A obra-prima do compositor alemão ao centro do terceiro encontro de ‘Leituras teológicas’, promovido pela diocese de Roma
Beethoven. Por Joseph Karl Stieler . Wikimedia Commons |
Considerado por muitos a maior composição musical da história,
obra-prima do imortal génio de Ludwig van Beethoven, a Nona Sinfonia foi
o tema da terceira e última rodada de “Leituras Teológicas, a
misericórdia e a arte”. Encontro organizado pela Diocese de Roma.
O evento contou com a presença do monsenhor Marco Frisina, presidente
da Comissão Diocesana de Arte Sacra, o maestro Michele Dall Ongaro,
superintendente da Academia Nacional de Santa Cecília, e o reitor da
Universidade Sapienza Eugenio Gaudio. O debate foi presidido pelo
Professor Cesare Mirabelli, Presidente Emérito do Tribunal
Constitucional, com saudações finais do Cardeal Vigário Agostino
Vallini, vigário geral do Papa para a diocese de Roma.
Em seu discurso monsenhor Frisina recordou como Beethoven compôs sua
nona e última sinfonia quando estava completamente surdo e isso, em vez
de ser um obstáculo “deu um toque especial de doçura e força a esta bem
como em todas as obras da fase final de sua vida”.
O prelado, em seguida, falou dos vocais da sinfonia cujo texto,
tirado do Hino à alegria do dramaturgo alemão Friedrich Schiller, “é o
testamento espiritual do compositor para um mundo que precisa
redescobrir sua alma, uma mensagem para a humanidade, um convite à
fraternidade universal”.
“O significado profundo – disse Frisina – da Nona Sinfonia, e em
particular do Hino à Alegria, ainda é actualíssimo num mundo como o nosso
tão dividido pelo ódio e pela guerra e está em consonância com o
espírito do Jubileu extraordinário da misericórdia desejado pelo Papa
Francisco”.
“A música da Nona Sinfonia e a poesia de Schiller – disse Dall’Ongaro
– eram obras inovadoras e para os jovens. Schiller queria usar a
palavra liberdade, mas escolheu alegria para burlar a censura imperial.
Mas o significado é o mesmo, porque não há liberdade sem alegria ou
alegria sem liberdade. Esta música e este texto estão vivos”.
O maestro em seguida, fez ouvir e comentou sobre algumas partes da
sinfonia, sublinhando a intensidade, a variedade e a novidade da
composição. Ele se concentrou em particular sobre o papel da orquestra
“que quase fala e interage com outras partes instrumentais”.
“Beethoven – explicou Dall’Ongaro – leva as coisas já feitas por
outros e reelabora, criando contemporaneamente outras. Todos os
compositores posteriores partem, em certo sentido, já derrotados porque
só podem ser inspirados por ele. ”
O maestro destacou a mensagem de paz da sinfonia que, em sua opinião,
é mais evidente na parte em que a melodia do Hino à Alegria é repetida
em um estilo que lembra a música turca e oriental.
“Os turcos – salientou Dall’Ongaro – atacaram Viena por duas vezes,
portanto, representavam o inimigo por excelência. Beethoven, ao invés,
nos diz que eles também podem tocar o Hino à Alegria e, assim, se tornam
irmãos em nome da paz universal”.
O reitor da Universidade Sapienza definiu a Nona de Beethoven como
“uma obra-prima de época que mudou a música para sempre, um trabalho com
o qual a sinfonia desce das cortes imperiais e reais para se abrir ao
mundo real e renovar-se a tempo todo”. Em sua opinião, no Hino à
Alegria, Schiller fala da alegria “no sentido da lei natural, como o
cumprimento final e perfeito da humanidade”.
Beethoven foi, sem dúvida, um autor cristão, mas viveu sua
religiosidade em particular, imbuída de ideias iluministas. Partindo
dessa premissa, segundo Gaudio, vem a ideia do compositor alemão de “um
Deus pai amoroso em que todas as pessoas podem reconhecer-se como
irmãos”.
Algo muito diferente “da abordagem de um Beethoven no qual prevalecia
uma visão hostil do mundo e da natureza cuja beleza é realçada nas
últimas obras como um símbolo do amor divino para com a humanidade”.
Escolha muito justa, de acordo com o reitor da Universidade Sapienza, a
da música, sem palavras, do Hino à Alegria como o hino da União
Europeia.
A execução do Hino à alegria por um grupo de estudantes musicistas e
coristas da Academia Nacional de Santa Cecília encerrou o encontro cuja
intensidade e a genialidade da música de Beethoven se juntaram à beleza
de um lugar tão importante historicamente como a “Aula della
Conciliazione” para lançar uma mensagem de paz através de uma das
melhores formas de comunicação que é a arte.
in
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