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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

III - O Homem, um ser chamado a algo mais!

Em tempos de ambiguidade, de relativismo, de opiniões e mais opiniões, a Verdade anda muito distorcida e afastada. “Confundir para reinar”, também não é uma prática recente, embora esteja hoje mais acentuada e difundida, especialmente pelos que têm por dever, missão e profissão relatar os factos verídicos, dispensando juízos de opinião, ou outras estratégias influenciadoras de colonização ideológica.

Ludibriar, inventar, distorcer ou similares, era muito mau sinal, era incorrecto, era grave, era uma vergonha ou até, por vezes, uma atitude conotada com alguma patologia. Afirmam alguns responsáveis destas áreas, que hoje já se mente sem se dar conta, da forma tão natural como se afirma uma verdade, defende-se uma mentira, com toda a leveza, banalidade ou leviandade.

A ausência de referências, de normas, de distinção entre uma verdade e uma mentira, pode gerar indiferença, permissividade, desleixo, faculta a proliferação da confusão, do desentendimento e da insegurança, numa complexa rede de atropelos sociais, morais, familiares e económicos. Em águas turvas é muito difícil uma orientação saudável, uma atitude de equilíbrio e de tranquilidade de modo a permitir a capacidade de discernir.

“Ipso facto”, torna-se cada vez mais premente recorrer aos valores, nomeadamente os éticos, sabendo que eles são guias de comportamento que asseguram a unidade da conduta humana numa determinada cultura, com um sistema de normas que proporcionam os padrões a adoptar para uma adequada vivência. São os princípios orientadores das nossas decisões, opções e acções, tornando-as preferíveis a outras, impondo-se, exigindo o respeito dos membros do grupo em que vigoram.

Os valores só existem no mundo humano e social, tomam forma na linguagem e são interiorizados através da educação. São uma bússola, um farol que nos indica o caminho a seguir, reflectem os ideais duma sociedade e adquirem-se no processo de socialização, sobretudo, na formação integral das crianças e dos jovens. Encontram-se na ordem do ideal e não na dos objectos concretos ou dos acontecimentos, apontando para um modo de agir superior, pelo que convidam à adesão e ao empenho. Lidamos com os valores de forma apaixonada, com uma componente afectivo-emocional.

Nos valores não pode haver ambivalências, ou é bem ou é mal, têm dois polos, um implica o outro – o bem contrapõe-se ao mal, o doce ao amargo, o escuro ao claro, etc.. Ser um e ser outro, ao mesmo tempo não é possível. Em axiologia, não pode haver neutralidade: ou é sim ou é não.

O ser dos valores não é o mesmo ser da realidade, o seu modo de ser é o valer, isto é, o modo como cada membro de uma cultura os valoriza. A Beleza dos Valores enaltece e engrandece quem os pratica e quem os vê.

A capacidade de poder escolher ser, é sinal da nossa nobreza humana. Em qualquer civilização o homem foi chamado a aperfeiçoar-se, a crescer em sabedoria, em capacidades, a caminho do mais, do melhor e da Eternidade.

A dignidade do homo sapiens é a percepção duma sabedoria inerente ao seu próprio EU, que o impele a procurar um conhecimento desinteressado, fomentando o desejo de se aproximar do Criador como caminho de perfeição e sentido de vida. Esta noção de querer e poder fazê-lo, leva-nos a concluir que o Homem também possui Liberdade para tal. Os animais e as plantas não a têm, movem-se de acordo com os estímulos, os instintos e as leis da natureza, são portadores duma alma mortal.

O Homem, um ser criado e cunhado por Deus, com um corpo mortal e uma alma imortal, tem a missão de ser algo mais, de se transcender-se, elevar-se, ser dono do seu destino, saber escolher, atingir a plenitude e a perfeição do humano, tocar o infinito e o divino, como prova da sua origem, do seu pensamento, da pertinência do seu existir, da dignidade que lhe assiste e da Vida Eterna que o aguarda.

Maria Susana Mexia


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