Membros do partido admitem que não fizeram a denúncia durante o governo Zapatero porque a batalha da esquerda na época estava focada no direito ao aborto e ao casamento homossexual
Madrid, 03 de Dezembro de 2013
O Partido Socialista Espanhol (PSOE) apresentou nesta
segunda-feira, 2, um pedido ao governo espanhol para "denunciar
imediatamente" os acordos do país com a Santa Sé, além de elaborar em
até seis meses uma Lei Orgânica de Liberdade Religiosa e de Consciência e
estabelecer um protocolo civil que garanta a aconfessionalidade dos
actos solenes do Estado.
O PSOE quer substituir ou suprimir os acordos vigentes desde 1979
entre a Espanha e a Santa Sé e renegociá-los de zero. Os acordos, que
substituíram os de 1953, foram aprovados com amplíssima maioria no
parlamento.
A vice-secretária geral do PSOE, Elena Valenciano, anunciou que o
grupo parlamentar do congresso apresentará esta iniciativa "aberta ao
diálogo" com todos os outros grupos para conseguir o "maior apoio
possível".
Após a reunião da executiva federal, Valenciano explicou, em
entrevista colectiva, que os socialistas levam à prática desta forma o
anúncio feito há dezoito meses pelo secretário geral, Alfredo Pérez
Rubalcaba, recentemente ratificado pela Conferência Política do PSOE.
Se a proposta for rejeitada pelo Partido Popular (PP), hoje no
governo, o seu conteúdo se transformará em “compromisso de programa
eleitoral dos socialistas”, informa a representante do PSOE.
Elena Valenciano destacou também a "origem pré-constitucional" dos
acordos do Estado espanhol com a Santa Sé e justificou a iniciativa com
base na "nova realidade" da sociedade espanhola, mais laica e com maior
pluralismo religioso. "Com todo o respeito que todas as crenças merecem,
nós acreditamos que esta nova realidade da pluralidade religiosa e da
secularização tem que se reflectir no nosso ordenamento jurídico".
Para os socialistas, a actuação do PP no executivo "desequilibrou a
situação" e "rompeu" os princípios que regem uma sociedade laica. "Em
algumas iniciativas legislativas é notável uma influência directa da
hierarquia eclesiástica", lamenta a vice-secretária do PSOE. Mais ainda:
segundo o partido socialista, a hierarquia católica "tenta transformar
as suas crenças em leis para todos".
Após ressaltar que o PSOE “cumpriu escrupulosamente” os acordos com a
Igreja católica durante os mais de vinte anos em que governou a
Espanha, Elena Valenciano reconheceu que "provavelmente" teria sido
melhor denunciar os acordos quando o partido ainda governava.
A representante do PSOE argumentou, porém, que, durante a gestão de
José Luis Rodríguez Zapatero, os socialistas estavam "envolvidos numa
batalha importante relacionada com o direito ao aborto e ao casamento
entre pessoas do mesmo sexo", o que "abriu uma brecha com a Igreja no
âmbito dos direitos civis" e fez com que o momento não fosse o mais
oportuno para que o governo socialista denunciasse os acordos entre
Espanha e Santa Sé. Valenciano completa: "Não fizemos isso na época, mas
achamos que agora é a hora certa".
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