Homilia do Papa Francisco na Domus Sanctae Marthae, 1° de maio de 2013
Cidade do Vaticano, 02 de Maio de 2013
“A sociedade não é justa se não oferece a todos um trabalho
ou explora os trabalhadores”. Foi o que afirmou o Papa Francisco na
manhã de ontem, 1º de maio, na missa celebrada na Capela da Casa Santa
Marta, por ocasião da Festa de São José Operário. Estavam presentes
alguns menores e jovens mães, hóspedes do Centro de Solidariedade “Il
Ponte", criado em Civitavecchia em 1979, acompanhados pelo Presidente da
associação, Padre Egidio Smacchia.
No Evangelho proposto pela Liturgia, Jesus é chamado ‘filho do
carpinteiro’. José era um trabalhador e Jesus aprendeu a trabalhar com
ele. Na primeira leitura lê-se que Deus trabalha para criar o mundo.
Este “ícone de Deus trabalhador – afirma o Papa – nos diz que o trabalho
é algo que vai além de simplesmente ganhar o pão”:
“O trabalho nos dá dignidade. Quem trabalha é digno, tem uma
dignidade especial, uma dignidade de pessoa: o homem e a mulher que
trabalham são dignos. Ao invés disto, aqueles que não trabalham não têm
esta dignidade. Mas muitos são aqueles que querem trabalhar e não podem.
Isto é um peso na nossa consciência, porque quando a sociedade é
organizada desta maneira, onde nem todos têm a possibilidade de
trabalhar, de serem elevados pela dignidade do trabalho, esta sociedade
não está bem, não é justa. Vai contra o próprio Deus, que quis que a
nossa dignidade começasse daqui”.
“A dignidade – prosseguiu o Papa – não é o poder, o dinheiro, a
cultura que nos dá. Não! .... A dignidade nos dá o trabalho!” e um
trabalho digno, porque hoje muitos “sistemas sociais, políticos e económicos fizeram uma escolha que significa explorar a pessoa”:
“Não pagar aquilo que é justo, não dar trabalho, porque somente
se olha aos balanços, aos balanços da empresa; somente se olha para o
quanto eu posso aproveitar. Isto vai contra Deus. Quantas vezes – tantas
vezes -, lemos isto no ‘L’Osservatore Romano’…. Uma manchete que me
tocou muito, o dia da tragédia de Bangladesh, ‘Viver com 38 euros ao
mês’: este era o pagamento destas pessoas que morreram....E isto se
chama ‘trabalho escravo!’. E hoje no mundo existe esta escravidão que se
faz com o que Deus deu ao homem de mais belo: a capacidade de criar, de
trabalhar, de construir com isto a própria dignidade. Quantos irmãos e
irmãs no mundo estão nesta situação por culpa destes comportamentos económicos, sociais, políticos e assim por diante...”
O Papa cita um rabino da Idade Média que contava à sua comunidade
hebraica sobre os acontecimentos da Torre de Babel: naquele tempo, os
tijolos eram muito importantes:
“Quando um tijolo, por algum erro caía, era um grande problema, um escândalo: ‘Mas olha o que você fez!’. Mas se um daqueles que construía a torre caía: ‘Requiescat in pace!’ e o deixavam ali na maior tranquilidade.....Era mais importante o tijolo que a pessoa. Isto contava aquele rabino medieval e isto acontece hoje. As pessoas são menos importantes que as coisas que dão vantagens àqueles que tem o poder políticos, social, económico. A que ponto chegamos? Ao ponto que não estamos conscientes desta dignidade da pessoa; esta dignidade do trabalho. Mas hoje a figura de São José, de Jesus, de Deus, que trabalham – este é o nosso modelo – nos ensinam o caminho para andar em direcção à dignidade”.
(Fonte: Radio Vaticano)
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