Geralmente, olhamos para a fotografia como uma forma de arte e, por vezes, de habilidade maldosa quando o uso de ‘photoshop’ leva o observador a ver o que é falso. Recordo-me, concretamente, da fotomontagem em que Margaret Tatcher aparecia a passear de mão dada com Pompidou num jardim idílico. Nada mais oposto ao trabalho de James Nachtwey, o fotógrafo que ganhou, por duas vezes, o prémio World Press Photo e é conhecido por ser o “fotógrafo do inferno”.
As suas fotos são de uma triste e comovente beleza, pois dedicou quase toda a sua vida profissional a “declarar guerra à guerra”, para mostrar – àqueles que ficam em casa – a natureza e alcance dos piores instintos da Humanidade, na esperança de despertar vontades para ajudar os que sofrem e de agir a favor da paz.
Nascido em 1948 e licenciado em História de Arte e Ciências Políticas, Nachtwey continua, aos 67 anos, a frequentar as zonas do mundo onde se sofre, seja pela fome, pela guerra, pela injustiça... As suas imagens procuram fazer chegar a terrível realidade ao conhecimento de todos. Elas dão voz forte ao grito abafado daqueles que pedem ajuda e sonham com um mundo melhor. Elas mostram-se impregnadas de esperança enquanto existirem pessoas generosas e decididas a reagir ao vê-las.
Nos teatros de guerra, o seu cabelo branco chama a atenção entre os seus colegas, nenhum deles idoso. Esteve doente com gravidade, foi ferido várias vezes, sofreu traumas, mas nada se compara ao grande sacrifício de renunciar a constituir família; tudo por pelo tipo de trabalho que o leva a estar sempre em viagens e situações de arriscadas.
Mary Anne Golon perguntou-lhe uma vez se ainda tinha capacidade para amar, depois de “se ter aventurado a entrar no coração das trevas, e ter visto os horrores por ele documentados”. Respondeu-lhe que “fazer o seu trabalho é um acto de amor”.
Gostaria que este texto fosse também uma “fotografia” capaz de documentar a verdade esquecida de que ainda existem homens e mulheres que fazem da sua profissão uma sucessão de actos de amor, de serviço aos outros, de misericórdia.
Isabel Vasco Costa
Com base em artigo publicado em “Nuestro Tiempo”, nº 689, Outono de 2015, Universidade de Navarra
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