Há pouco tempo, uma amiga falava comigo sobre a necessidade que sentia em fazer poupanças no orçamento familiar. O assunto interessa-me porque, como é óbvio, uma casa com sete pessoas precisa sempre de poupar e, ao mesmo tempo, nunca consegue poupar. Bem, durante a conversa, esta minha amiga dizia-me que tinha lido em vários sítios que o segredo está no supermercado. Ambas concordámos na importância de aproveitar as promoções, sempre que os prazos de validade o permite. Ambas verificámos que importa apostar nas linhas brancas e que não podemos embarcar em desejos e marcas XPTO.
Agora que parecíamos conhecer toda a teoria relacionada com as compras, fui para casa a pensar na forma como poderíamos poupar mais. Esta minha amiga precisava de conselhos e eu também.
Cá por casa, resulta a elaboração de ementas semanais, embora elas até pudessem ser mensais. Poupa-se no supermercado, porque sabemos exatamente do que precisamos para cada semana, podemos adequar os menus ao tempo que temos para os executar e as necessidades energéticas da família. Mas também se poupa em tempo, porque nos dá a possibilidade de planear previamente.
Talvez não seja de descurar a importância de ir variando nas próprias formas de cozinhar, reservando o uso do forno para momentos em que podemos preparar mais do que um prato, como por exemplo, preparar um frango, fazer uma pizza e depois, quem sabe, cozer um bolo ou uma quiche.
“É bom habituar os filhos, desde muito novos, a comer um pouco de tudo, a provar de tudo, e fazer com que eles descubram a quantidade de sabores diferentes que existe. Além disso, têm de comer tudo, ainda que ponham pouca comida no prato.” In “Como ser feliz com 1,2,3… filhos?” de Rosa Pich-Aguilera Roca
Indo mais fundo, os livros da especialidade que consultei, antes de falarem da gestão das compras, falam de estratégia e da relevância das prioridades, uma vez que só estabelecendo prioridades podemos perceber o que realmente importa para a família e, assim, onde podemos e devemos apostar. Ainda que não queiramos ouvir esta conversa, de facto, quando, no supermercado, optamos por comprar uma refeição pré-cozinhada ou por adquirir aqueles iogurtes de marca ou aquele fiambre um pouco melhor, fazemo-lo em consciência e sabemos que vamos pagar mais e, em alguns casos, fazemo-lo porque o podemos fazer. Poderíamos ter escolhido versões mais baratas, menus mais em conta, mas estamos preparadas para pagar o facilitismo na execução, a alegria ou o mimo das crianças ou o deleite dos maridos.
Então, onde podemos poupar mais? Talvez possamos poupar nas marcas das coisas que compramos, fora do campo da alimentação; talvez possamos reduzir a diversidade das coisas que necessitamos, talvez possamos escolher artigos mais intemporais, mas não caindo na tentação de comprar intemporais muito caros, na utopia de que não vamos querer comprar nada no próximo ano, quando as mulheres, por norma, gostam tanto de seguir as últimas tendências.
Tudo isto não é fácil, pois todos os mecanismos sociais e tecnológicos estão cheios de formas de pressão nesta área. Seja no olhar das amigas, seja na vontade de agradar ao marido, seja nos blogs e afins que estão cheios de gente gira a dizer que compra isto nesta loja e que vai a este ginásio e que as meninas têm de usar estes sapatos e que os rapazes ficam o máximo com estes polos.
Tudo isto não é fácil, pois todos os mecanismos sociais e tecnológicos estão cheios de formas de pressão nesta área. Seja no olhar das amigas, seja na vontade de agradar ao marido, seja nos blogs e afins que estão cheios de gente gira a dizer que compra isto nesta loja e que vai a este ginásio e que as meninas têm de usar estes sapatos e que os rapazes ficam o máximo com estes polos.
Poupar é decidir. Decidir constantemente. Em particular, as mulheres têm um poder enorme nos movimentos de mudança, a começar nas mudanças na família. Se aprendermos a relativizar os rótulos e as marcas, se aprendermos a controlar os gastos “sociais”, se diminuirmos as necessidades e verificarmos as prioridades, decerto que encontraremos mais formas de poupar, sem estarmos sempre a cair naquele lugar-comum de que o segredo está no supermercado. Certamente, que a alimentação é um dos réus do julgamento, mas também, decerto, que muitas de nós já fazemos boas escolhas nesse domínio, porque só nós é que vemos o que temos no frigorífico, mas toda a sociedade vê o que trago vestido.
Rita Gonçalves
Licenciada em LLM Estudos Portugueses e Franceses
Mãe
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