Megan Hodder baptizou no Pentecostes
Actualizado 24 de Maio de 2013
P. J. Ginés/ReL
Megan Hodder é inglesa, tem 21 anos e é uma leitora voraz. Desde este Pentecostes, também é católica, recém-baptizada.
Há dois ou três anos ninguém poderia tê-lo previsto, porque Megan não recebeu absolutamente nenhuma educação cristã e de facto lia com assiduidade e disfrute os autores de divulgação do "novo ateísmo" grosseiro: Dawkins, Harris, Hitchens...
Mas tudo mudou quando decidiu que para poder zombar da Igreja Católica, grande símbolo da irracionalidade, devia ler directamente Bento XVI. E aí foi onde começou uma conversão marcada pela lógica, a razão e o pensamento.
Crescer depois do 11-S
"Fui educada sem religião alguma, e tinha 8 anos quando sucedeu o atentado das Torres Gémeas de 11 de Setembro, em 2001. A religião era irrelevante na minha vida pessoal, e durante os meus anos formativos a religião só trazia uma conotação de notícias sobre violência e extremismo", assinala no seu testemunho no The Catholic Herald.
Megan é representativa de uma geração jovem que cresceu lendo a autores como Dawkins, Harris e Hitchens, que com estilo divulgativo asseguram que a religião é a causa de quase todos os males do mundo, que o terrorismo islâmico é a prova e que o cristianismo é quase o mesmo.
Mas ainda em adolescente, Megan entendeu que tinha que ler mais além dos polémicos do novo ateísmo. Decidiu documentar-se sobre "os mais egrégios inimigos da razão, como os católicos", para refutá-los na sua ignorância.
Uma fé compatível com a razão
E o primeiro que fez foi ler o famoso discurso de Ratisbona de Bento XVI, que defendia a razão frente à fé cega. A forma como a BBC em línguas asiáticas difundiu este discurso em países islâmicos causou grandes manifestações anticristãs, com violência e vítimas mortais.
Também leu o livro mais curto que pode encontrar de Bento XVI: "Sobre a consciência".
"Esperava e desejava mostrar a sua irracionalidade e os seus prejuízos, para vindicar o meu ateísmo. Pelo contrário, apresentou-me um Deus que era o Logos; não um ditador sobrenatural que esmaga a razão humana; mas sim o standard de bondade e verdade objectiva, que se expressa a Si Mesmo, que é voltada para a nossa razão, no qual ‘logar’ a sua plenitude; uma entidade que não controla a nossa moral roboticamente, mas sim que é a fonte da nossa percepção moral..."
O caso é que o que Megan encontrava não era o que os autores do "novo ateísmo" lhe tinham dito. "Era uma percepção da fé mais humana, subtil e, sim, credível, do que esperava. Não me conduziu a uma epifania espiritual dramática, mas animou-me a procurar mais no catolicismo, a reexaminar com um olho mais crítico alguns dos problemas que tinha com o ateísmo".
Os problemas da moral sem Deus
Para começar, a moralidade. Megan entendia que uma moralidade sem Deus tem duas tendências problemáticas: ou é tão subjectiva que é absurda, ou tenta seguir uma suposta lógica estrita que leva a resultados tão desumanizadores que repugnam ao instinto.
As teorias éticas que melhor superam estes problemas, entendeu, eram teístas, e depois de ler Bento XVI o teísmo não parecia tão absurdo.
Dawkins não entende Tomás de Aquino
Outro problema com o "novo ateísmo" é a metafísica. "Logo vi que ter confiado nos novos ateus para ter argumentos contra a existência de Deus foi um erro, porque Dawkins, por exemplo, faz um tratamento desdenhoso de São Tomás de Aquino no A Miragem de Deus, Dawkins só aborda um resume das Cinco Vias e sem entender o que trazem. Voltei-me para as ideias tomistas e aristotélicas, e vi que eram uma explicação válida do mundo natural, uma explicação que os filósofos ateus não tinham sabido atacar de forma coerente", escreve Megan.
Megan procurou incoerências e inconsistências na fé católica, mas teve que admitir que uma vez que se aceita a sua estrutura e conceitos básicos, tudo encaixa "com terrorífica velocidade".
