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sábado, 3 de maio de 2014

Era muçulmana e sonhou com um ancião de branco: «Sou João, São João, tudo irá bem». Era João XXIII

Ela não sabia quem era o velhote... Mas mudou a sua vida 

João XXIII reza com uma menina enferma, numa
das suas imagens mais recordadas
Actualizado 28 de Abril de 2014

P.J.G./ReL

Devrim era uma rapariga turca e muçulmana que não conhecia nada do Papa João XXIII: nem o seu nome, nem o seu aspecto, nem a sua existência nem muito menos que este Papa tinha vivido 3 anos na Turquia.

E sem dúvida, por alguma razão o Papa Roncalli quis participar na sua vida de forma assombrosa muitos anos depois de falecido. A história, que se publicou primeiro na página da internet em italiano dedicada ao Papa João, pode-se ler em Cristãos vindos do Islão (LibrosLibres, 2007).

Uma jovem turca
Devrim nasceu e viveu na Turquia até aos 29 anos. A sua família era muçulmana e crente, ainda que integrada no estilo de vida mais laico da Turquia moderna, pouco fervorosa.

“Os meus pais falavam-me do nosso grande e único Deus. Repetiam que o Corão é a revelação última e definitiva. Que o Islão é a melhor religião, mas que devemos respeitar aqueles que professam outra. Eu rezava só. Rara vez ia à mesquita. Não me considerava uma pessoa especialmente devota mas, ao mesmo tempo, sentia um forte desejo de um Deus com o qual dialogar. Havia um vazio no meu coração, mas não conseguia compreender como podia preenchê-lo”. 

Um namorado em Itália
Aos 29 anos Devrim instalou-se na Itália, como intérprete numa empresa de envios internacionais. Ali conheceu um rapaz siciliano, Beppe, enamoraram-se e casaram-se pelo civil. Mas com o tempo, entenderam que desejavam que Deus bendizesse o seu amor, e foram à sua paróquia de Verona.

A Devrim abria-se-lhe um mundo ao escutar como o pároco, Dom Francesco, lhe apresentava o Deus cristão.

“O seu falar de Deus como amigo, como companheiro da vida quotidiana do homem, até crescer em mim a curiosidade pelo catolicismo, era cintilar perante os meus olhos uma divindade próxima, concreta e fascinante. Dom Francesco repetia que Deus é como uma luz sempre acendida fora da janela e que é suficiente abrir para que entre na nossa casa. E eu perguntava-me: alguma vez abri realmente a minha janela?”
Festa dos namorados em Verona, cidade
famosa pelas suas histórias de amor difícil
Mas ela ainda não pensava fazer-se cristã. Só queria um casamento cristão com o seu marido católico. Em princípio a data estava estabelecida para o 7 de Outubro de 2000, mas em Agosto comunicaram desde a Curia diocesana que tinham surgido “dificuldades” no expediente, nunca detalhadas, que bloqueavam o processo.

Beppe inteirou-se enquanto estava na Sicília partilhando convites à sua família. Devrim chorava em Verona: estava Deus contra abençoar a sua união?

E então teve o sonho.

"Um ancião de branco com grandes orelhas"
“Uma noite tive um sonho que ficou nitidamente impresso na minha mente quando despertei. No dormitório estava um homem ancião, vestido de branco, um pouco inclinado sobre si mesmo pela idade, com grandes orelhas, grandes bochechas e os dentes ligeiramente torcidos, que me olhava sorrindo”.

- Quem és? – perguntou Devrim no sonho.
- Sou João, São João – disse o ancião, pondo a sua mão sobre o ombro dela. – Não temas, tudo irá bem. 

“Na manhã seguinte recebo uma chamada do pároco: o nosso pedido de matrimónio tinha obtido a aprovação directamente do bispo de Verona, monsenhor Flavio Carrazo”.

Devrim entendeu que tinha sido algum tipo de sonho premonitório, mas não o contou porque não entendia quem era o velhote de branco.

Mas uns dias mais tarde, domingo, vendo a televisão, viu uma cerimónia na Praça de São Pedro: o Papa João Pablo II estava proclamando um beato, se desenrolava uma tapeçaria e aparecia o rosto do velhote desconhecido com o qual tinha sonhado.

“Beppe, vem olhar! Vês esse rosto na televisão? É ele, é o velhote com o qual sonhei há uns dias!”, grita ao seu marido.
Assim apareceu o rosto de João
XXIII na tapeçaria da
beatificação em 3 de Setembro
de 2000
Beppe não sabia nada do sonho, mas sim conhecia o velhote. Explicou à jovem turca que esse homem ancião era o defunto Papa João XXIII… E agora a Igreja proclamava-o beato.

Um calafrio percorreu as costas de Devrim. E quis saber tudo sobre João XXIII.

Um Papa que viveu na Turquia
Em primeiro lugar queria fotos, mais fotos, para compará-lo com o ancião de branco do seu sonho.

Depois descobriu assombrada que ela não foi a primeira turca que interessou a João XXIII: tinha vivido em Istambul de 1934 a 1937, na nunciatura, e durante anos e anos rezou pela Turquia e seu povo.

“Nada de coincidências, são sinais da misteriosa presença de Deus na minha vida”, diria depois. “Porque uma mulher muçulmana ia sonhar com um santo de que nem sequer conhecia a sua existência?”, colocou.

Depois do casamento religioso, Devrim quis saber tudo sobre a Igreja, a fé católica e Jesus. Crivou de perguntas a amigos e parentes. Finalmente inscreveu-se num catecumenado com o seu pároco.

Quando em 2005 nasceu a sua filha, a pequena Ana, ambas, mãe e menina, foram baptizadas na Vigília Pascal, em 26 de Março desse ano.

Desde o dia do seu casamento, uma foto de João XXIII está na mesinha de cabeceira de Devrim e Beppe.

E ela fala da sua relação com Cristo: “Ele só espera o nosso sim para fazer-se companheiro da nossa existência. Esse vazio que sentia no meu coração de jovem na Turquia foi preenchido pela sua presença amorosa. Agora que sou cristã dou-me conta de que o baptismo não é o final de um caminho, mas sim um novo início, e sou feliz de poder dizê-lo a todo o mundo”.


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