Pelos muros da capela da Domus Sanctae Marthae, ressoou nesta segunda-feira (11) as palavras do Papa Francisco contra a corrupção
Roma, 12 de Novembro de 2013
Pelos muros da capela da Domus Sanctae Marthae, ressoou
nesta segunda-feira (11) uma crítica contundente de Francisco, já
manifestada em páginas escritas em 2005, quando Bergoglio ainda era o
arcebispo de Buenos Aires, e recolhidas no livro "A cura da corrupção".
O cardeal Bergoglio falava então de uma corrupção que é "o joio do
nosso tempo", que "se alimenta de aparência e de aceitação social, se
ergue como medida da acção moral e pode consumir a partir de dentro", até
causar uma "esclerose do coração" do homem ou da própria Igreja. Se as
palavras do arcebispo de Buenos Aires já tinham abalado muitas
consciências, sua reproposição, agora, na sua qualidade de Sumo
Pontífice da Igreja Universal, assume um valor diferente: o valor de uma
denúncia, alta e clara, contra uma atitude que é mais ínfima e
desprezível do que o próprio pecado.
De fato, diz o papa, é quase melhor definir a nós próprios como
pecadores do que como corruptos. Porque "aquele que peca e se arrepende
pede perdão, se sente frágil, se sente filho de Deus, se humilha e pede a
salvação de Jesus". Mas quem é corrupto "escandaliza" não pelas suas
culpas, diz o Santo Padre, mas porque "não se arrepende", "continua a
pecar, e, mesmo assim, finge que é cristão". É alguém que leva, enfim,
uma "vida dupla". E isso "faz muito mal" para a Igreja, para a sociedade
e para o próprio homem.
“É inútil que alguém diga ‘Eu sou um benfeitor da Igreja! Eu coloco a
mão no bolso e ajudo a Igreja’, se depois, com a outra mão, rouba do
Estado, rouba dos pobres [...] É injusto", diz Bergoglio, recordando o
que diz Jesus no Evangelho de hoje sobre quem é causa de escândalo:
"Mais vale a esse que lhe pendurem uma pedra de moinho ao pescoço e seja
lançado ao mar!".
"Aqui não se fala de perdão", observa o papa, o que esclarece ainda
mais a diferença entre corrupção e pecado. Jesus "não se cansa de
perdoar", explica Francisco, e nos exorta a perdoar até sete vezes por
dia o irmão que se arrepende. No mesmo Evangelho, porém, Cristo adverte:
"Ai daquele que provoca escândalos!". Jesus "não está falando de
pecado, mas de escândalo, que é outra coisa", ressalta o papa, "e
acrescenta que é melhor que lhe coloquem no pescoço uma pedra de moinho e
o joguem no mar do que causar escândalo a um só destes pequeninos".
Quem escandaliza engana, e "onde há engano não há o Espírito de Deus
[...] Esta é a diferença entre o pecador e o corrupto": quem leva "vida
dupla é corrupto"; quem "peca, mas gostaria de não pecar", é apenas
"fraco": este "recorre ao Senhor" e pede perdão. "Deus o ama, o
acompanha, está com ele".
Todos nós “devemos nos reconhecer pecadores. Todos nós". Mas "o
corrupto está amarrado a um estado de suficiência, não sabe o que é a
humildade". Jesus chamava esses corruptos de "hipócritas", ou, pior
ainda, de "sepulcros caiados", que parecem "bonitos por fora, mas por
dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão".
Bergoglio vai fundo e afirma: "Uma podridão vernizada: esta é a vida
dos corruptos. E um cristão que se gaba de ser cristão, mas que não leva
vida de cristão, é um desses corruptos", acrescenta.
"Nós todos conhecemos alguém que está nesta situação: cristãos
corruptos, padres corruptos... Quanto mal eles causam à Igreja, porque
não vivem no espírito do Evangelho, mas no espírito da mundanidade".
Mundanidade que é um perigo a respeito do qual São Paulo já alertava os
cristãos de Roma, escrevendo: "Não se conformem com a mentalidade deste
mundo". Comenta o Santo Padre: "Na verdade, o texto original é mais
forte, porque nos diz para não entrarmos nos esquemas deste mundo, nos
parâmetros deste mundo, ou no mundanismo espiritual".
As homilias do papa Francisco na Casa Santa Marta já não se limitam a
usar metáforas simpáticas para aguçar as consciências embaçadas dos
fiéis. Depois da dura homilia de hoje e do alerta feito na última
sexta-feira aos devotos da "deusa tangente", as suas críticas se
tornaram implacáveis, porque o que está em jogo é a vida e a alma das
pessoas.
Como bom pastor, o papa tem o dever de guiar o seu rebanho pelo
caminho que leva até Deus. Por isso, no final de um sermão que foi mais
forte que o habitual até aqui, ele ressaltou a esperança e recordou que
Cristo "não se cansa nunca de perdoar, mas com a condição de não
querermos levar uma vida dupla, de irmos até Ele arrependidos:
‘perdoa-me, Senhor, eu sou um pecador’". E conclui: "Peçamos hoje a
graça do Espírito Santo, que foge de todo engano, a graça de nos
reconhecermos pecadores: somos pecadores. Pecadores, sim. Corruptos,
não".
in
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