Em tempos de ambiguidade, de relativismo, de opiniões e mais opiniões, a Verdade anda muito distorcida e afastada. “Confundir para reinar”, também não é uma prática recente, embora esteja hoje mais acentuada e difundida, especialmente pelos que têm por dever, missão e profissão relatar os factos verídicos, dispensando juízos de opinião, ou outras estratégias influenciadoras de colonização ideológica.
Ludibriar, inventar, distorcer ou similares, era muito mau
sinal, era incorrecto, era grave, era uma vergonha ou até, por vezes, uma
atitude conotada com alguma patologia. Afirmam alguns responsáveis destas
áreas, que hoje já se mente sem se dar conta, da forma tão natural como se
afirma uma verdade, defende-se uma mentira, com toda a leveza, banalidade ou
leviandade.
A ausência de referências, de normas, de distinção entre uma
verdade e uma mentira, pode gerar indiferença, permissividade, desleixo,
faculta a proliferação da confusão, do desentendimento e da insegurança, numa
complexa rede de atropelos sociais, morais, familiares e económicos. Em águas
turvas é muito difícil uma orientação saudável, uma atitude de equilíbrio e de
tranquilidade de modo a permitir a capacidade de discernir.
“Ipso facto”, torna-se cada vez mais premente recorrer aos
valores, nomeadamente os éticos, sabendo que eles são guias de comportamento
que asseguram a unidade da conduta humana numa determinada cultura, com um
sistema de normas que proporcionam os padrões a adoptar para uma adequada vivência.
São os princípios orientadores das nossas decisões, opções e acções,
tornando-as preferíveis a outras, impondo-se, exigindo o respeito dos membros
do grupo em que vigoram.
Os valores só existem no mundo humano e social, tomam forma
na linguagem e são interiorizados através da educação. São uma bússola, um
farol que nos indica o caminho a seguir, reflectem os ideais duma sociedade e
adquirem-se no processo de socialização, sobretudo, na formação integral das
crianças e dos jovens. Encontram-se na ordem do ideal e não na dos objectos
concretos ou dos acontecimentos, apontando para um modo de agir superior, pelo
que convidam à adesão e ao empenho. Lidamos com os valores de forma apaixonada,
com uma componente afectivo-emocional.
Nos valores não pode haver ambivalências, ou é bem ou é mal,
têm dois polos, um implica o outro – o bem contrapõe-se ao mal, o doce ao
amargo, o escuro ao claro, etc.. Ser um e ser outro, ao mesmo tempo não é
possível. Em axiologia, não pode haver neutralidade: ou é sim ou é não.
O ser dos valores não é o mesmo ser da realidade, o seu modo
de ser é o valer, isto é, o modo como cada membro de uma cultura os valoriza. A
Beleza dos Valores enaltece e engrandece quem os pratica e quem os vê.
A capacidade de poder escolher ser, é sinal da nossa nobreza
humana. Em qualquer civilização o homem foi chamado a aperfeiçoar-se, a crescer
em sabedoria, em capacidades, a caminho do mais, do melhor e da Eternidade.
A dignidade do homo
sapiens é a percepção duma sabedoria inerente ao seu próprio EU, que o
impele a procurar um conhecimento desinteressado, fomentando o desejo de se
aproximar do Criador como caminho de perfeição e sentido de vida. Esta noção de
querer e poder fazê-lo, leva-nos a concluir que o Homem também possui Liberdade
para tal. Os animais e as plantas não a têm, movem-se de acordo com os
estímulos, os instintos e as leis da natureza, são portadores duma alma mortal.
O Homem, um ser criado e cunhado por Deus, com um corpo
mortal e uma alma imortal, tem a missão de ser algo mais, de se transcender-se,
elevar-se, ser dono do seu destino, saber escolher, atingir a plenitude e a
perfeição do humano, tocar o infinito e o divino, como prova da sua origem, do
seu pensamento, da pertinência do seu existir, da dignidade que lhe assiste e da
Vida Eterna que o aguarda.
Maria Susana Mexia
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