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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Em 1968 quiseram abortá-lo porque ia nascer «um monstro»: a sua mãe negou-se… E vai ser bispo

O médico negou-se a continuar acompanhando a gravidez 

Andrew Cozzens, futuro bispo auxiliar de St Paul e Minneapolis.
Actualizado 2 de Novembro de 2013

C.L. / ReL


O passado 11 de Outubro, o Papa nomeou Andrew Cozzens bispo auxiliar de St Paul e Minneapolis, as cidades gémeas de Minnesota (Estados Unidos). Foi ordenado sacerdote em 1997 aos 28 anos, tem agora 45 e é professor de Teologia Sacramental e encarregado de liturgia no seminário diocesano e uma pessoa conhecida e apreciada no seu ambiente, onde ninguém se atreveria a considerá-lo "um monstro".

Mas houve alguém que sim o fez, e quando ainda não tinha nascido. Contou-o a sua mãe a The Catholic Spirit precisamente a raiz da sua nomeação, e revela que o futuro bispo podia ter morrido abortado se Judy, que tem hoje 69 anos, tivesse seguido os conselhos da sua ginecóloga.

"Um monstro"
Quando estava grávida de cinco meses daquele que seria o seu segundo filho, começou a sentir dor nos intestinos, que no princípio atribuiu a um vírus que naquele momento fazia estragos no colégio onde dava aulas. Mas logo compreendeu que realmente o que estava era experimentando dores de parto. Um parto perigosamente prematuro.

Foi rapidamente ao hospital com Jack, seu marido, e ali conseguiram deter o processo. 

O padre Cozzens com a sua mãe,
45 anos depois da grande decisão.
Mas no dia seguinte, o médico chegou ao quarto com uma proposta terrível: "Você traz um feto deformado. Não pode continuar com a gravidez". "Que quer dizer?", contestou Judy, uma mulher de firmes convicções católicas: "É meu filho!".

"Não, creio que não me entende", insistiu o doutor: "O que você leva dentro é um monstro e não deve continuar esta gravidez". O aborto nos Estados Unidos ainda não se considerava um direito, mas sim começava-se a praticar por razões consideradas "terapêuticas".

"É meu filho, e o que Deus nos envie, o aceitaremos", respondeu simplesmente a sua mãe. O médico negou-se a continuar acompanhando a gravidez, mas encontraram um substituto que a levou a termo em 3 de Agosto de 1968.

As tarefas de Deus
Andrew nasceu perfeitamente normal, ainda que com um eczema que cobria todo o seu corpo. Teve alguns problemas mais de saúde, como umas alergias que lhe deram a lata durante dois anos e degeneraram numa asma crónica que todavia o afecta. Nada que converta a ninguém num "monstro"!

Ainda que, paradoxalmente, essa asma serviu-lhe para despontar a vocação de entrega a Deus numa idade tão nova como os 4 anos. Uma noite, durante uma estadia hospitalar na qual tiveram que ligá-lo a um pulmão artificial, disse ao médico que estava com ele: "Vá dormir para a cama. Estarei bem. Vou crescer e dedicar-me às tarefas de Deus".

De facto, o fez naquele mesmo dia! O doutor disse logo a Jack e Judy que estava perdendo a sua fé em Deus em consequência de um processo de divórcio muito doloroso, e que as palavras do pequeno o tinham ajudado.

Campanhas por um sacerdote ainda não concebido
Andrew cresceu numa família muito devota. Os seus pais tinham-se conhecido em 1964 como estudantes universitários num encontro às cegas, e quatro semanas depois do primeiro encontro, Jack propôs matrimónio a Judy... Na capela da universidade, depois de rezarem um pedaço juntos!

"Ela disse sim imediatamente, e enquanto lhe punha o anel de noivado, os sinos da capela começaram a soar. Olhei o meu relógio e eram 18:23. Não havia razão para que soassem a essa hora, assim que nos encantou o facto", confessa Jack, que crê que foi um sinal de que iam ser abençoados com um filho sacerdote.

A sua vocação forjou-se também graças à amizade da família com um sacerdote de Denver, onde viveram uma temporada para tratar o pequeno num centro especializado em asma. Monsenhor Thomas Barry adiantou um pouco inclusive a sua Primeira Comunhão para que pudesse ajudá-lo na missa antes de jubilar-se.

Bom coração
E o "monstro" continuou fazendo vida normal, e inclusive mais que normal, pois seguindo o passatempo de alpinista do seu pai, foi-o ele também. Junto com a sua irmã mais velha, Helen (mãe de uma jogadora de basquetebol que aponta alto), e o seu irmão de acolhimento, Sergei, escalaram em 1982 o difícil Grand Teton de Wyoming. 

O futuro bispo com a sua sobrinha AnneMarie,
uma das estrelas da laureada equipa local
de basquetebol feminino.
Por certo que com Sergei, hoje advogado, Andrew também mostrou o seu bom coração. A família tentou adoptá-lo quando tinha 15 anos, mas não o conseguiram, ainda que passou com eles uma temporada tão longa que o consideram mais um. Numa ocasião, enquanto estavam ceando e comentando as dificuldades para a adopção, o futuro bispo, que tinha então 10 anos, lamentou-se: "Qual é o problema? Sergei necessita de um lar e nós temos um".

Sempre foi muito sensível a essa problemática, pela sua relação com Sergei e pelo seu próprio caso, e já como sacerdote formou parte de Safe Place for Newborns, uma organização que atende recém-nascidos em risco de ser abandonados.

Doutor pelo Angelicum
Depois de estudar num colégio público, formar-se com os beneditinos e crescer na fé durante um tempo com a Renovação Carismática, Andrew entrou no seminário, ordenou-se sacerdote, e logo foi para o Angelicum de Roma (a universidade dos dominicanos), onde se doutorou em 2008 com uma tese sobre o sacerdote como "imagem viva de Jesus Cristo".

O será como bispo? Judy crê que sim: "É um sacerdote bom e santo, um homem humilde e um soldado forte. Está pronto. Está preparado". É a sua mãe quem o diz, certo, mas... É uma mãe que há 45 aceitou sê-lo "de um monstro" se essa era a vontade de Deus. A credibilidade ganhou-a a pulso.

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