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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

O Padre Pio, o resgate de três sacerdotes: o gordo roncador, o escrupuloso e o atrevido

Ajudas que prestou em vida 

O Padre Pio com o Padre Eusebio Notte, um dos seus mais fiéis amigos.
Actualizado 3 de Novembro de 2013

C.L. / ReL

O Padre Pio (1887-1968) não foi só um santo popular pelos estigmas e pelos milagres, que atraíram milhões de pessoas até ao convento de San Giovanni Rotondo. É também um modelo de vida sacerdotal, pois evidenciou a eficácia do apostolado dos sacramentos: a missa - cuja essência de sacrifício expiatório era tanto mais patente se a celebrava alguém com as chagas de Cristo - e a confissão, à qual consagrou praticamente em exclusivo toda a sua existência.

Por isso os sacerdotes figuravam entre os seus filhos predilectos, e não deixou de distingui-los com a sua ajuda nos momentos de dificuldade.

Trepar pelo cristal
Dificuldade espiritual, como a do padre Pasquale Cattaneo, que recebeu autorização dos seus superiores para ir confessar-se com aquele capuchino natural de Pietrelcina a quem todos consideravam já santo. Durante a viagem no autocarro preparou a fundo o exame de consciência, para que, chegado o momento, não ficasse um só canto da sua alma sem expor ao juízo do bom frade. E fez novos propósitos de emenda.

Mas ao aproximar-se do seu destino, algum escrúpulo devia assalta-lo, porque pensou com desânimo: "A vida espiritual... É como tentar escalar pelo cristal!".

Chegou a San Giovanni Rotondo, avisou de que tinha vindo para confessar-se com o Padre Pio, e esperou a sua vez. Quando chegou o momento, ajoelhou-se perante o santo e começou a debulhar o que tinha preparado. Terminou, recebeu a absolvição, e levantou-se feliz, porque tinha sido capaz de fazer uma confissão sincera. Voltou-se então para despedir-se e então o Padre Pio olhou-o, sorriu-lhe e com olhos cúmplices disse-lhe: "Assim que a vida espiritual é como escalar pelo cristal, eh?".

O padre Cattaneo contou esta história, que corrobora algo que centenas de pessoas viveram: o dom de conhecimento de almas que tinha São Pio de Pietrelcina, e que surpreendia com frequência os fiéis, para bem - como neste caso, em que a confissão foi boa - ou para mal - como em tantas ocasiões em que perguntou aos penitentes por pecados que lhe tinham ocultado, voluntária ou involuntariamente -.

Clamar ante o abismo
Mas o Padre Pio também ajudava materialmente a quem o pedia na necessidade. Como ao padre Valentino, um capuchino de San Marco in Lamis, filho espiritual seu.

Durante a ocupação alemã da Itália na Segunda Guerra Mundial, frei Valentino ficou na Emilia Romagna, separado da sua família, originária de la Puglia, pela frente de guerra. Tanto sentia a sua falta e tanto o preocupava a sua situação, que decidiu ir ao Sul para vê-los.

Para passar a zona controlada pelos aliados contactou com grupos guerrilheiros que lutavam contra os nazis, e o informaram de uma passagem montanhosa, ainda que advertindo-o do seu extremo perigo, e mais com o frio Inverno no qual estavam. Mas o atrevido padre Valentino pensou que era "agora ou nunca", encomendou-se ao seu amigo e director espiritual o Padre Pio, e juntou-se a um grupo de gente na sua mesma situação para cruzar a frente pelo lugar indicado.

Chegaram a um caminho muito estreito e coberto pela neve, que corria junto a um talude que desembocava num precipício. Enquanto o descia a duras penas, o frade pisou no lugar errado e caiu, começando a descer sem remédio até o abismo.

Começou então a gritar desaforadamente "Ajuda-me, Padre Pio, ajuda-me!". E justo nesse momento um arbusto deteve a sua queda e salvou-lhe a vida. Os seus companheiros ajudaram-no a subir de novo.

Chegaram ao seu destino, e dias despois o padre Valentino quis ir a San Giovanni Rotondo visitar o Padre Pio. Quando este o viu, disse-lhe, antes que tivessem podido falar: "Quantos gritos me deste no outro dia! Quantos gritos!". E logo o santo se aproximou dele, abraçou-o e disse-lhe: "Vamos dar juntos graças a Deus".

Uma cena cómica
Nada dramática, e melhor como saída de uma película de humor, foi a cena que viveu o padre Nello Masini, um sacerdote de San Leonardo Murialdo que tinha conhecido o Padre Pio em 1950 e se tinha convertido também num dos seus filhos espirituais.

Um Verão foi com outros sacerdotes a Véneto para um retiro espiritual. Don Nello era um homem rechonchudo e jovial muito querido pelos seus companheiros, mas... Por causa da sua obesidade os seus ronquidos nocturnos eram literalmente insuportáveis e não deixavam dormir ninguém. Assim que combinaram em que dormisse ele só num quarto no final de um longo corredor.

Uma noite o padre Nello levantou-se para ir à casa de banho que tinha ao lado, mas a porta se lhe fechou com tal força que o trinco se trancou. Quando quis sair, comprovou que estava preso. Começou a chamar aos gritos por alguém, mas... Como iam ouvi-lo, se o tinham isolado justo para isso?

Como não estava disposto a passar a noite na retrete, decidiu subir-se ao lavatório para tentar sair pelo estreito ventilador que dava para o telhado. O plano era passar desde ali a algum quarto que tivesse a janela aberta. Quando tentou passar os seus 120 quilos por esse agulheiro... Sucedeu o que tinha que suceder: prendeu-se nele.

Depois de denodados e inúteis esforços para arrancar-se dali, nem para a frente nem para atrás, agarrou-se ao último recurso, e começou a pensar no Padre Pio e a rezar. E logo, sem saber como, viu-se no telhado. Assombrado com o facto, mas disposto a aproveitá-lo, desceu com cuidado até que encontrou uma janela aberta de um corredor, que o levou até o seu dormitório.

Meses depois viajou até San Giovanni Rotondo para ver o seu director espiritual, e encontrou-o no terraço onde se sentava, já idoso, a fazer as suas orações vespertinas ao concluir a jornada. Aproximou-se para beijar-lhe a mão, e quando o Padre Pio o viu, disse-lhe: "Don Nello, Don Nello! Aquela noite no telhado...!".

* * *

Já sabem, pois, os sacerdotes a quem ir na tribulação espiritual, ante o perigo físico ou quando se vejam emperrados em algum infernal ventilador. Agora desde o céu, como antes desde a sua cela, o Padre Pio deitará sempre uma mão.

(Estes testemunhos, prestados pelos interessados na causa de canonização de San Pio de Pietrelcina, estão tomados do livro Il Padre. San Pio da Pietrelcina do padre Marcellino Iasenzaniro, tal como os recolhe o blog Mystics of the Church.)


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