ENTREVISTA ao reitor, pe. Angel Hernandez. Em uma atmosfera de
grande sinceridade, Francisco falou de temas como jubileu e Vatileaks
O Santo Padre Francisco recebeu na quinta-feira passada, 14 de Janeiro, em audiência no Vaticano, os membros do Colégio Sacerdotal
Argentino de Roma, por ocasião da visita pastoral dos bispos da Comissão
Episcopal de Ministérios da Conferência Episcopal (CEMIN) .
O encontro ocorreu na biblioteca do Palácio Apostólico com um diálogo
informal, caloroso e profundo que durou mais de uma hora entre o Bispo
de Roma e os sacerdotes e bispos.
O reitor do Colégio Sacerdotal, o pe. Angel Hernandez, nesta
entrevista concedida à Zenit indicou que o Santo Padre começou esse
encontro comentando-lhes que a ideia do Jubileu da Misericórdia tinha
sido uma inspiração do Espírito Santo. Ademais, pediu-lhes que quando
confessem sejam ‘realmente pais’ e exortou-lhes também a ‘serem
Pastores’ no local onde estão. Também alertou sobre os perigos do
pelagianismo, que promove um restauracionismo que quer voltar a uma
situação que já não existe mais e que costuma esconder uma certa
mundanidade espiritual; e também do gnosticismo. Sobre a reforma em
curso na Cúria confiou-lhes que apesar do que indicam certos meios de
comunicação a verdade é que na Igreja de hoje e na Cúria existem muitos
santos. Acrescentou que se sentia sempre “em paz”, uma paz que o
acompanhou desde o dia da sua eleição e nunca o tem abandonado no meio
das dificuldades.
A seguir a entrevista na íntegra:
***
ZENIT: Como foi a atmosfera da reunião que tiveram com o Santo Padre?
– Pe. Angel Hernandez: Sem discursos preliminares e palavras formais,
depois dos cumprimentos e fotos protocolares, passou-se directamente a
uma rica conversa sobre diversos temas. O clima foi de sinceridade,
simples e íntimo, onde não faltou o humor, as perguntas com um tom mais
pessoal e um espírito de alegria e comunhão.
ZENIT: Qual foi a primeira questão abordada pelo Papa?
– Pe. Angel Hernandez: O ponto de partida foi o Jubileu da
Misericórdia recentemente lançado em todo o mundo. Francisco destacou
que a génese deste evento extraordinário veio do que ele confiou ser uma
verdadeira inspiração do Espírito, nascida da sua oração pessoal e
confirmada no diálogo com alguns dos seus conselheiros.
Ao mesmo tempo ressaltou que foi um aprofundamento do caminho já
definido por Paulo VI e, em seguida, acentuado por João Paulo II em sua
encíclica Dives in Misericordia, a canonização de Faustina Kowalska, a
instituição da Festa da Divina Misericórdia no segundo domingo de Páscoa
e outras opções suas.
ZENIT: E, especificamente, sobre o Jubileu da Misericórdia?
– Pe. Angel Hernandez: Como de costume em Francisco, o olhar
universal desceu para as questões pastorais muito concretas,
especialmente a preocupação pelo ministério da reconciliação. Insistiu
na necessidade de confessores com profunda consciência de ser
instrumento da misericórdia, humanamente sadios e dispostos a receber em
todo momento o penitente que sempre deve levar no coração a experiência
de ser acolhido, ainda nos casos em que não possa receber a absolvição.
Em uma palavra, o Papa afirmou que o confessor está chamado a ser um
verdadeiro pai no encontro sacramental.
ZENIT: Ou seja, vocês fizeram perguntas variadas?
– Pe. Angel Hernandez: As perguntas dos membros do Colégio foram
direccionadas para a vida dos sacerdotes, e para a missão reservada para
eles ao voltarem para as suas dioceses quando terminar o seu tempo de
estudos na Cidade Eterna. O Papa destacou que o centro era “ser
Pastores” lá onde estiverem e nas tarefas que lhes correspondam
realizar, tanto na actividade académica, nos seminários ou tribunais onde
exerçam o seu ministério. Recordou o núcleo do ministério apostólico do
livro dos Actos, válido também para os presbíteros: “a oração e o
anúncio da Palavra”.
ZENIT: O Papa falou sobre quais desafios e os riscos?
– Pe. Angel Hernandez: Ao falar dos desafios para a Igreja na
actualidade, Francisco disse que hoje existia dois riscos representados
por duas heresias antigas, mais ainda activas: o pelagianismo e o
gnosticismo. Em particular percebe-se o primeiro quando se incentiva um
certo restauracionismo que pretende voltar a uma situação que já não
existe mais, mas que na verdade denota uma fragilidade interna na
maneira de viver a fé. Este restauracionismo muitas vezes esconde uma
mundanidade espiritual, verdadeiro perigo para o crente. É preciso,
recordava o Papa aos sacerdotes do Colégio, distinguir entre o mundo e o
espírito mundano, para não esconder-se da realidade, mas, muito menos,
perder aquilo que nos torna cristãos, segundo a oração do Senhor ao Pai:
“Não te peço que os tires do mundo, mas que os preserve do Mal” (Jo 17,
15).
ZENIT: É verdade que vocês disseram ao Papa que as pessoas o amam muito?
– Pe. Angel Hernandez: Os sacerdotes mostraram-lhe o afecto e a oração
das pessoas das suas respectivas dioceses e de todos os que queriam
transmitir as suas saudações ao Papa. Francisco agradeceu o gesto e
expressou, como o faz normalmente, o quanto precisava da oração de todos
e o bem que lhe faz o contacto diário com as pessoas, hoje,
especialmente, nas missas que celebra quase diariamente em Santa Marta.
Afirmou que “estar com as pessoas me faz bem”.
ZENIT: Sobre as causas de beatificação em andamento, o Papa falou algo?
– Pe. Angel Hernandez: Sim, recordou dois argentinos em processo de
beatificação e canonização, Mamá Antula e o Padre Brochero; os milagres
atribuídos à intercessão deles acabam de ser aprovados pela junta médica
da Congregação dos Santos.
ZENIT: Disse-lhes algo sobre o Vatileaks e a reforma da Cúria?
– Pe. Angel Hernandez: Ao se referir a alguns fatos que tiveram
particular impacto mediático, concluiu dizendo que, apesar destes estes
casos, hoje, “na Igreja existem muitos santos; e aqui (na Cúria) existem
santos”. É o outro lado do que destacam os meios de comunicação.
ZENIT: E sobre a sua vida diária?
– Pe. Angel Hernandez: Conversando sobre as muitas responsabilidades e
desafios que têm de enfrentar todos os dias, manifestou que está sempre
“em paz”, uma paz que o acompanhou desde o dia de sua eleição e nunca o
abandonou no meio das dificuldades, conquistas, dores e alegrias
diárias no exercício do seu serviço apostólico. “Estou nas mãos de Deus”
foi uma das suas últimas frases antes de concluir um encontro
verdadeiramente familiar e amigável.
in
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