É verdade, tinha um sonho como todos nós. Fazer render os nossos dons tornando o mundo um pouco melhor. Na verdade, cedo me apercebi que por mais esforços que envidasse, resolvia-se uma situação, e surgiam outras tantas. Também a vida me ensinou que ao tentarmos mudar o mundo, este vai-nos transformando. Torna-se necessário possuir muita força para que os nossos ideais, as nossas crenças, a esperança num futuro melhor, mais justo, solidário, mais pacífico, fraterno…não sejam abalados. Na realidade, o mundo está sempre em constante mutação e vai-nos colocando novos desafios. Então o que aconteceu ao meu sonho? Ele continuou enquanto objetivo final. Unicamente, o modo de o alcançar foi-se alterando com o decorrer do tempo, devido a necessidades mais prementes e igualmente úteis adequando o meu sonho às diferentes realidades. Ao longo da vida foi possível constatar como inúmeras pessoas se juntam, formam instituições de bem-fazer com diferentes missões em prol de um bem maior, de uma causa útil à sociedade, colmatando uma necessidade existente. Outras há, que a nível individual, ajudam o próximo. Há alguns dias, uma amiga referia que em tempos tinha ajudado alguém. Hoje em dia, era essa pessoa que a ajudava. A vida dá muitas voltas! Há um ditado que diz: “Fazer o bem e não olhar a quem”!
Uma das necessidades detetadas,
entre outras, igualmente importantes, a nível dos Direitos Humanos, prende-se
com a situação dos mais idosos. A pandemia colocou a descoberto várias
situações que carecem de uma resposta urgente, desenvolvendo novos mecanismos
que visem dar uma resposta de qualidade a este grupo-alvo, não descurando
outros grupos. A sociedade civil não pode, de todo, demitir-se da sua
quota-parte de responsabilidade, uma vez que se encontra no terreno, com um
conhecimento real de algumas realidades, constituindo o seu contributo uma enorme
mais-valia. Torna-se necessário que seja mais interventiva em prol do bem comum
em tempo de pandemia SARS-COV-2. Vivenciamos tempos muito difíceis em que
ninguém pode ficar indiferente. Tenho uma amiga já com alguma idade, em
confinamento há seis meses, dá consultas gratuitas via whatsapp. Outra amiga doutorada em gerontologia, escreve artigos,
faz conferências virtuais, chamando a atenção para os problemas existentes. Há
tantas pessoas que anonimamente colaboram com instituições, fazendo a recolha
de alimentos, de roupas, de medicamentos, a sua distribuição, entre muitos
outros serviços assistenciais, básicos para a sociedade.
Nada acontece por acaso. Entretanto,
a convite de uma instituição onde sou voluntária, a Via Vitae, tive
oportunidade de assistir à 30ª Reunião Plenária promovida pela CNDH-Comissão
Nacional dos Direitos Humanos, por videoconferência, aberta à Sociedade Civil.
Esta Comissão Nacional dos
Direitos Humanos, encontra-se a celebrar os seus 10 anos de existência, altura
de fazer um balanço e perspetivar o futuro. Por outro lado está a promover um
ciclo de conferências virtuais denominadas “Conversas em Tempo de Pandemia” sob
o lema “Portugal e a Promoção e Proteção dos Direitos Humanos em tempo de
pandemia Covid-19” subordinadas a diferentes temáticas. A próxima sessão, terá
lugar no dia 14 de Outubro, com o lema “A Importância da Saúde Mental”. Quanto
ao meu caso fico expectante relativamente à problemática dos lares de idosos,
grande preocupação de todos. Torna-se necessário avaliar e aprofundar as
necessidades existentes e as lacunas detetadas. Para alcançar esse fim é
imprescindível a participação da Sociedade Civil, de Instituições Públicas, da Academia,
de Jornalistas, entre outros, alargando assim o leque de influência e o
enriquecimento do debate abrangendo um público mais vasto. As sessões já
ocorridas têm sido interessantes, animadas, com um debate construtivo e
aglutinador. Quando concluírem as cinco sessões, espera-se que tenham surgido
ideias profícuas, novas metodologias a implementar, aferidas às reais necessidades
sentidas.
Surge-me uma ideia que partilho.
A sociedade civil poderá ser um dos agentes de mudança com os seus contributos
para ajudar a minimizar e a ultrapassar a pandemia. Enfatizo todo o seu inestimável
apoio dedicado a diferentes causas por esse mundo fora, tendo por vezes alguns dos
seus agentes colocado a sua vida em risco, em detrimento da sua vida pessoal e
mesmo das suas famílias. Todos estamos juntos em prol do bem da humanidade e da
promoção dos direitos humanos para que as gerações vindouras possam usufruir em
pleno, das relações entre gerações e de um futuro mais promissor e tão
necessário a diferentes níveis.
O Papa Francisco referiu em certa
altura: “Para sairmos melhor de uma crise sanitária e ao mesmo tempo social,
política e económica, cada um de nós é chamado a assumir a sua parte de
responsabilidade. Partilhar as responsabilidades. Devemos responder não só como
indivíduos, mas também a partir do próprio grupo de pertença, do papel que
desempenhamos na sociedade, dos nossos princípios e, se acreditarmos, da nossa
fé em Deus”.
As palavras do Santo Padre vão de encontro ao meu sonho. Quem sentir que possui conhecimentos e experiência, no sentido de dar o seu contributo válido, tornar o mundo um pouco melhor, não deve deixar de o fazer. Todos temos um papel importante a cumprir na sociedade em complemento com a ação governativa, em prol da defesa, da proteção do ser humano. Termino com as palavras do Papa Francisco dirigidas à ONU: ”A crise sanitária levou-nos a uma encruzilhada. Ou enveredamos pelo caminho de uma renovada corresponsabilidade e solidariedade mundial ou percorremos a estrada do isolamento e deixamos de lado os mais vulneráveis. Esta segunda opção não deve prevalecer”. Santa Maria, Rainha da Esperança, intercedei por todos nós.
Maria Helena Paes |
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