A instrumentalização anti-ocidental da tragédia na fábrica de Bangladesh
Roma, 29 de Abril de 2013
O que aconteceu em Savar, Bangladesh, é uma história já
vista, que se repete periodicamente sem nenhuma perspectiva de mudança. A
penúltima desgraça tinha acontecido em 16 de Novembro de 2012, na
Tazreen Fashion, uma fábrica destruída pelo fogo: nove andares, uma
única saída de emergência (bloqueada), fuga impossível dos
trabalhadores, saldo de 112 trabalhadores mortos.
Agora, em Savar, a trinta quilómetros de Daca, a capital de
Bangladesh, um prédio de oito andares declarado impróprio para uso
estava sendo usado, apesar de tudo, como cenário para que centenas de
homens e mulheres fossem obrigados pelos seus empregadores a trabalhar
por menos de um dólar ao dia.
Em 24 de Abril, os oito andares do Rana Plaza colapsaram sobre si próprios.
Até o momento, 2.348 pessoas foram retiradas da montanha de entulho:
pelo menos 304 morreram e 2.044 ficaram feridas, mas ainda há 372
desaparecidos. Entre os trabalhadores ainda ausentes há três meninas
cristãs, que tinham estudado na Novara Technical School, uma escola
técnica fundada em Dinaipur pelos missionários do Pontifício Instituto
para as Missões Exteriores (PIME). Missionários e voluntários cristãos
chegaram ao local para ajudar nas operações de resgate. Eles continuam a
procurá-las entre os escombros e nos hospitais que receberam os
feridos.
O Rana Plaza alojava cinco fábricas têxteis com cerca de 3 mil
funcionários; em sua grande maioria, moças. Nas fábricas, eram
produzidas peças de roupa para grandes marcas internacionais, como a
inglesa Primark, a espanhola Mango, a alemã KIK e a gigante
norte-americana Wal-Mart.
A italiana Benetton também foi acusada de produzir roupas naquele
moedor humano, mas emitiu um comunicado oficial negando envolvimento.
Em 23 de Abril, um dia antes do desabamento, inspectores tinham
declarado a construção insegura e imprópria para uso, por causa de
rachaduras profundas que eram visíveis em todas as paredes. A grande
estrutura tinha sido construída sobre um lago submerso, de forma ilegal,
por um jovem empreendedor. Apesar da declaração de inabitabilidade, os
donos das fábricas forçaram seus funcionários a continuar trabalhando,
mediante frases ameaçadoras como "Se você não vier, não pago os
atrasados" ou "Se você perder um dia, perde três do pagamento".
Além da tragédia humana e da loucura da ganância humana, o
desabamento do edifício significa mais um fósforo aceso em um barril de
pólvora pronto para explodir: o clima de tensão política e social que
existe no país.
Os partidos da oposição e os partidos islâmicos aproveitaram a
oportunidade para instrumentalizar a tragédia contra o Ocidente,
imputando a responsabilidade ao governo do partido Liga Awami, do qual
exigem a renúncia. O proprietário do edifício, de fato, é um homem que
tem ligações com o partido. A frente de oposição ao governo inclui o
tradicional Partido Nacionalista de Bangladesh (BNP), mas também muitos
partidos fundamentalistas islâmicos, como o antigo Jamaat-Islam e novas
formações e movimentos como o Hefajat-Islam (“Protector do Islão”) e o
Ahle Sunnah Wal Jamaat, que pregam a islamização do país.
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