Para se construir um País melhor não é necessário destruir o que temos agora
Roma, 18 de Junho de 2013
Segundo as declarações[i] de alguns organizadores dos actuais protestos no Brasil, podemos perceber que as manifestações estão
sendo organizadas por grupos de profunda inspiração marxista, que
julgam que o actual governo não é tão radical como deveria ser[ii].
Por isso, pretendem mudar todo o sistema, aproveitando-se de pessoas de
boa vontade, que justamente querem mudanças na vida social. Assim,
pessoas bem intencionadas são usadas por grupos radicais que analisam a
realidade de modo dialéctico e que, no fundo, pretendem uma revolução
violenta, popular e nada democrática. Algo de semelhante ocorre em
diversos países do mundo. Como esses grupos radicais não ganham
suficientes votos, pretendem impor suas ideias por meio da força de
alguns “heróis” e pela manipulação emotiva das grandes massas.
Sendo assim, agem transmitindo a ideia de que farão uma
manifestação pacífica, incitando os sentimentos e a boa vontade de
muitos. Atraem muita gente que realmente se manifesta de modo pacífico;
porém, em certo momento, acabam utilizando métodos violentos para sofrer
uma justa resposta das ordens de segurança e se apresentarem como
vítimas do Estado repressor. O objectivo é desestabilizar os governos e
todos os partidos políticos, através da manipulação popular. Depois das
manifestações passam a ideia de que a violência não era intencional, mas
que foram pessoas “infiltradas” que a promoveram.
Em síntese, no actual momento devemos ter espírito crítico para
averiguar se os violentos são “aproveitadores” e “infiltrados” nas
manifestações, ou se são os seus mesmos organizadores, que se aproveitam
do apoio popular para justificar assim suas ideias e métodos
revolucionários.
De qualquer modo, sobre as manifestações populares, pode-se dizer que
em todos os países democráticos existem e deve ser protegido o direito
de se manifestar nas ruas: seja por meio de passeatas, seja por meio de
greves. Mas isso deve ser feito com ordem. Na prática significa:
1) As manifestações públicas devem ser programadas e devem contar com
a autorização do poder público. Devem ser em dia, hora e local
determinados. A polícia deve estar presente para garantir o direito das
pessoas se manifestarem, sem serem agredidas. Evidentemente, a polícia
também não pode ser agredida e os bens públicos ou privados não devem
ser destruídos ou danificados; para construir-se um País melhor não é
necessário destruir o que temos agora;
2) As manifestações não podem paralisar cidades inteiras, porque os
que tem o direito de protestar devem respeitar o direito de quem não
quer participar. O direito de protestar não pode negar a ninguém o
direito de ir e vir, por exemplo. Avenidas públicas importantes não
podem ser totalmente fechadas. Não pode ser impedida a circulação de
ambulâncias, da polícia, dos bombeiros ou de quem simplesmente não quer
participar nos protestos. Por isso, o ideal é que esses actos ocorram
nos domingos ou feriados;
3) As greves devem ser justas e, na medida do possível, criativas,
sem causar graves danos às empresas ou ao País. Na Itália, por exemplo,
recentemente um grupo de pedreiros fez uma greve trabalhando um dia na
reforma de praças públicas. Assim demonstravam que não falta trabalho e
que os trabalhadores devem ser valorizados.
Por fim, as manifestações devem ter objectivos concretos e
realizáveis. Reivindicar tudo significa o mesmo que reinvidicar nada,
pois se tudo é direito, nada é direito. Em palavras mais sábias e
claras: “Os direitos individuais, desvinculados de um quadro de deveres
que lhes confira um sentido completo, enlouquecem e alimentam uma
espiral de exigências praticamente ilimitada e sem critérios. A
exasperação dos direitos desemboca no esquecimento dos deveres. Estes
delimitam os direitos porque remetem para o quadro antropológico e ético
cuja verdade é o âmbito onde os mesmos se inserem e, deste modo, não
descambam no arbítrio. Por este motivo, os deveres reforçam os direitos e
propõem a sua defesa e promoção como um compromisso a assumir ao
serviço do bem. (...) A partilha dos deveres recíprocos mobiliza muito
mais do que a mera reivindicação de direitos” (Papa Bento XVI, Caritas in Veritate, n. 43).
[i] Cfr. http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1296139-ativista-do-movimento-passe-livre-diz-que-nao-negocia-trajeto-de-manifestacao.shtml
[ii] O “Movimento Passe Livre” que está organizando grandes
manifestações em São Paulo tem seu estatuto publicado na internet. Dizem
explicitamente que a “via parlamentar não deve ser o sustentáculo do
MPL, ao contrário, a força deve vir das ruas”. Afirmam que ter como
“perspectiva a mobilização dos jovens e trabalhadores pela expropriação
do transporte colectivo, retirando-o da iniciativa privada, sem indemnização, colocando-o sob o controle dos trabalhadores e da
população”. Cfr. http://mpl.org.br/node/1
in
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