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sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Já começou

O transhumanismo, ou humanismo +, é uma ideologia que começou a dar os seus primeiros passos na vida quotidiana. E o que vem a ser isto de transhumanismo? Em termos muito simples, podemos afirmar que, segundo esta ideologia:

1) O homem não está satisfeito por ser aquilo que é. Por isso, busca um humanismo + (h+) que estará para além do humanismo: o trans-humanismo.
2) Observando os animais e alguns dos seus órgãos e capacidades, e servindo-se de novas tecnologias e avanços científicos, o homem propõe-se agora acrescentar ou mudar os seus sentidos, eliminar a dor e o cansaço, adiar e até erradicar a morte.
3) O humanismo terminou, começou o tempo do transhumanismo, uma nova era, um modo diferente de viver e conviver.

Breves comentários e opiniões:

1) O homem deixou de estar satisfeito por ser como é desde o pecado original. “Necessitou” logo de folhas que cobrissem a sua nudez. Ao querer ser +, perdeu segurança (“A mulher que me deste tentou-me”), perdeu resistência (trabalharia com fadiga), ganhou dor (a mulher dará à luz com dor)... Mudou de habitat: foi expulso do paraíso. Nada de novo, portanto.

2) As notícias de investigações, estudos e experiências que nos chegam pela Internet já nos dão alguma ideia daquilo que já começou a acontecer. Por exemplo: há quem tenha implantes nos antebraços para sentir os abalos de terra que acontecem no nosso mundo; já se fez pelo menos um implante de antena ligada ao cérebro que permite a um daltónico “ouvir”, sim, ouvir as cores. O transhumanismo prevê a mudança e aumento do número de sentidos. Este daltónico pode afirmar que “o vermelho tem um som agradável, ou grave, ou rouco...”! No entanto, os daltónicos conseguem ver coisas que pessoas ditas “normais” não vêem.

3) Por enquanto, na prática, o transhumanismo só é alcançável a milionários que possam aceder a tecnologias muito dispendiosas e a profissionais que se “esquecem”, ou deixam de reconhecer, quais são os atos éticos. Torna-se patente, assim, que o transhumanismo conduza a uma maior diferença de classes: uma cada vez mais rica e com maiores capacidades (braços de ferro, microfones, chips, etc. inseridos no corpo), inteligência artificial, membros ligados a baterias, antenas conectadas com satélites, etc., etc.; e outra classe incompreendida e explorada por falta de meios.

O mundo ideal para todos não é possível. Em cada época surgirão sempre novas ideias. No entanto, o humanismo, entendendo como tal a aceitação de cada homem como pessoa, com a sua identidade e capacidade de entender (ciência, técnica) e de amar (pensar no outro para o proteger e servir) já nos ofereceu pessoas exemplares. Vem-me à mente o caso inspirador de Helen Keller, a pequena americana que, após padecer uma escarlatina que quase a levou à morte, ficou cega, surda e muda. Os pais, ricos, contrataram, para educar a sua filha, outra pessoa notável - Anne Sullivan – também ela com problemas de visão. Helen veio a tornar-se uma cidadã ativa que desenvolveu várias iniciativas de apoio a deficientes: bibliotecas em Braile, lares e escolas para crianças com dificuldades, formação de professores especializados, encontros de médicos, físicos e cientistas vários para trocarem experiências, etc.

Sim, o avanço da ciência é algo bom, mesmo muito bom. E se vier acompanhado pelo amor à humanidade, torna-se excelente.

Isabel Vasco Costa 



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