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sábado, 30 de janeiro de 2016

Nona Sinfonia de Beethoven: um hino à fraternidade universal

A obra-prima do compositor alemão ao centro do terceiro encontro de ‘Leituras teológicas’, promovido pela diocese de Roma


Beethoven. Por Joseph Karl Stieler . Wikimedia Commons

Considerado por muitos a maior composição musical da história, obra-prima do imortal génio de Ludwig van Beethoven, a Nona Sinfonia foi o tema da terceira e última rodada de “Leituras Teológicas, a misericórdia e a arte”. Encontro organizado pela Diocese de Roma.

O evento contou com a presença do monsenhor Marco Frisina, presidente da Comissão Diocesana de Arte Sacra, o maestro Michele Dall Ongaro, superintendente da Academia Nacional de Santa Cecília, e o reitor da Universidade Sapienza Eugenio Gaudio. O debate foi presidido pelo Professor Cesare Mirabelli, Presidente Emérito do Tribunal Constitucional, com saudações finais do Cardeal Vigário Agostino Vallini, vigário geral do Papa para a diocese de Roma.

Em seu discurso monsenhor Frisina recordou como Beethoven compôs sua nona e última sinfonia quando estava completamente surdo e isso, em vez de ser um obstáculo “deu um toque especial de doçura e força a esta bem como em todas as obras da fase final de sua vida”.

O prelado, em seguida, falou dos vocais da sinfonia cujo texto, tirado do Hino à alegria do dramaturgo alemão Friedrich Schiller, “é o testamento espiritual do compositor para um mundo que precisa redescobrir sua alma, uma mensagem para a humanidade, um convite à fraternidade universal”.

“O significado profundo – disse Frisina – da Nona Sinfonia, e em particular do Hino à Alegria, ainda é actualíssimo num mundo como o nosso tão dividido pelo ódio e pela guerra e está em consonância com o espírito do Jubileu extraordinário da misericórdia desejado pelo Papa Francisco”.

“A música da Nona Sinfonia e a poesia de Schiller – disse Dall’Ongaro – eram obras inovadoras e para os jovens. Schiller queria usar a palavra liberdade, mas escolheu alegria para burlar a censura imperial. Mas o significado é o mesmo, porque não há liberdade sem alegria ou alegria sem liberdade. Esta música e este texto estão vivos”.

O maestro em seguida, fez ouvir e comentou sobre algumas partes da sinfonia, sublinhando a intensidade, a variedade e a novidade da composição. Ele se concentrou em particular sobre o papel da orquestra “que quase fala e interage com outras partes instrumentais”.

“Beethoven – explicou Dall’Ongaro – leva as coisas já feitas por outros e reelabora, criando contemporaneamente outras. Todos os compositores posteriores partem, em certo sentido, já derrotados porque só podem ser inspirados por ele. ”

O maestro destacou a mensagem de paz da sinfonia que, em sua opinião, é mais evidente na parte em que a melodia do Hino à Alegria é repetida em um estilo que lembra a música turca e oriental.

“Os turcos – salientou Dall’Ongaro – atacaram Viena por duas vezes, portanto, representavam o inimigo por excelência. Beethoven, ao invés, nos diz que eles também podem tocar o Hino à Alegria e, assim, se tornam irmãos em nome da paz universal”.

O reitor da Universidade Sapienza definiu a Nona de Beethoven como “uma obra-prima de época que mudou a música para sempre, um trabalho com o qual a sinfonia desce das cortes imperiais e reais para se abrir ao mundo real e renovar-se a tempo todo”. Em sua opinião, no Hino à Alegria, Schiller fala da alegria “no sentido da lei natural, como o cumprimento final e perfeito da humanidade”.

Beethoven foi, sem dúvida, um autor cristão, mas viveu sua religiosidade em particular, imbuída de ideias iluministas. Partindo dessa premissa, segundo Gaudio, vem a ideia do compositor alemão de “um Deus pai amoroso em que todas as pessoas podem reconhecer-se como irmãos”.

Algo muito diferente “da abordagem de um Beethoven no qual prevalecia uma visão hostil do mundo e da natureza cuja beleza é realçada nas últimas obras como um símbolo do amor divino para com a humanidade”. Escolha muito justa, de acordo com o reitor da Universidade Sapienza, a da música, sem palavras, do Hino à Alegria como o hino da União Europeia.

A execução do Hino à alegria por um grupo de estudantes musicistas e coristas da Academia Nacional de Santa Cecília encerrou o encontro cuja intensidade e a genialidade da música de Beethoven se juntaram à beleza de um lugar tão importante historicamente como a “Aula della Conciliazione” para lançar uma mensagem de paz através de uma das melhores formas de comunicação que é a arte.


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