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domingo, 30 de abril de 2017

O Dia Seguinte

Hoje ao acordar, deparei-me com um dia de muito nevoeiro. Tinha já agendado um encontro com uma amiga para tomar um café. Fiquei um pouco indecisa. Contudo, decidi sair no sentido de arejar um pouco, de andar a pé em boa companhia. A minha amiga, quando me viu chegar ficou contente, comentando que tinha muitas novidades para me contar. Para ela, o dia de hoje constituía o dia seguinte de toda uma série de acontecimentos algo insólitos, que me pretendia revelar. Tomámos um café numa esplanada para apanharmos um pouco de sol e ouvir o desabafo da minha amiga. Tinha-lhe acontecido realmente algo insólito. 

Há já algum tempo tencionava trocar o carro antigo grande, que possuía, por um citadino, bem mais económico, mais fácil para andar em ambiente urbano e para estacionar. Também fazia intenção de comprar um passe, já que se tinha reformado, para utilizar mais os transportes públicos. Para isso muito contribuiu uma situação que vivenciara recentemente. Havia uma reunião na zona das Avenidas Novas a que devia assistir, tendo tido uma dificuldade enorme em estacionar. Atrasada, viu que tinha poucas moedas. Colocou as que tinha. Contudo a reunião demorou mais do que pensava. Acabou por ter de sair para colocar novamente mais moedas, que gentilmente lhe tinham facultado. Regressou ao local e depois de concluída a reunião, foi a correr para um restaurante situado perto, onde a aguardava uma amiga para posteriormente irem ao cinema. O almoço demorou mais do que o previsto. A certa altura, teve de sair a correr no sentido de colocar mais moedas. Quando a amiga chegou, transmitiu-lhe que já não queria ir ao cinema: procurar lugar novamente, colocar moedas sem saber o tempo de duração do filme, era demasiado. A amiga compreendeu a situação, ficando adiada a ida ao cinema. De regresso a casa, apercebeu-se que tinha sido colocada publicidade no limpa para-brisas do carro a qual foi todo o percurso a esvoaçar. Ao chegar a casa. Retirou a publicidade colocada na viatura. Por ironia do destino referia que compravam carros, pagando na hora, com termo de responsabilidade assinado no ato da compra. Talvez fosse um sinal. O melhor seria telefonar para saber qual era o valor efetivo da sua viatura. Agiu conforme tinha pensado, agendando para o dia seguinte a avaliação do carro. O vendedor muito amável, que se deslocava numa carrinha de um Centro Social Paroquial, inspirou-lhe alguma confiança, ofereceu-lhe mais do que alguma vez tinha pensado. O melhor seria aproveitar a oportunidade. Ficou então fixada a venda para o dia seguinte. Seria assinado o documento e feito o pagamento. A minha amiga ficou um pouco ansiosa. Será que, de algum modo, se tinha precipitado? No dia seguinte apareceu o vendedor à hora combinada muito apressado. Rapidamente procedeu ao pagamento, a minha amiga assinou o termo de responsabilidade. O vendedor pediu-lhe uma fotocópia do cartão de cidadão. Como tinha muita pressa passaria na manhã seguinte para a recolher deixando então, cópia do documento assinado. Depois pediu-lhe dinheiro para a escritura e demais despesas, contra o que estava combinado. Receosa, a minha amiga entregou-lhe o dinheiro, e o vendedor partiu rapidamente. Ficou muito aflita por não ter ficado com um comprovativo da venda. Resolveu ligar para a companhia de seguros para se informar do que seria necessário para cancelar o seguro e solicitar o estorno. Logo se apercebeu que, se algo acontecesse, seria a responsável, encontrando-se numa situação delicada. O melhor mesmo seria não cancelar o seguro enquanto não estivessem solucionados todos os procedimentos relativos à venda da viatura. Ligou para o vendedor para dar ênfase de que precisava de cópia do documento da venda para dar baixa do seguro, o qual lhe garantiu que na manhã seguinte, estaria de posse do referido documento. Já arrependida e algo assustada deu conhecimento à família do que se passava. Procuraram acalmá-la. No dia seguinte o vendedor foi protelando a chegada até cancelar. Adiou para o outro dia. Inquieta ligou para a PSP: o agente da autoridade procurou de algum modo tranquilizá-la dando-lhe conhecimento da legislação vigente, referindo que o melhor seria contactar a Polícia de Trânsito se algo acontecesse com a viatura. No dia seguinte o vendedor veio muito apressado. Levou a fotocópia do cartão de cidadão e entregou um documento dobrado partindo seguidamente na correria habitual. O documento não tinha utilidade já que nem a morada do comprador constava. Ligou para o vendedor a dar-lhe conhecimento do seu desagrado, questionando quando trataria da parte legal. Este respondeu que seria nos próximos dias, a não ser que pagasse, em virtude de não ter disponibilidade financeira para o fazer. A minha amiga, retorquiu então que, se não tinha dinheiro para efetivar a venda, devolvesse o carro. Ela por sua vez devolver-lhe-ia o dinheiro recebido. O vendedor anuiu garantindo que na manhã seguinte o iria entregar. Algo aliviada, arrependida com o que tinha feito, a pensar por onde andaria o carro, já que as pessoas lhe contavam situações parecidas que conheciam. Entretanto, informou a família, pedindo para alguém a acompanhar quando o vendedor chegasse. Um sobrinho disponibilizou-se para o efeito bem como o seu irmão. À hora combinada o vendedor ligou a referir que afinal não iria entregar o carro. Iria dar seguimento às formalidades. Revoltada, disse que queria imediatamente o carro: encontrava-se saturada e já não o queria vender. Se não o entregasse, chamaria a polícia para o irem buscar. Ao fim de dez telefonemas, apercebendo-se que estava irredutível, finalmente o vendedor viria trazer a viatura, acompanhado por duas pessoas. Deslocava-se na carrinha do Centro Social. A mulher trazia o carro da minha amiga. Procuraram provocar uma discussão, mas ninguém deu azo a isso. O seu sobrinho, mediador experiente, rapidamente resolveu a questão, solicitando os documentos e entregando o montante pago. Logo que partiram foram verificar se existiam prejuízos a lamentar. Nada demais. Unicamente o forro do teto estava meio arrancado e caído.

No rescaldo desta situação a minha amiga comentou, como ponto alto, que o que mais a tinha emocionado, foi que, ao abrir o porta-luvas, dera de imediato com uma pagela da época em que adquirira a viatura, com a fotografia de um santo da sua devoção, São Josemaria, que olhava para ela a sorrir. Parecia querer recordar-lhe que ela lhe tinha pedido para tomar conta do carro, e que ele tinha cumprido a sua missão. 

Mais tarde um vizinho tocou-lhe à campainha para lhe entregar um tablet que tinha encontrado caído na rua, e que, de imediato, pensou ser o dela. 

Duas coisas, extremamente positivas, para ajudarem a fazer esquecer alguns maus momentos... 

Maria Helena Paes



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