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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Fome no mundo: não bastam "promessas" nem "boa vontade"

Papa Francisco recebe em audiência os participantes da 38ª Sessão da FAO e recomenda o exemplo do Bom Samaritano


Cidade do Vaticano, 20 de Junho de 2013


As soluções possíveis para a crise económica e alimentar são muitas e "não se limitam ao aumento da produção", afirmou o papa Francisco na manhã de hoje, ao receber em audiência, na Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano, os participantes da 38ª Sessão da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), que acontece em Roma de 15 a 22 de Junho.

O fato de ainda existirem milhões de pessoas passando fome "é um verdadeiro escândalo", afirma o papa. É preciso que "todos se beneficiem dos frutos da terra" de modo mais justo e igualitário.

O compromisso com os pobres e famintos do mundo, disse Francisco, não pode ser tratado "só com boa vontade" ou, pior ainda, com "promessas" que, muitas vezes, não são honradas. Nem a crise actual pode se tornar uma "desculpa" para a inacção: ela não será superada se "as situações e condições de vida não forem levadas em consideração através do parâmetro da pessoa humana e da sua dignidade".

No contexto internacional actual, a pessoa e a sua dignidade não podem ser apenas um "simples reclame", e sim "pilares sobre os quais construir regras comuns e estruturas que, superando o pragmatismo e os dados meramente técnicos, sejam capazes de eliminar as divisões e preencher as lacunas".

Devem ser superados "os míopes interesses económicos e as lógicas do poder de poucos", que produzem "efeitos desagregadores na sociedade". É necessário, ainda, combater a corrupção, que "produz privilégios para alguns e injustiça para muitos".

A crise económica, embora ligada certamente a "factores financeiros e económicos", também é "resultado de uma crise de convicções e de valores, incluindo aqueles que formam a base da vida internacional". Neste cenário, exige-se um "trabalho consciente e sério de reconstrução, que também cabe à FAO".

A reforma iniciada para garantir "uma gestão mais funcional, transparente e equitativa" é um "fato positivo", mas também é importante “obter uma consciência maior da responsabilidade individual, reconhecendo-se que o próprio destino está ligado ao dos outros”, disse o papa.

Exemplar, neste sentido, é o episódio evangélico do Bom Samaritano (cf. Lc 10,25-37), que ajuda o seu próximo não "como esmola ou por ter dinheiro sobrando", mas porque "quer compartilhar o seu destino". Depois de deixar dinheiro para o ferido, ele promete "voltar a encontrá-lo para certificar-se de que está curado".

À FAO, aos seus países membros e a todas as instituições da comunidade internacional, o papa Francisco pediu um "coração aberto", uma superação da tentação de "olhar para o outro lado" e um incentivo a "prestar atenção às necessidades imediatas, com a confiança de que, no futuro, os resultados da acção de hoje podem amadurecer".

Um dos principais efeitos das graves crises alimentares, acrescentou o pontífice, "é o desenraizamento de pessoas, famílias e comunidades do seu ambiente": trata-se de uma "separação dolorosa", que não diz respeito apenas à "terra natal", mas se estende ao "âmbito existencial e espiritual", minando as poucas certezas que se tinham.

Neste processo, "que já se tornou global", as relações internacionais devem restaurar "a referência aos princípios éticos que as regulam e redescobrir o espírito autêntico de solidariedade que pode tornar eficazes todas as actividades de cooperação".

Por esta razão, explicou o Santo Padre, foi decidido "dedicar o próximo ano à família rural", uma vez que a família é "o lugar principal do crescimento de cada indivíduo", no qual o ser humano "se abre à vida e à natural exigência de se relacionar com os outros".

Os laços familiares, além disso, são "essenciais para a estabilidade das relações sociais, para a função educativa e para o desenvolvimento integral", porque são "animados pelo amor, pela solidariedade responsável entre as gerações e pela confiança mútua".

A promoção de uma "cultura de encontro e de solidariedade" deve também envolver um organismo como a FAO. Seus países membros devem ter "pleno conhecimento das situações, adequada preparação e ideias capazes de incluir cada pessoa e cada comunidade".

Só assim será possível "combinar o desejo de justiça de mil milhões de pessoas com as situações concretas que a vida real apresenta", concluiu o papa.



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