Páginas

sábado, 25 de abril de 2015

A Cáritas pede que a União Europeia mude as suas políticas migratórias

Carta enviada aos chefes de Estado e de governo participantes no Conselho Europeu extraordinário


Madrid, 24 de Abril de 2015 (Zenit.org)


Os secretários gerais da Cáritas Internacional e da Cáritas Europa, Michel Roy e Jorge Nuño, enviaram uma carta aos chefes de Estado e de governo que participam da reunião do Conselho Europeu extraordinário. Eles pedem que “a União Europeia e seus países-membros mudem suas políticas migratórias”.

Bruxelas definiu ontem um plano para conter a chegada de imigrantes da África e do Oriente Médio via Mar Mediterrâneo e melhorar o resgate marítimo dos que sofrem naufrágio. Pressionados pelo drama do barco que afundou com centenas de pessoas a bordo na semana passada, os líderes europeus se reuniram em carácter de urgência e adoptaram um compromisso que combina medidas de solidariedade com outras que, no fundo, querem manter as tragédias afastadas da Europa.

A reunião evidenciou que, em vez de resolver os conflitos na África e no Oriente Médio, a Europa prefere conter os fluxos migratórios “tapando” as vias de saída. A UE oferecerá mais recursos a países como Tunísia, Sudão e Egipto para controlarem as suas fronteiras e evitarem que os imigrantes cheguem aos portos do Mediterrâneo.

Por outro lado, os chefes de Estado e de governo se comprometeram com um programa piloto para acolher refugiados já chegados ao continente. Eles poderão viver na Europa até que a situação melhore em seus países. Os líderes políticos definiram que todos os países-membros devem participar deste projecto e, diante da magnitude do desafio, a Comissão Europeia adiantará para 13 de maio a sua proposta de novo modelo para a política migratória.

Publicamos na íntegra a carta enviada pela Cáritas aos participantes da reunião:

* * *

Aos chefes de Estado e de Governo

Carta ao Conselho Europeu extraordinário, 23 de Abril de 2015

A tragédia ocorrida na costa da Líbia no sábado passado, quando quase 900 pessoas perderam a vida, causou comoção na Europa. As mortes em massa são um passo atrás no Projecto Europeu, baseado na solidariedade e na defesa da dignidade de cada ser humano. A União Europeia e seus países-membros precisam mudar as suas políticas migratórias.

O pior desastre marítimo registado no Mediterrâneo desde a Segunda Guerra Mundial dirige o foco de atenção à responsabilidade não só dos traficantes sem escrúpulos que embarcam essas pessoas, mas também da UE. Infelizmente, esta não é a primeira tragédia humana desta natureza e não será a última no futuro próximo.

Avaliamos positivamente o fato de os países-membros terem decidido agir rápido. Entretanto, os dez pontos de ação apresentados de forma conjunta em 20 de Abril pela Comissão de Assuntos Interiores e pela Comissão de Assuntos Exteriores do Conselho estão longe de ser uma solução efectiva.

Deve-se considerar uma operação de busca e resgate nas fronteiras exteriores como acção prioritária. Salvo por um pequeno esforço duplicando os recursos do Frontex, que não tem competência específica de salvamento, os países-membros continuam focando em medidas repressivas.

A luta contra os traficantes e o registo de todas as pessoas migrantes não são medidas para salvar vidas nem se voltam àquilo que a União Europeia pode e deve fazer: abrir canais seguros e legais para quem busca protecção ao fugir da guerra e da perseguição, e abrir vias legais para a imigração.

Recordamos aos líderes europeus que as suas declarações anteriores sobre "acções concretas para evitar a perda de vidas" (04/12/2013) não garantiram um número menor de mortos no Mediterrâneo. O dever de todos os países europeus é apresentar acções imediatas e de longo prazo que sustentem as suas declarações.

Apelamos aos líderes da UE para que, na reunião extraordinária do Conselho da UE desta quinta-feira, mostrem um compromisso claro para salvar vidas no Mediterrâneo e em todas as fronteiras da UE.

A Europa tem que substituir a Operação Tritão por uma operação de busca e resgate, que tenha os bons resultados da operação italiana Mare Nostrum realizada no final de 2014.

Saudações cordiais.

Michel Roy, secretário geral da Cáritas Internationalis
Jorge Nuño Mayer, secretário geral da Cáritas Europa

“É necessário enfrentar juntos a questão migratória. Não podemos tolerar que o Mar Mediterrâneo se transforme em um grande cemitério” (discurso do Papa Francisco ao Parlamento Europeu, 25 de Novembro de 2014)

Sem comentários:

Enviar um comentário