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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Entrevista: Andrea Tornielli num encontro comovente com o Papa Francisco

Em entrevista concedida a Zenit, o escritor comenta que a humildade e o exemplo de Francisco deveria tocar a todos



Estamos prestes a chegar bem perto do coração do Papa. Andrea Tornielli diz que este é o seu desejo com o livro-entrevista com o Santo Padre, “O Nome de Deus é a misericórdia”, que foi lançado em 86 países na última terça-feira.

O jornalista italiano, que conhece o Papa Francisco há algum tempo, foi entrevistado por ZENIT após o lançamento do livro, na Augustiniuanum, Vaticano. O evento de lançamento foi aberto com as palavras do Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin; do director da Livraria Vaticana (LEV), padre Giuseppe Costa; e com o internacionalmente conhecido, amado vencedor do Oscar, o actor italiano Roberto Benigni, sempre lembrado por seus pulos em cima das cadeiras quando ganhou o Oscar por “A Vida é Bela”.

A apresentação foi moderada pelo Director de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi.

Durante sua conversa com Zenit, Tornielli compartilhou alguns detalhes do tempo que passou com o Santo Padre e o que aprendeu com o Pontífice. Ele também reflectiu sobre o que devemos extrair de seu trabalho e aplicar em nossas próprias vidas.

O que importa, explicou o Vaticanista, é como Francisco está abrindo portas, como ele tem o poder de tocar a vida de cada pessoa, pessoalmente, e nos convida a fazer o que o Evangelho nos convida a fazer.

Além de falar sobre o que foi mais marcante no seu encontro com o Papa, Tornielli explica o que ele acredita ser o grande fruto deste livro no que diz respeito à misericórdia. Ele também comenta porque questões controversas deveriam ou não aparecer no texto e reafirma que as palavras de Francisco sobre a misericórdia não são diferentes daquelas de seus antecessores.

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ZENIT: Como este livro pode ser útil para quem lê-lo? O que ele comunica?

Tornielli: Eu não acho que é um livro necessário. Eu acho que nós precisamos da mensagem da misericórdia. O Papa explica isso muito bem, como dito em sua homilia no dia 1 de Janeiro sobre a violência, contraste e conflitos, neste tipo de Terceira Guerra Mundial, em diferentes partes do mundo, nós precisamos de misericórdia. Portanto, este livro é um canal da misericórdia. Ele mostra que a misericórdia é maior do que todas as dificuldades do mundo e isso significa que precisamos desta mensagem. Eu fui tocado por esta mensagem de perdão, ou mensagem de misericórdia, que é maior do que todas as dificuldades do mundo. Fui tocado porque esta mensagem de perdão, esta mensagem de misericórdia não é apenas para uma pessoa, para a família, mas também para a sociedade, para as nações, para a relação entre os estados e, por isso, pode ter consequências políticas. É algo que, por exemplo, para as pessoas que estão presas, que precisam de perdão, é sem igual…. Não há justiça sem perdão.

ZENIT: A mensagem de misericórdia do Papa Francisco dá continuidade à de seus antecessores?

Tornielli: Absolutamente, porque antes de tudo, começou no século passado. O Papa João Paulo II nos deixou a mensagem de Santa Maria Faustina e a mensagem da misericórdia. Também o Papa Bento XVI falou sobre a misericórdia. Absolutamente, está em continuidade com seus antecessores. E claro, na minha opinião, cada Papa destaca alguma coisa. É a tradição da Igreja.

Mas Francisco não está destacando algo que está fora ou é diferente da mensagem cristã, mas que está dentro e é essencial. É interessante como muitas vezes neste livro ele cita os Padres da Igreja dos primeiros séculos. Não é uma novidade. Não é uma invenção do Papa Francisco ou dos papas do século passado, mas cada papa em cada nova situação destacaria uma mensagem específica da fé cristã.

ZENIT: Apesar de alguns dizerem que não há ‘novidades’ a respeito de questões controversas, porque o Papa não tocou a doutrina, como resulta pastoralmente?

Tornielli: Eu só menciono uma coisa sobre a doutrina da Igreja, mas não há perguntas ou respostas sobre questões controversas, porque eu quero que este livro represente uma porta aberta e a possibilidade de um encontro com o coração do Papa sobre a misericórdia. Por essa razão não há questões controversas, incluindo a questão dos divorciados recasados.

ZENIT: Para você, como foi a experiência de sentar-se com o Papa Francisco? Passar este tempo com ele?

Tornielli: Foi óptimo e eu fiquei muito tocado por seu testemunho pessoal. Sua capacidade de testemunhar a face de um Deus que está tentando todas as possibilidades para chegar perto do povo, para dar o dom do perdão, e esta é a mensagem mais importante do livro, eu acho. Falando sobre suas experiências, sua vida pessoal, ficou claro para mim como ele testemunha esta atitude.

ZENIT: Tem algo que o Papa Francisco disse que fez você reflectir sobre sua própria vida?

Tornielli: Cada página deste livro me tocou. Por exemplo, ele é um homem humilde e explicou muito bem a necessidade de ser humilde, porque a diferença entre o pecador e o corrupto não é a qualidade dos pecados, não é a quantidade, mas é a atitude da pessoa, porque o pecador é humilde e precisa de perdão. Os corruptos, não.

ZENIT: Como pai, você tem algum conselho para os pais ou sobre a vida familiar?

Tornielli: Um conselho pessoal, eu diria que perceber a necessidade deste tipo de atenção com relação a vida das pessoas próximas a você, como indica o Santo Padre. Isto foi comovente. Quando começamos a falar, estava quente, mês de Julho. Ele me disse para tirar o terno, porque estava muito quente, depois disso, ele viu que eu tinha três gravadores diferentes, mas não tinha folhas de papel para tomar notas. Então, ele me deu uma folha de papel. “Você não tem nenhum papel para tomar notas”. São coisas simples, mas é sobre a necessidade de realmente dar atenção para a pessoa que está diante de você.

ZENIT: Por último, o que você espera com este livro?

Tornielli: Eu espero que este livro leve a uma melhor compreensão do coração do Papa. Com este livro, o Papa está tentando falar do fundo de seu coração ao coração das pessoas, crentes e não crentes.

ZENIT: Existe alguma coisa particular sobre a misericórdia que você gostaria de destacar?

Tornielli: Eu fiquei muito tocado pelo fato de que ele se identifica como pecador, mas como um pecador que recebeu o perdão. E isso é importante porque sem a experiência de reconhecer-nos pecadores e perdoados, não é possível dar o perdão e a misericórdia como o Evangelho nos diz.


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