Em entrevista concedida a Zenit, o escritor comenta que a humildade e o exemplo de Francisco deveria tocar a todos
Estamos prestes a chegar bem perto do coração do Papa.
Andrea Tornielli diz que este é o seu desejo com o livro-entrevista com o
Santo Padre, “O Nome de Deus é a misericórdia”, que foi lançado em 86
países na última terça-feira.
O jornalista italiano, que conhece o Papa Francisco há algum tempo,
foi entrevistado por ZENIT após o lançamento do livro, na
Augustiniuanum, Vaticano. O evento de lançamento foi aberto com as
palavras do Secretário de Estado, Cardeal Pietro Parolin; do director da
Livraria Vaticana (LEV), padre Giuseppe Costa; e com o
internacionalmente conhecido, amado vencedor do Oscar, o actor italiano
Roberto Benigni, sempre lembrado por seus pulos em cima das cadeiras
quando ganhou o Oscar por “A Vida é Bela”.
A apresentação foi moderada pelo Director de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi.
Durante sua conversa com Zenit, Tornielli compartilhou alguns
detalhes do tempo que passou com o Santo Padre e o que aprendeu com o
Pontífice. Ele também reflectiu sobre o que devemos extrair de seu
trabalho e aplicar em nossas próprias vidas.
O que importa, explicou o Vaticanista, é como Francisco está abrindo
portas, como ele tem o poder de tocar a vida de cada pessoa,
pessoalmente, e nos convida a fazer o que o Evangelho nos convida a
fazer.
Além de falar sobre o que foi mais marcante no seu encontro com o
Papa, Tornielli explica o que ele acredita ser o grande fruto deste
livro no que diz respeito à misericórdia. Ele também comenta porque
questões controversas deveriam ou não aparecer no texto e reafirma que
as palavras de Francisco sobre a misericórdia não são diferentes
daquelas de seus antecessores.
***
ZENIT: Como este livro pode ser útil para quem lê-lo? O que ele comunica?
Tornielli: Eu não acho que é um livro necessário. Eu acho que nós
precisamos da mensagem da misericórdia. O Papa explica isso muito bem,
como dito em sua homilia no dia 1 de Janeiro sobre a violência,
contraste e conflitos, neste tipo de Terceira Guerra Mundial, em
diferentes partes do mundo, nós precisamos de misericórdia. Portanto,
este livro é um canal da misericórdia. Ele mostra que a misericórdia é
maior do que todas as dificuldades do mundo e isso significa que
precisamos desta mensagem. Eu fui tocado por esta mensagem de perdão, ou
mensagem de misericórdia, que é maior do que todas as dificuldades do
mundo. Fui tocado porque esta mensagem de perdão, esta mensagem de
misericórdia não é apenas para uma pessoa, para a família, mas também
para a sociedade, para as nações, para a relação entre os estados e, por
isso, pode ter consequências políticas. É algo que, por exemplo, para
as pessoas que estão presas, que precisam de perdão, é sem igual…. Não
há justiça sem perdão.
ZENIT: A mensagem de misericórdia do Papa Francisco dá continuidade à de seus antecessores?
Tornielli: Absolutamente, porque antes de tudo, começou no século
passado. O Papa João Paulo II nos deixou a mensagem de Santa Maria
Faustina e a mensagem da misericórdia. Também o Papa Bento XVI falou
sobre a misericórdia. Absolutamente, está em continuidade com seus
antecessores. E claro, na minha opinião, cada Papa destaca alguma coisa.
É a tradição da Igreja.
Mas Francisco não está destacando algo que está fora ou é diferente
da mensagem cristã, mas que está dentro e é essencial. É interessante
como muitas vezes neste livro ele cita os Padres da Igreja dos primeiros
séculos. Não é uma novidade. Não é uma invenção do Papa Francisco ou
dos papas do século passado, mas cada papa em cada nova situação
destacaria uma mensagem específica da fé cristã.
ZENIT: Apesar de alguns dizerem que não há ‘novidades’ a respeito de
questões controversas, porque o Papa não tocou a doutrina, como resulta
pastoralmente?
Tornielli: Eu só menciono uma coisa sobre a doutrina da Igreja, mas
não há perguntas ou respostas sobre questões controversas, porque eu
quero que este livro represente uma porta aberta e a possibilidade de um
encontro com o coração do Papa sobre a misericórdia. Por essa razão não
há questões controversas, incluindo a questão dos divorciados
recasados.
ZENIT: Para você, como foi a experiência de sentar-se com o Papa Francisco? Passar este tempo com ele?
Tornielli: Foi óptimo e eu fiquei muito tocado por seu testemunho
pessoal. Sua capacidade de testemunhar a face de um Deus que está
tentando todas as possibilidades para chegar perto do povo, para dar o
dom do perdão, e esta é a mensagem mais importante do livro, eu acho.
Falando sobre suas experiências, sua vida pessoal, ficou claro para mim
como ele testemunha esta atitude.
ZENIT: Tem algo que o Papa Francisco disse que fez você reflectir sobre sua própria vida?
Tornielli: Cada página deste livro me tocou. Por exemplo, ele é um
homem humilde e explicou muito bem a necessidade de ser humilde, porque a
diferença entre o pecador e o corrupto não é a qualidade dos pecados,
não é a quantidade, mas é a atitude da pessoa, porque o pecador é
humilde e precisa de perdão. Os corruptos, não.
ZENIT: Como pai, você tem algum conselho para os pais ou sobre a vida familiar?
Tornielli: Um conselho pessoal, eu diria que perceber a necessidade
deste tipo de atenção com relação a vida das pessoas próximas a você,
como indica o Santo Padre. Isto foi comovente. Quando começamos a falar,
estava quente, mês de Julho. Ele me disse para tirar o terno, porque
estava muito quente, depois disso, ele viu que eu tinha três gravadores
diferentes, mas não tinha folhas de papel para tomar notas. Então, ele
me deu uma folha de papel. “Você não tem nenhum papel para tomar notas”.
São coisas simples, mas é sobre a necessidade de realmente dar atenção
para a pessoa que está diante de você.
ZENIT: Por último, o que você espera com este livro?
Tornielli: Eu espero que este livro leve a uma melhor compreensão do
coração do Papa. Com este livro, o Papa está tentando falar do fundo de
seu coração ao coração das pessoas, crentes e não crentes.
ZENIT: Existe alguma coisa particular sobre a misericórdia que você gostaria de destacar?
Tornielli: Eu fiquei muito tocado pelo fato de que ele se identifica
como pecador, mas como um pecador que recebeu o perdão. E isso é
importante porque sem a experiência de reconhecer-nos pecadores e
perdoados, não é possível dar o perdão e a misericórdia como o Evangelho
nos diz.
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