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quinta-feira, 27 de abril de 2017

Tradições Seculares versus os Novos Tempos

Impressionou-me pela sua grandiosidade, majestade e devoção com que foi vivida a Procissão do Enterro do Senhor, a que tive oportunidade de assistir na Vila de Mafra organizada pela Irmandade do Santíssimo Sacramento. As crianças vestidas de anjos exibiam nas suas mãos as relíquias da Paixão de Jesus, enquanto símbolos sagrados que nos recordam todos os momentos vivenciados pelo Senhor. Também nos levam a pensar que, a uma curta distância do local onde vivemos ou trabalhamos, temos Jesus presente no Sacrário de alguma igreja, em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Recordei ainda que muitos santos e mártires, os próprios cruzados, ofereceram as suas vidas em prol da conservação dos Lugares Santos. 

Na Procissão do Enterro, os escuteiros deram igualmente um grande contributo para esta solenidade, transportando o Pálio monumental do Senhor Morto e o Pálio do Santo Lenho. Esta procissão data de 1773, altura em que existe o registo do pagamento da nova imagem de roca de Nossa Senhora da Soledade. Em 1866, aquando da extinção da Ordem Terceira de S. Francisco, a procissão passou a ser organizada até aos dias de hoje pela Irmandade do Santíssimo Sacramento. Como vem sendo hábito, desenvolveu um trabalho notável que retrata o mais fielmente possível a morte de Jesus, fazendo-nos recordar que, terminado um dia o sofrimento, veremos a Luz; e que nas dificuldades existentes, unicamente os mais incondicionais se encontram presentes ao nosso lado. Jesus mergulhou, deixou-se tocar pela morte e inverteu a ordem, “o que é puro, santo, mergulhou no nosso mundo e no seu contacto terreno”. Com Jesus abre-se a possibilidade de nos libertarmos das impurezas desta vida e alcançarmos um dia o Céu, ou seja, a Vida Eterna. O Espírito Santo vai-nos colocando em contacto com Jesus, enquanto transmissores de paz, de alegria, de esperança, de bondade e de solidariedade que o Senhor semeou não desistindo de ninguém. Todos somos importantes!

O Cortejo fúnebre processional continua a percorrer o seu caminho. Coração, coração na Cruz! Não há maior dor do que a de Maria que acompanha Jesus até ao Calvário. As Três Marias estão igualmente representadas e ainda Verónica, que exibindo o véu com que limpou o rosto chagado de Jesus, canta e emociona-nos com uma dor profundamente sentida que nos trespassa o coração. Senhor Jesus, coberto de chagas tende piedade de nós! Sabemos que a morte não tem a última palavra. Cristo ressuscitou. Um dia ressuscitaremos com Ele. Enquanto protagonistas queremos neste momento, de rara beleza, consolar a Jesus e a Maria. Recordamos a sua agonia mortal em que referiu: “Pai, afasta de mim este cálice, porém não se faça a minha vontade mas sim a Tua”. Carregamos o cansaço, a dor, as nossas lamentações, o nosso sofrimento, rezamos por várias intenções particulares. Sempre teremos momentos de sofrimento nesta vida terrena, mas o importante é dar-lhes um sentido. É com o sofrimento que aprendemos verdadeiramente a amar. Tudo o que acontece à nossa volta vem de Deus. O sofrimento tem um efeito redentor faz parte dos Seus planos.

São Josemaria no livro Forja, ponto 772, refere: “Sinais inequívocos da verdadeira Cruz de Cristo: a serenidade, um profundo sentimento de paz, um amor disposto a qualquer sacrifício, uma eficácia grande, que dimana do próprio Jesus e sempre – de modo evidente – a alegria: uma alegria que procede de saber que quem se entrega de verdade, está junto da Cruz e, por conseguinte, junto de Nosso Senhor”.

Na minha mente surgiram os belos momentos vivenciados na Missa da Ceia do Senhor. Este ano a Basílica de Nossa Senhora e de Santo António, exibia em todo o seu esplendor, o Trono do Senhor, datado do século XVIII, que se encontrava nas dependências do Palácio Nacional, tendo sido deslocado, expressamente, para esta celebração. De uma beleza ímpar, diria mesmo sublime já que tudo é pouco, para adorarmos e venerarmos o Senhor, encontrava-se adornado com flores e inúmeros castiçais com velas. Ao cimo, uma urna coberta, de prata, onde mais tarde, já com todas as velas acesas seria depositado o Santíssimo Sacramento, depois da Missa, para a Hora Santa de adoração. Era chegada a almejada hora de adorar e de venerar Jesus, presente na Sagrada Eucaristia, este ano num trono lindíssimo.

A Procissão do Enterro do Senhor regressou à Basílica. Os cânticos de Verónica e do Coro, preencheram a nossa alma consolando-nos, de algum modo, da dor sentida. Cantar é mesmo rezar duas vezes. A Irmandade do Santíssimo Sacramento, bem como todos os intervenientes estavam de parabéns. A sua nobre missão tinha sido cumprida com sucesso. Como resultado, uniram-se as tradições seculares com os novos tempos o que cada vez mais se torna importante realizar e divulgar, ajudando assim a fortalecer a nossa fé e a dos mais novos.

Todos unidos ao Santo Padre que, em breve, se Deus quiser, estará entre nós para as celebrações do Centenário das aparições de Nossa Senhora em Fátima (em que serão também canonizados Jacinta e Francisco): vamos a Jesus, através de Maria.
Maria Helena Paes



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