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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Papa Francisco visita a sede da presidência italiana

Sem escolta nem cortejo papal


Roma, 14 de Novembro de 2013


Há grande expectativa na Itália a respeito dos temas que serão abordados pelo papa e pelo presidente do país, incluindo a imigração e a crise económica.

Que o papa não fosse chegar com pompa ao Quirinale, sede da presidência da República, era previsível. A visita de Bergoglio àquela que já foi a residência papal em outros tempos se resume a uma palavra-chave: sobriedade. O Santo Padre chegou a bordo do Ford Focus usado ​​comummente, poucos minutos antes das 11 da manhã. A imprensa, tanto a italiana quanto a internacional, esbanjou atenções à ausência da escolta e do cortejo papal pelas ruas de Roma e recordou Bento XVI, que, em visita ao Quirinale em 2008, foi escoltado por uma tropa uniformizada, que o acompanhou durante a subida da Via IV Novembre.

É superficial esse tipo de comparação, já que não se trata nem de falta nem de excesso de humildade de um ou de outro. O papa Bento XVI sempre foi respeitoso do protocolo, inclusive do esperado em visitas de Estado. Já Bergoglio não gosta de determinados formalismos, especialmente se envolvem representações de "poder religioso". Como poderia ser diferente depois de tantos anos de pobreza singela em Buenos Aires?

Logo ao descer do carro, o papa foi recebido pelo presidente da República Italiana, Giorgio Napolitano. Após o aperto de mão e uma breve saudação, os “dois Jorges mais amados pelos italianos”, Bergoglio e Napolitano, caminharam juntos para uma das varandas do Quirinale, onde pararam para conversar. A seguir, entraram na sala do presidente para a conversa em particular.

Nesse meio tempo, ocorria o encontro entre a delegação italiana, liderada pelo primeiro-ministro Enrico Letta, e a do Vaticano, chefiada por dom Angelo Becciù, substituto na secretaria de Estado. Além do prelado, estiveram presentes o arcebispo Dominique Mamberti, secretário para as Relações com os Estados, o cardeal Giuseppe Bertello, presidente do governatorato vaticano, o cardeal Angelo Bagnasco, presidente da Conferência Episcopal Italiana, o cardeal Agostino Vallini, vigário de Sua santidade para a Diocese de Roma, monsenhor Georg Gaenswein, prefeito da Casa Pontifícia, dom Adriano Bernardini, núncio apostólico na Itália, e dom Carlo Alberto Capella, secretário da nunciatura.

A agenda do encontro foi ampla. Depois da reunião privada com Napolitano, a programação previa os discursos oficiais do papa Francisco e o encontro com os funcionários do Quirinale e suas famílias, num momento tipicamente "bergogliano", em que o papa quer cumprimentar as famílias, os jovens e as crianças. Toda a jornada foi planeada para transcorrer com simplicidade protocolar, de acordo com as directrizes do próprio papa durante a organização da visita.

Mas este não é o ponto fundamental. A espera mais ansiosa é pelos temas "quentes" que o Chefe de Estado e o Chefe da Igreja devem abordar quanto ao futuro da Itália. Em primeiro lugar, a questão dos desembarques de imigrantes clandestinos no país, com o decorrente drama da imigração, o que inclui a situação na ilha de Lampedusa, o fluxo de refugiados e as ajudas de que eles necessitam. Também entram na lista de assuntos candentes as violações dos direitos humanos, as desigualdades sociais, a crise económica e o seu impacto sobre a população, em especial sobre as famílias. E não pode deixar de ser levado em conta algum assunto "fora de pauta", que o papa Francisco poderá levantar espontaneamente, como é de seu costume.

Há muita curiosidade na Itália sobre a "química" entre o presidente pensativo e introspectivo e o pontífice imprevisível e vivaz. Este aspecto não é secundário, já que o relacionamento entre ambos os líderes terá um importante peso político. João Paulo II, por exemplo, mantinha grande amizade com o ex-presidente Sandro Pertini. Francisco e Napolitano têm temperamentos totalmente opostos, mas as relações mantidas até agora, incluindo telefonemas e visitas ao Vaticano, têm demonstrado um entendimento excelente.

O Santo Padre entregará ao presidente Napolitano, após a reunião privada, dois bronzes do mestre Guido Veroi. Um representa São Martinho a cavalo, com armadura romana, em atitude de cortar a própria capa e doá-la aos pobres. O outro, intitulado "Solidariedade e Paz", representa um anjo abraçando e aproximando misticamente os dois hemisférios do globo, superando a oposição de um dragão. A legenda diz: "Um mundo de solidariedade e de paz fundamentado na justiça".

A Secretaria Geral da Presidência da República Italiana apresentará ao papa, por sua vez, o códice púrpura mantido no Museu Diocesano de Arte Sacra de Rossano, actualmente em restauração no Instituto de Conservação do Património. O códice é um símbolo importante da história milenar das relações entre o mundo helénico e a região italiana da Calábria, que, desde os alvores da Europa, acolheu em seu litoral as populações micénicas vindas da Grécia continental.


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