O grande obstáculo: a moral sexual
Por exemplo, a exigente moral sexual católica tinha todo o sentido quando a abordava segundo os textos da "teologia do corpo" de João Paulo II. A ideia básica a dava George Weigel em "Cartas a um jovem católico", quando disse: "as coisas importam". No catolicismo o sexo importa, o corpo importa, a vida e a fertilidade importam, o que se faz é importante, tem consequências e expressa algo.
"A ética sexual católica não é uma lista de proibições, como disse a caricatura", escreveria Megan no seu blogue. "É o reconhecimento de que há uma harmonia entre Deus e a humanidade incrustada no mundo material, que se manifesta de forma assombrosa e aguda na complementaridade entre o homem e a mulher e o seu chamado a ser uma só carne".
Megan, que cresceu numa Inglaterra de absoluta liberdade sexual, assinala "o facto de que as falhas contraceptivas jogam um papel em quase dois terços dos abortos no Reino Unido, e as enfermidades de transmissão sexual tem níveis altos, históricos", para indicar o fracasso do "sexo-sem-consequências".
Também desde o feminismo, constata que a cultura pansexualista converteu a mulher num mero objecto, não um igual, e que desconhece a realidade da fertilidade feminina e os seus ritmos naturais.
A "teologia do corpo" e a ética sexual católica oferecem assim "um modelo de relações humanas que é seguro, sustentável e comprometido, sobre bases sólidas, ordenado até à unidade e à vida. O ideal católico das relações humanas é um desafio exigente, mas é um desafio até à excelência, para ser fiéis às nossas necessidades reais e às dos nossos companheiros".
É a vontade, não só o intelecto
Megan deu-se conta de que os livros o levavam à fé, mas que "a fé não é um exercício intelectual, um assentir a acertar proposições, mas sim um acto radical da vontade, que engendra toda uma mudança na pessoa". Comtemplou como eram os católicos que conhecia, gostou e deu o passo.
No fim-de-semana de Pentecostes de 2013, Megan baptizou-se e entrou assim na Igreja Católica.
Hoje assinala que "por cada ateu considerado e documentado, há outro sem nenhuma experiência pessoal em nada irreligioso, nem interesse no debate, que simplesmente se deixa levar pela corrente cultural. Espero ser um exemplo, ainda que seja pequeno, da atracção do catolicismo numa era que às vezes parece oposta a ele de forma intratável".
Actualizado 24 de Maio de 2013
P. J. Ginés/ReL
Megan Hodder é inglesa, tem 21 anos e é uma leitora voraz. Desde este Pentecostes, também é católica, recém-baptizada.
Há dois ou três anos ninguém poderia tê-lo previsto, porque Megan não recebeu absolutamente nenhuma educação cristã e de facto lia com assiduidade e disfrute os autores de divulgação do "novo ateísmo" grosseiro: Dawkins, Harris, Hitchens...
Mas tudo mudou quando decidiu que para poder zombar da Igreja Católica, grande símbolo da irracionalidade, devia ler directamente Bento XVI. E aí foi onde começou uma conversão marcada pela lógica, a razão e o pensamento.
Crescer depois do 11-S
"Fui educada sem religião alguma, e tinha 8 anos quando sucedeu o atentado das Torres Gémeas de 11 de Setembro, em 2001. A religião era irrelevante na minha vida pessoal, e durante os meus anos formativos a religião só trazia uma conotação de notícias sobre violência e extremismo", assinala no seu testemunho no The Catholic Herald.
Megan é representativa de uma geração jovem que cresceu lendo a autores como Dawkins, Harris e Hitchens, que com estilo divulgativo asseguram que a religião é a causa de quase todos os males do mundo, que o terrorismo islâmico é a prova e que o cristianismo é quase o mesmo.
Mas ainda em adolescente, Megan entendeu que tinha que ler mais além dos polémicos do novo ateísmo. Decidiu documentar-se sobre "os mais egrégios inimigos da razão, como os católicos", para refutá-los na sua ignorância.
Uma fé compatível com a razão
E o primeiro que fez foi ler o famoso discurso de Ratisbona de Bento XVI, que defendia a razão frente à fé cega. A forma como a BBC em línguas asiáticas difundiu este discurso em países islâmicos causou grandes manifestações anticristãs, com violência e vítimas mortais.
