O primado da vida e da liberdade: responsabilidade e participação criativa
Roma, 06 de Novembro de 2013
Recentemente, Samuel Gregg, director de pesquisa do Instituto
Acton, de Grand Rapids, publicou uma obra com título tão provocativo
quanto claro, em um contexto americano profundamente marcado por
disputas ideológicas contínuas e pela aparente perda de memória
histórica.
Em seu “Tea Party Catholic: The Catholic Case for Limited
Government, a Free Economy and Human Flourishing”, o autor traça com
prosa intensa, filosoficamente estruturada e agradável de se ler, um
quadro completo das contradições e dos riscos de uma sociedade chamada a
não perder a sua identidade e a se esforçar diariamente, de modo às
vezes humilhante e degradante, para não chegar ao nível do Leviatã, nas
vestes de um Estado excessivamente paternalista e sedutor a ponto de
privar o indivíduo e a comunidade de uma escolha eticamente diferente em
questões altamente sensíveis.
Na esteira da Doutrina Social da Igreja, com referências oportunas
aos documentos pontifícios, Gregg analisa, num crescendo de temas e
perspectivas, os desafios da modernidade, que parece ter perdido os
princípios fundadores da virtude, para os quais o zelo, a perseverança, a
prudência, o sacrifício, a coragem e a piedade são indissociáveis de
um processo humano e transcendente com vista à realização integral da
pessoa.
O "círculo vicioso" da justificação da liberdade absoluta produziu um
paradoxo antitético e anti-ético que confunde tal autonomia
incondicional, de contornos indefiníveis, com o verdadeiro conceito de
liberdade, que, privado de toda exigência moral, perde todas as suas
características essenciais.
A essa indiferente "emancipação", contrasta-se a alternativa de uma
escolha que não é facilmente manipulável e que, ao mesmo tempo, se
articula em um processo de reflexão, criatividade e responsabilidade.
Uma jornada pessoal desse tipo não depende de reduções simplistas do
relativismo hedonista, mas fica a serviço da comunidade num percurso
solidário e subsidiário, em que cada um é livre, respeitado no seu papel
e apreciado nos seus talentos.
Desta forma, geram-se naturalmente as condições necessárias para um
desenvolvimento económico que é humanamente integral, não mais míope, auto-referencial e desprovido de valores.
A escolha da fé, numa sociedade responsável e co-criativa, ainda
assume uma força motriz para a participação democrática e para a defesa
dos direitos invioláveis da pessoa contra um secularismo doutrinário
e, não raro, intolerante.
Com base na Dignitatis Humanae, que se originou, durante o
concílio Vaticano II, de uma aliança incomum entre os representantes do
episcopado norte-americano e os bispos da Europa Central e Oriental,
ainda sob o jugo da ditadura comunista, Gregg sublinha o valor positivo
do testemunho religioso e não hesita em apresentar a contribuição
histórica dos católicos na formação da América contemporânea.
in
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