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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

De encarregado de discoteca e anti-sistema de Maio de 68 a bispo com os pobres do Peru

José Luis del Palacio, bispo de Callao 

José Luis del Palacio, bispo de Callao, abençoa um enfermo
Actualizado 15 de Dezembro de 2014

P.J.Ginés / A.Rosal / ReL
José Luis del Palacio, espanhol, é bispo de Callao, uma diocese especialmente pobre de 1,3 milhões de habitantes no Peru, o porto e aeroporto de Lima.

Mas nem sempre foi homem de fé: psicólogo de formação, em jovem era encarregado de discoteca, leitor de Sartre e Camus e revolucionário de Maio de 68. Nessa época viu que o prazer não dava a felicidade e colocou-se as grandes perguntas que o levariam a Deus.

“Foi-se-me a fé estudando Sociologia”

“De menino e adolescente estudei num colégio dos Reparadores em Madrid. Depois, na universidade inscrevi-me no curso de Sociologia, quando isso estava mal visto pelo franquismo. Ao chegar a Sociologia em apenas um mês e meio foi-se-me a fé”.

Tornou-se um activista anti-sistema ainda que não tinha muito claro com que queria substitui-lo. Viveu o revolucionário Maio de 68 no centro dos acontecimentos, em Paris. “Em Maio de 68, eu queria resolver o mal, a injustiça, o sofrimento…”. Tinha uma questão filosófica de fundo, com o escândalo do mal e a dor: “o sofrimento das crianças sempre me chamou a atenção”, explica. 

Que falha no homem? O social ou o mental?
Ao voltar de Paris, deu-se conta de que o activismo inconformista não bastava, a luta social não bastava. Que sentido tinha a vida? Era algo na mente humana? Em 1969 estava estudando psicologia… Entendia que o drama humano tinha que ver com o “não poder amar”, algo mais próprio da psicologia que da sociologia. Entretanto, mantinha-se trabalhando em várias coisas.

Trabalhei na construção em Barcelona um Verão, das 7 da manhã às 6 da tarde. No ano seguinte, pus-me a trabalhar numa discoteca, de encarregado na Playa de Aro, na costa catalã. Vi esse Verão que a droga e o álcool e o sexo e a prostituição não dava a felicidade aos jovens. Via que os jovens não conseguiam amar. Isso fazia-me pensar”.

“Eu tinha lido os existencialistas, Camus, Sartre… Não tinham respostas para o sem-sentido pessoal e o sofrimento social. Hoje sei que como não tinham sido tocados por Deus não podiam ver nada do sentido da vida, valiosa e formosa inclusive na velhice e a morte. O caso é que, a mim, todo aquele sem-sentido e angústia existencial trouxe-me uma úlcera de estômago”.

Pouco depois voltou a Madrid… E ali mudou tudo.

Umas catequeses neocatecumenais
“Em Madrid convidaram-me a umas palestras numa paróquia. Eu não esperava muito. Eram laicos que falariam algo do existencialismo que eu tinha estudado. Tratava-se de Kiko Argüello e Carmem Hernández. Através das suas pregações fizeram-me interiorizar a raiz do problema do homem, no sentido da vida perante o problema do mal. Ali experimentei Deus, na paróquia da Paloma”.

A fé de José Luis del Palacio renasceu, pois, como fruto daquelas primeiras pregações e catequeses do Caminho Neocatecumenal no início dos anos 70. Kiko Argüello tinha sido também um pintor seduzido pelo existencialismo de Sartre e Camus, o seu chamado a viver intensamente, sem sentido mas com paixão… Algo que não levava senão ao desânimo e à fronteira do suicídio. [Kiko conta a história da sua conversão aqui].

Quando Kiko falava da falta de sentido e a necessidade de ser resgatados por Cristo ressonava de uma maneira especial na geração dos anos 70.

Nova vida: partilhar a fé
José Luis del Palacio dedicou-se a estudar teologia e filosofia e decidiu-se a partilhar o que tinha vivido, a experiência de garantia da fé, partilhar que “a fé é garantia das coisas que esperamos”.

“Inclusive a minha úlcera tinha desaparecido, a minha vida estava transformada. Eu não necessitava fugir nem refugiar-me no álcool, droga ou festas. Por certo, o meu doutoramento em antropologia anos depois o faria sobre a festa e a Nova Evangelização”, recorda este antigo encarregado de discoteca, que viu desde próximo que o álcool e a farra não enchem o homem, mas Deus sim.

“Ofereci-me a partilhar a minha experiência. Primeiro enviaram-me por Espanha: Cuenca, Sevilha, Múrcia, Alicante, Jerez… Eram os primeiros anos 70. Depois, em 1976 já me enviaram ao Peru. Ali ia com um sacerdote e uma jovem laica. Era a época das ditaduras militares. Anunciávamos o evangelho numa paróquia em Chorrillo, chamada Os 12 Apóstolos, perto de Lima. Cada dia fazíamos 4 horas de oração. Eu notava Deus especialmente na oração matinal. Eram tempos duros no Peru. Por exemplo, o Estado racionava a carne, só se vendia uma vez cada 15 dias. Mas nós íamos anunciando o kerigma: que Cristo oferece a salvação eterna, também já para esta vida. E assim muitos jovens entravam em pequenas comunidades para viver a iniciação cristã por etapas. Também anunciávamos o kerigma aos empresários.”

O bispo José Luis no porto de Callao
Vocação sacerdotal
“Em 1984 como não tínhamos lugar para fazer retiros de fim-de-semana apresentámos ao Papa João Paulo II um projecto de casas de convivências. O Papa animou-nos e nos deu um donativo. Nesse encontro que tivemos com ele em Roma conhecemos a Madre Teresa. O Papa além disso ofereceu-nos um ícone da Virgem de Czestochowa”. Nesse 1984 a Igreja celebrava um Ano Santo da Redenção e a primeira JMJ da história, em Roma. Nesse ano despertou a vocação sacerdotal de José Luis.

Ordenei-me em Lima quando veio João Paulo II em 1988. Kiko e Carmen estiveram na minha ordenação. Vieram evangelizadores itinerantes de toda a América Latina. Proclamaram uma chamada vocacional em Lima na qual 100 jovens decidiram entregar a sua vida ao serviço do Senhor. Uns 70 foram ordenados uns anos depois. Iniciou-se em Callao o seminário João Paulo II para formar esses futuros sacerdotes, apoiados por famílias em missão que eram as primeiras que o Papa enviava à América Latina. E já em 2012 fui ordenado bispo de El Callao. Estou no Peru desde 1976, quer dizer, 38 anos”, resume José Luis del Palacio. Depois foi designado consultor para o Pontifício Conselho da Nova Evangelização.

Hoje como bispo continua pregando o que viveu em jovem e o que continuou vendo toda a sua vida. “Eu sou psicólogo. Consta-me que as pessoas que abortaram depois não podem dormir; vemos que o sexo anticonceptivo é como um teatro, não há entrega real… Eu venho do Maio de 68, que negava a lei natural, o bem e o mal… Mas a lei natural existe. Eu vi-a, por exemplo, na selva. Ali, os indígenas não abortam. Inclusive se é pobríssimo e não podem manter o bebé não o matam, dão-no onde seja. O homem procura o bem”.

Para conhecer mais do trabalho do bispo com os pobres de Callao e apoiá-lo, visite:
www.facebook.com/caritascallao

E o blogue: http://caritasdelcallao.blogspot.com.es


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