Também leu o livro mais curto que pode encontrar de Bento XVI: "Sobre a consciência".
"Esperava e desejava mostrar a sua irracionalidade e os seus prejuízos, para vindicar o meu ateísmo. Pelo contrário, apresentou-me um Deus que era o Logos; não um ditador sobrenatural que esmaga a razão humana; mas sim o standard de bondade e verdade objectiva, que se expressa a Si Mesmo, que é voltada para a nossa razão, no qual ‘logar’ a sua plenitude; uma entidade que não controla a nossa moral roboticamente, mas sim que é a fonte da nossa percepção moral..."
O caso é que o que Megan encontrava não era o que os autores do "novo ateísmo" lhe tinham dito. "Era uma percepção da fé mais humana, subtil e, sim, credível, do que esperava. Não me conduziu a uma epifania espiritual dramática, mas animou-me a procurar mais no catolicismo, a reexaminar com um olho mais crítico alguns dos problemas que tinha com o ateísmo".
Os problemas da moral sem Deus
Para começar, a moralidade. Megan entendia que uma moralidade sem Deus tem duas tendências problemáticas: ou é tão subjectiva que é absurda, ou tenta seguir uma suposta lógica estrita que leva a resultados tão desumanizadores que repugnam ao instinto.
As teorias éticas que melhor superam estes problemas, entendeu, eram teístas, e depois de ler Bento XVI o teísmo não parecia tão absurdo.
Dawkins não entende Tomás de Aquino
Alguns livros de São Tomás, a teologia do corpo de João Paulo II e Bento XVI que leu Megan |
Megan procurou incoerências e inconsistências na fé católica, mas teve que admitir que uma vez que se aceita a sua estrutura e conceitos básicos, tudo encaixa "com terrorífica velocidade".
O grande obstáculo: a moral sexual
Por exemplo, a exigente moral sexual católica tinha todo o sentido quando a abordava segundo os textos da "teologia do corpo" de João Paulo II. A ideia básica a dava George Weigel em "Cartas a um jovem católico", quando disse: "as coisas importam". No catolicismo o sexo importa, o corpo importa, a vida e a fertilidade importam, o que se faz é importante, tem consequências e expressa algo.
"A ética sexual católica não é uma lista de proibições, como disse a caricatura", escreveria Megan no seu blogue. "É o reconhecimento de que há uma harmonia entre Deus e a humanidade incrustada no mundo material, que se manifesta de forma assombrosa e aguda na complementaridade entre o homem e a mulher e o seu chamado a ser uma só carne".
Megan, que cresceu numa Inglaterra de absoluta liberdade sexual, assinala "o facto de que as falhas contraceptivas jogam um papel em quase dois terços dos abortos no Reino Unido, e as enfermidades de transmissão sexual tem níveis altos, históricos", para indicar o fracasso do "sexo-sem-consequências".
Também desde o feminismo, constata que a cultura pansexualista converteu a mulher num mero objecto, não um igual, e que desconhece a realidade da fertilidade feminina e os seus ritmos naturais.
A "teologia do corpo" e a ética sexual católica oferecem assim "um modelo de relações humanas que é seguro, sustentável e comprometido, sobre bases sólidas, ordenado até à unidade e à vida. O ideal católico das relações humanas é um desafio exigente, mas é um desafio até à excelência, para ser fiéis às nossas necessidades reais e às dos nossos companheiros".
É a vontade, não só o intelecto
Megan deu-se conta de que os livros o levavam à fé, mas que "a fé não é um exercício intelectual, um assentir a acertar proposições, mas sim um acto radical da vontade, que engendra toda uma mudança na pessoa". Comtemplou como eram os católicos que conhecia, gostou e deu o passo.
No fim-de-semana de Pentecostes de 2013, Megan baptizou-se e entrou assim na Igreja Católica.
Hoje assinala que "por cada ateu considerado e documentado, há outro sem nenhuma experiência pessoal em nada irreligioso, nem interesse no debate, que simplesmente se deixa levar pela corrente cultural. Espero ser um exemplo, ainda que seja pequeno, da atracção do catolicismo numa era que às vezes parece oposta a ele de forma intratável".
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