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sexta-feira, 2 de maio de 2014

Há menos casamentos na Coreia e por isso baptizam-se manos adultos… Mas ainda são quase 100.000 por ano

O Papa visita em Agosto o país com mais baptismos de adultos 

Wedding Scheme é uma popular comédia romântica na
Coreia - os casamentos são uma chave do crescimento
católico no país
Actualizado 24 de Abril de 2014

Pablo J. Ginés/ReL

Há um par de anos explicávamos em ReL "Como consegue a Igreja da Coreia mais de 100.000 baptismos de adultos por ano?"

A resposta era que neste país dinâmico que o Papa visitará no Verão "o que se converte sabe que deve comprometer-se num dos grupos ou movimentos, não se admitem católicos passivos. Os casamentos mistos, o prestígio do catolicismo e o compromisso dos laicos perfilam a Igreja mais evangelizadora do mundo".

Uma Igreja que cresce
Os bispos coreanos acabam de publicar os dados completos de estatísticas das suas igrejas actualizados à data de 31 de Dezembro de 2013. A comunidade católica cresceu com o baptismo de 25.589 recém-nascidos e o de 93.241 mais velhos (pelo geral são adultos, alguns podem ser adolescentes ou crianças mais velhas). Há quase 4 novos cristãos adultos por cada bebé recém-baptizado, cifras insólitas em países de tradição cristã.

A Igreja continua crescendo na Coreia mais que em nenhum outro lugar com baptismos de adultos, ainda que este ano se baixou da cifra simbólica dos "cem mil", por uma razão demográfica: houve menos casamentos, concretamente 6,2% menos que em 2012.

A Igreja celebrou 19.400 matrimónios, dos que quase 6.000 são mistos, quer dizer, com um cônjuge não baptizado. Quase todos estes cônjuges não baptizados se baptizam em poucos anos.

Em 2011 celebraram-se 20.000 matrimónios católicos na Coreia e 12.000 incluíam um cônjuge não cristão: o dobro que em 2013!

O bispo de Daejeon, Lázaro You Heung-sik, explicava em 2012 à agência missionária AsiaNews que "o sacramento nupcial converte-se num caminho até à conversão; posso dizer com gozo que depois de um ano de vida casada quase sempre chega um novo bautismo de adultos a essas famílias". Em 2011, só em Daejeon, baptizaram-se 7.000 adultos (o dobro que em toda a França) e celebraram-se 100 matrimónios mistos. E depois da conversão, chegam os filhos.

O véu continua sendo habitual nas paróquias
coreanas, inclusive com calças muito
informais

Meio século de grande mudança
Para por em perspectiva há que recordar que há apenas 50 anos, em 1960, sete anos depois da Guerra da Coreia, só 2% dos coreanos eram cristãos. Hoje o são quase um de cada três.

Numa população de 48 milhões de habitantes, 5,44 milhões são católicos (10% dos coreanos). A Igreja cresceu 1,5% num ano. Será interessante ver se há um efeito "Papa Francisco" quando o Pontífice chegado da longínqua Argentina visite o país este Verão.

Além disso, Francisco beatificará mais de 100 mártires coreanos, o que mostrará ao país que se trata de uma fé enraizada já no seu povo e na sua história.

Ao começar os anos 60 na Coreia, só havia 250 sacerdotes católicos coreanos, mas deram fruto: hoje são 4.900 e exportam missionários para todo o mundo.

O melhor missionário, o católico a pé
Os melhores "missionários" coreanos são os católicos a pé, laicos que evangelizam as suas famílias e amigos. Há um desequilíbrio entre homens e mulheres católicos: elas são quase 60% dos católicos.

O factor feminino favorece a expansão da fé: elas são as que transmitem a fé aos filhos, as que se animam a ter mais filhos... E as que convertem os seus namorados. Como no resto do mundo, casar-se com um católico é um "empurrão final" (às vezes inicial) para adoptar a fé. 

Cada católico num movimento
Além disso, os convertidos não são tímidos: a Igreja é muito exigente na Coreia, e as pessoas respondem com compromissos fortes.

"Hoje na Coreia o que se converte sabe que deve comprometer-se num dos grupos, associações ou movimentos paroquiais. Não é admitido o católico passivo", escrevia em 2012 o missionário Piero Gheddo em Avvenire. Na sua visita a Seúl há uns anos, este missionário descobriu a forma de trabalho: paróquias com 8 cursos de catequese, catecumenados de 1 ano que depois do baptismo ingressavam o neófito em algum movimento imediatamente, sendo a Legião de Maria um dos mais activos.

"Abraçar o cristianismo na Coreia significa entrar num grupo que te compromete a fundo, te dá normas de comportamento e de compromisso, te faz pagar as quotas de participação e te dá as orações para rezar todos os dias. Quando se entra na Igreja aceita-se tudo isto. Este é o espirito coreano: ou aceitas e te comprometes ou não aceitas e te vais", explicou ao padre Gheddo o pároco Paul Kim Bo Rok.

Uma religião para tempos modernos

Os cristãos têm boa fama na Coreia. Católicos e protestantes negaram-se a queimar incenso e adorar como Deus o imperador do Japão durante a ocupação japonesa na Segunda Guerra Mundial, e ganharam a admiração dos seus compatriotas. Também se mostraram defensores das liberdades durante as ditaduras militares posteriores.

O cristianismo atrai, segundo o secretário da Conferência Episcopal, Simon E. Chen, porque "introduz a ideia de igualdade de todos os seres humanos, criados por um único Deus", que além disso é "um Deus feito pessoa".

Muitos coreanos urbanos, cultos, sentem que as velhas vias do budismo, o confucionismo e o xamanismo local não encaixam na sua vida, enquanto o cristianismo oferece comunidade real, compromisso, participação e sentido.

Curso para evangelizadores em cada paróquia

Ambição evangelizadora não falta na Coreia. Na capital, quase 14% da população já é católica. A Igreja decretou o "Plano 20-20", que consiste em tentar que em 2020 sejam católicos 20% dos coreanos. Não parece factível, mas isso não os detém. "Na minha diocese oferecemos um curso em cada paróquia ensinando os laicos a proclamar o Evangelho, e está dando frutos", explica o bispo de Daejeon.

A incógnita da Coreia do Norte

A Igreja calcula que antes da Guerra de Coreia (1950-1953), havia uns 55.000 católicos na Coreia do Norte. Na diocese norte coreana de Pyongyang havia uns 20 sacerdotes.

Ficam sete deles activos, vivendo no Sul.

O ancião padre Mateo Hwang In-kuk, nascido em 1936 e fugido de Pyongyang com 14 anos, é (para a Igreja) o vigário episcopal da capital do Norte. Não pode pastorear os católicos da sua diocese mas desde 2009 treina no sul a fornada de sacerdotes que querem ser missionários voluntários no norte, num programa de 10 anos de treinamento sacerdotal e missionário. Se abrirá o norte em 2019? "Nós, os velhos sacerdotes do norte, talvez estaremos mortos, mas os nossos estudantes espero que não o estejam", disse o padre Hwang.


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