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segunda-feira, 1 de abril de 2013

O Papa, aos sacerdotes: menos «introspecção» e mais «sair a dar o Evangelho aos demais»

«Nem coleccionadores de antiguidades nem de novidades»

Actualizado 28 de Março de 2013

COPE / ReL

O Papa Francisco abriu hoje o Tríduo Pascal, o primeiro do seu pontificado, com a Missa Crismal, em cuja homilia disse que o sacerdote não pode ser um gestor, tem que sair à "periferia", onde há “sofrimento, sangue derramado, cegueira que deseja ver, onde há cativos de tantos maus patrões".

"Não é em auto-experiências, nem em introspecções reiteradas onde vamos encontrar o Senhor. Os cursos de auto-ajuda na vida podem ser úteis, mas viver passando de um a outro, leva a minimizar o poder da graça que se activa e cresce na medida em que saímos com fé a dar o Evangelho aos demais, a dar a pouca unção que tenhamos aos que não tem nada de nada", afirmou.

A Missa Crismal marca o começo do Tríduo Pascal, centro e cúpula do Ano Litúrgico, e celebra-se na Quinta-feira Santa, dia em que se comemora a instituição dos sacramentos da Eucaristia e da Ordem Sacerdotal por Jesus Cristo durante a Última Ceia, segundo a tradição cristã.

Assim, durante o rito, celebrado às primeiras horas da manhã na basílica de São Pedro do Vaticano, a que assistiram umas 10.000 pessoas, os 1.600 sacerdotes presentes renovaram as suas promessas (pobreza, castidade e obediência) e Francisco destacou na sua homilia o que significa ser padre e as suas obrigações.

O Papa Bergoglio disse que o sacerdote que sai pouco de si, que unge pouco os seus fiéis "perde o melhor do nosso povo, isso que é capaz de activar o mais fundo do seu coração presbiteral". "O que não sai de si, em vez de mediador, vai-se convertendo pouco a pouco em intermediário, em gestor. Todos conhecemos a diferença: o intermediário e o gestor ´já têm o seu pagamento´, e posto que não põe em jogo a própria pele, nem o coração, tampouco recebem um agradecimento afectuoso que nasce do coração", denunciou.

O Papa acrescentou que daí provêm precisamente a insatisfação de alguns sacerdotes, "que terminam tristes e convertidos numa espécie de coleccionistas de antiguidades ou bem de novidades, em vez de ser pastores com ´odor a ovelha´, pastores no meio do seu rebanho e pescadores de homens".

Francisco acrescentou que "a chamada crise de identidade sacerdotal" ameaça a todos e soma-se a uma crise de civilização, mas que se os sacerdotes "soubermos atravessar a onda, poderemos meter-nos mar dentro em nome do Senhor e encher as redes".

Durante a missa, Francisco abençoou o Óleo dos catecúmenos, o dos enfermos e o Crisma (óleo e bálsamos misturados), que lhe foram apresentados em três grandes jarras de prata. Estes óleos são abençoados na Quinta-feira Santa pelos bispos e utilizam-se para ungir os que se baptizam, os que se confirmam e para a ordenação sacerdotal. O rito celebra-se em todas as catedrais do mundo.

Este ano o óleo abençoado procede de uma empresa espanhola de Castelseras, na província aragonesa de Teruel.

Referindo-se ao óleo consagrado, o Papa disse que a sua unção, "como disse claramente o Senhor", é para os pobres, para os cativos, para os enfermos, para os que estão tristes e sós. "A unção não é para perfumar-nos a nós mesmos, nem muito menos para que a guardemos num frasco, já que se poria ranço no óleo... E amargo no coração".

O pontífice disse também que ao bom sacerdote se lhe reconhece "por como anda ungido o seu povo" e assegurou que quando os fiéis estão ungidos com óleo de alegria se lhe nota, "por exemplo, quando sai da missa com cara de ter recebido uma boa notícia".

"A nossa gente agradece o Evangelho pregado com unção, agradece quando o evangelho que pregamos chega à sua vida quotidiana, quando ilumina as situações limites, as periferias onde o povo fiel está mais exposto à invasão dos que querem saquear a sua fé", sublinhou.

Francisco pediu aos fiéis que acompanhem os sacerdotes com o afecto e a oração, para que sejam sempre Pastores segundo o coração de Deus.

O Papa Francisco transladar-se-á esta tarde de Quinta-feira Santa para a cadeia de menores de Casal do Marmo, nos arredores de Roma, para celebrar a missa da Última Ceia, na qual lavará os pés a doze jovens reclusos.


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