O papa Francisco pede que os redactores da Civiltà Cattolica "construam pontes" para colaborar com o "bem comum", mantendo o olhar "bem fixo em Cristo"
Roma, 14 de Junho de 2013
Para a Civiltà Cattolica, foi um momento histórico:
nesta manhã, na Sala dos Papas do Palácio Apostólico Vaticano, os redactores da histórica revista dos jesuítas se encontraram pela primeira
vez com um papa da sua própria congregação.
Antes de receber em audiência a Comunidade dos Escritores,
acompanhado pelas freiras e pelo pessoal administrativo, Francisco teve
uma conversa privada com o director da Civiltà Cattolica, o pe. Antonio Spadaro, SJ.
Durante o discurso a toda a comunidade, o Santo Padre recordou que,
diversas vezes, recebendo em audiência as equipes da revista que se
sucederam pelas décadas afora, seus antecessores já reconheciam que o
elo que liga a revista ao Romano Pontífice foi sempre um "traço
essencial" da publicação dos jesuítas.
O papa Francisco expôs aos irmãos a sua usual tríade de conceitos em estilo inaciano. Em primeiro lugar, ele falou de "diálogo".
Se em seu nascimento, 163 anos atrás, a Civiltà Cattolica
era conhecida pelo estilo combativo, "em sintonia com o clima geral da
época", o passar dos anos e das décadas viu a revista se caracterizar
por "uma rica variedade de posições, devidas tanto à evolução das
circunstâncias históricas quanto à personalidade dos escritores", com
uma base essencial firme constituída pela "fidelidade à Igreja" que,
ainda hoje, exige "ser duros contra as hipocrisias, fruto de um coração
fechado, doente".
A vocação da Civiltà Cattolica –e da Companhia de Jesus em
geral– não é, porém, a de "construir muros, e sim pontes", ou
"estabelecer um diálogo com todos os homens, inclusive com aqueles que
não compartilham a fé cristã" ou até a perseguem.
"Diálogo significa estar convencidos de que o outro tem algo bom a
dizer; abrir espaço para o seu ponto de vista, para a sua opinião, para
as suas propostas, sem cair, é claro, no relativismo", disse o papa.
Para dialogar, é necessário "baixar a guarda e abrir as portas",
acrescentou.
Francisco pediu aos escritores da Civiltà Cattolica que
continuem o "diálogo com as instituições culturais, sociais e
políticas", para que, juntos, todos cooperem para o "bem comum". A
civilização católica, acrescentou ele, é "a civilização do amor, da
misericórdia e da fé".
A segunda palavra-chave é "discernimento", ou a capacidade de "reunir
e expressar as expectativas, os desejos, as alegrias e os dramas do
nosso tempo, e de oferecer os elementos para uma leitura da realidade à
luz do Evangelho".
Em outras palavras, é necessário que alguém "interprete" e "entenda"
as "grandes questões espirituais", de acordo com o espírito de Santo
Inácio: "procurar e encontrar a Deus em todas as coisas".
O zelo que os jesuítas sempre demonstraram em todos os campos do
conhecimento humano deve apoiar-se na "especial atenção à verdade, à
bondade e à beleza de Deus, preciosos aliados no esforço por defender a
dignidade do homem, construir uma coexistência pacífica e cuidar bem da
criação", destacou o pontífice.
Nesta busca, o olhar deve ser mantido "bem fixo em Cristo", e, ao
mesmo tempo, ser "profético e dinâmico ao mirar o futuro", evitando a
"doença espiritual da autor-referência", por culpa da qual, às vezes, a
Igreja também "fica doente" e "envelhece".
A terceira palavra-chave mencionada pelo papa é "fronteira". Entrando no vivo debate cultural contemporâneo, a Civiltà Cattolica é chamada a contribuir para curar o "drama" da "ruptura entre o evangelho e a cultura".
Na esteira das palavras do papa emérito Bento XVI, que enfatizou a
presença activa dos jesuítas "nos campos mais difíceis", "nas
encruzilhadas das ideologias" e "nas trincheiras sociais", Francisco
recomendou aos seus irmãos da Civiltà Cattolica “ser homens de fronteira, com aquela capacidade que vem de Deus (cf. 2 Cor 3,6)”.
Sublinhando as mudanças no layout e o lançamento da nova versão digital da Civiltà Cattolica, o Santo Padre acrescentou: "Essas também são fronteiras em que vocês são chamados a trabalhar. Sigam em frente nessa estrada".
A Civiltà Cattolicaé “uma revista única em seu género”, uma
espécie de "coro" em que "cada um tem a própria voz, mas em harmonia com
a voz dos outros", disse o papa Francisco, antes de fazer a sua
exortação final: "Queridos irmãos e irmãs, coragem! Eu tenho certeza de
que posso contar com vocês".
in
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