeito George Orwell, que
dizia ter ido para Espanha com o firme propósito de `matar fascistas´, concluía
depois que a guerra civil espanhola tinha produzido uma das mais abundantes
´colheitas de mentiras´ da nossa História recente. Fora em Espanha que vira,
pela primeira vez, reportagens jornalísticas `que não guardavam a menor relação
com os factos, não revelando sequer `o tipo de relação com a realidade que se
espera das mentiras comuns correntes´. E era sobre estes relatos, sobre as
`mentiras vendidas pelos jornais de Londres´, que 'ávidos intelectuais´ construíam
`superestruturas emocionais sustentadas em eventos que nunca tinham ocorrido´.
Para ele, os métodos de distorção dos jornais de esquerda, mais subtis,
causavam maior entrave ao conhecimento da verdade do que os alucinados exageros
da imprensa pró-rebeldes. Por isso levou a cabo uma cruzada pessoal para
desafiar a versão `autorizada ‘dos acontecimentos que a imprensa comunista e
liberal inglesa divulgava, apelando à necessidade de se recomeçar pela recolha
e análise dos factos e batendo-se por uma verdade sem `factos alternativos´,
por uma questão de honestidade intelectual. Este alarme, quanto ao extravio do
conceito de verdade objectiva, levou-o à reflexão sobre os mecanismos do
sistema totalitário que acabaria por ficcionar em 1984. George Orwell não era
um santo nem um génio mas a sua posição moral perante a verdade ilumina hoje,
mais do que nunca, a relação que deve existir entre a acção política e a
História.
O Oxford
English Dictionary define o conceito de `pós-verdade´ como `relativo à
maior influência na opinião pública das emoções e das crenças pessoais do que
dos factos objectivos´. (…)
Para Orwell, `quem controlava o
Presente controlava o Passado, e quem controlava o Passado controlava o
Futuro´. Por isso a manipulação dos facos históricos assustava-o `muito mais do
que as bombas´.”
Esta pequena passagem retirada do
livro “REVOLUÇÃO!”, de José Luís Andrade, é um simples apontamento que nos
ajuda a compreender, como de forma tão grave, o passado tem sido vilipendiado,
nomeadamente desde o século XIX, já ele recheado de factos intencionalmente
distorcidos, mas passados como verdades, que desde os alvores da Revolução
Francesa, deslizando por todo o século XIX, apoiados por pensadores, escritores
e toda uma ampla rede de intelectuais carentes de protagonismo politico, social
e filosófico.
O epicentro desta obra é a reposição da
Verdade, aquela que foi omissa ao longo de muitos anos, nas Escolas, nos
Liceus, nas Faculdades e nos Mass Media,
aqui e além-fronteiras, nomeadamente em Espanha e França, a cuja influência se
renderam incondicionalmente os nossos ilustres pensadores.
Um livro verdadeiramente apaixonante no sentido da coerência e transparência dos factos, com uma leitura clara e fluente, que nos conduz pelos meandros da História dos últimos séculos, chegando ao fim com a agradável sensação de não nos termos maçado com as descrições, porque o são duma leveza clara, inquestionável e irresistível.
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