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quarta-feira, 5 de agosto de 2020

A verdade acerca da mentira na história

 

”No tempo em que a mentira parece prevalecer, procurar viver pela verdade é, em si mesmo, o mais glorioso acto de liberdade”

 

“O insuspeito George Orwell, que dizia ter ido para Espanha com o firme propósito de `matar fascistas´, concluía depois que a guerra civil espanhola tinha produzido uma das mais abundantes ´colheitas de mentiras´ da nossa História recente. Fora em Espanha que vira, pela primeira vez, reportagens jornalísticas `que não guardavam a menor relação com os factos, não revelando sequer `o tipo de relação com a realidade que se espera das mentiras comuns correntes´. E era sobre estes relatos, sobre as `mentiras vendidas pelos jornais de Londres´, que 'ávidos intelectuais´ construíam `superestruturas emocionais sustentadas em eventos que nunca tinham ocorrido´. Para ele, os métodos de distorção dos jornais de esquerda, mais subtis, causavam maior entrave ao conhecimento da verdade do que os alucinados exageros da imprensa pró-rebeldes. Por isso levou a cabo uma cruzada pessoal para desafiar a versão `autorizada ‘dos acontecimentos que a imprensa comunista e liberal inglesa divulgava, apelando à necessidade de se recomeçar pela recolha e análise dos factos e batendo-se por uma verdade sem `factos alternativos´, por uma questão de honestidade intelectual. Este alarme, quanto ao extravio do conceito de verdade objectiva, levou-o à reflexão sobre os mecanismos do sistema totalitário que acabaria por ficcionar em 1984. George Orwell não era um santo nem um génio mas a sua posição moral perante a verdade ilumina hoje, mais do que nunca, a relação que deve existir entre a acção política e a História.

O Oxford English Dictionary define o conceito de `pós-verdade´ como `relativo à maior influência na opinião pública das emoções e das crenças pessoais do que dos factos objectivos´. (…)

Para Orwell, `quem controlava o Presente controlava o Passado, e quem controlava o Passado controlava o Futuro´. Por isso a manipulação dos facos históricos assustava-o `muito mais do que as bombas´.”

Esta pequena passagem retirada do livro “REVOLUÇÃO!”, de José Luís Andrade, é um simples apontamento que nos ajuda a compreender, como de forma tão grave, o passado tem sido vilipendiado, nomeadamente desde o século XIX, já ele recheado de factos intencionalmente distorcidos, mas passados como verdades, que desde os alvores da Revolução Francesa, deslizando por todo o século XIX, apoiados por pensadores, escritores e toda uma ampla rede de intelectuais carentes de protagonismo politico, social e filosófico.

O epicentro desta obra é a reposição da Verdade, aquela que foi omissa ao longo de muitos anos, nas Escolas, nos Liceus, nas Faculdades e nos Mass Media, aqui e além-fronteiras, nomeadamente em Espanha e França, a cuja influência se renderam incondicionalmente os nossos ilustres pensadores.

Um livro verdadeiramente apaixonante no sentido da coerência e transparência dos factos, com uma leitura clara e fluente, que nos conduz pelos meandros da História dos últimos séculos, chegando ao fim com a agradável sensação de não nos termos maçado com as descrições, porque o são duma leveza clara, inquestionável e irresistível.

Maria Susana Mexia


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